— Somos nós — ouviu dos ramos da maior das árvores.
— Vá até o pinheiro das fadas. Ele é sábio — disse a árvore menor. — Antes de ir, pegue algumas de nossas frutas!
— Mas não dizem por aí que as amoreiras que têm alma são conhecidas pela preocupação com suas frutas? — perguntou Nuramon, muito surpreso.
As folhas da árvore maior farfalharam.
— É verdade. Mas nós não somos como as nossas irmãs, desalmadas. Você irá encontrar Noroelle.
A árvore menor chacoalhou-se.
— Seria uma honra para nós que ela saboreasse as nossas frutas.
Duas amoras caíram diretamente sobre as mãos de Nuramon. A da árvore menor era vermelho-escura; a da maior, branca.
— Agradeço muito a vocês duas — disse Nuramon com a voz emocionada, pondo-se a caminho. Ele achava ter visto um pinheiro bem próximo da bétula.
Ao chegar ao pinheiro das fadas, lembrou-se delas. Quando era criança, brincava ali com as fadas das campinas. O pinheiro não era alto nem largo e na verdade era pouco vistoso. Mas era cercado de uma aura à qual nenhum frio resistia. Ele era dotado de um feitiço que o próprio Nuramon conhecia. O pinheiro tinha poderes de cura — ele sentia nitidamente.
Os seus galhos se moveram no vento.
— Quem é você que me incomoda? — sua copa sussurrou.
Um ruído instaurou-se em torno dele. Todos os lugares em que antes reinava o silêncio agora estavam tomados por sussurros.
— Quem é? — as árvores pareciam perguntar.
— Um elfinho de nada — foi a resposta.
O pinheiro das fadas pediu:
— Silêncio! Deixem-no responder!
— Eu sou só um humilde elfo — disse Nuramon. — E procuro a minha amada.
— Como você se chama, elfinho?
— Nuramon.
— Nuramon — ouviu soar de uma das copas. As outras árvores também murmuraram o seu nome.
— Já ouvi falar de você — esclareceu o pinheiro.
— De mim?
— Você mora numa casa na árvore, num carvalho que se chama Alaen Aikhwitan. A casa é feita da madeira que um dia já abrigou a alma da poderosa Ceren. Você conhece o Alaen Aikhwitan? E já ouviu falar em Ceren?
— Ceren eu não conheço, mas o Alaen Aikhwitan, sim. Sinto a sua presença quando estou em casa. A sua magia mantém a casa fresca no verão e aquecida no inverno. Foi com ele que minha mãe aprendeu a arte da cura e eu a aprendi com ela. Mas ele nunca se revelou para mim.
— Primeiro ele precisa se acostumar a você. Ainda é jovem. Os mensageiros dele me contaram... da sua solidão.
Nuramon tinha perguntas e mais perguntas na ponta da língua, mas a árvore por sua vez perguntou:
— Mas quem é a sua amada?
— Ela se chama Noroelle.
Um cochicho alegre circulou por entre as copas das árvores, e o nome de Noroelle também soou algumas vezes. Todavia, as vozes das árvores se confundiam de tal forma com o seu farfalhar característico que não era possível compreender o que diziam sobre ela.
Mas ele foi capaz de entender o pinheiro das fadas.
— Ela não está aqui, e tampouco esteve aqui esta noite.
— Mas a rainha disse que ela estava aqui no jardim.
— A rainha diz o que deve ser dito. Noroelle não está aqui, mas está perto. Vá até o terraço, ali onde há uma tília e uma oliveira lado a lado!
Nuramon gostaria de perguntar sobre Ceren, mas naquela hora era mais importante encontrar Noroelle. Ele então agradeceu à árvore e seguiu o caminho que o pinheiro indicou.
Logo viu a tília e a oliveira. Ficavam sobre a parede de pedra que alcançava até lá em cima, no terraço. Ao se aproximar, encontrou uma escada estreita que subia.
Ali estava Noroelle, de túnica branca, apoiada sobre o parapeito de pedra do terraço. Parecia um espírito que descera do luar. Ainda não o vira. Ele andou por baixo da tília. O pinheiro das fadas tinha razão: a rainha dissera o que devia ser dito. Ela teve o cuidado de trazê-lo a este lugar. Noroelle lá em cima, ele aqui embaixo! Esta situação remetia imediatamente a um poema declamado da sombra de uma tília para o alto, sob a luz da lua.
Noroelle disse alguma coisa. Estava falando com a lua? Ou com a noite? Agora ele se sentia no lugar errado, na hora errada. Ele a escutava sem que ela soubesse. Ela então virou-se para o outro lado. Ela não falava com a lua ou com a noite, mas com um elfo. Num piscar de olhos Nuramon viu para quem ela se voltara: Farodin.
Nuramon só queria ir adiante. Cambaleou da sombra da tília até a da oliveira. Recostado no tronco, deixava-se envolver pelas palavras que diziam lá em cima. Farodin falava num novo tom, e Noroelle parecia gostar. Pela primeira vez, expressava o seu amor do fundo do coração.
E então essa conversa também acabou...
Por entre os galhos, Nuramon observou Noroelle, sob a luz da lua, ceder à magia de Farodin. Nunca a vira tão feliz antes. Farodin despediu-se com um beijo e então se retirou. Noroelle permaneceu onde estava, sorridente, observando a noite. E porque Nuramon a amava, não podia evitar ele mesmo um sorriso. Não importava que Farodin tivesse vencido. A sua amada sorria, e isso o comovia.
Nuramon observou Noroelle por um bom tempo e viu o sorriso da face da sua amada desvanecer-se mais e mais, até ceder à tristeza. Seu sorriso também desapareceu. Prendeu a respiração ao ouvi-la pronunciar o seu nome na noite, em voz baixa. Farodin a fez sorrir, mas ela se afligia ao pensar nele. Ao ver as lágrimas correrem pelo rosto da feiticeira, não suportou mais. Tomou fôlego e sussurrou:
— Oh, ouça-me, graciosa filha de albos.
Noroelle se assustou.
— Ouça a voz da árvore!
Ela olhou para baixo, seus olhares se encontraram e logo ela voltou a sorrir.
— Eu a vejo aí, no vento da noite, como a fada do meu sonho.
Noroelle enxugou as lágrimas, respirou fundo e disse em voz baixa:
— Mas como um elfo pode se parecer com uma fada?
— Ora — começou ele, e logo continuou — o seu vestido é da cor das tílias. Ele brilha e me deixa cego de amor. — Foi da sombra da oliveira de volta para a da tília. — Acredite na voz de uma tília. Oh, ouça-me, graciosa filha de albos!
— Estou ouvindo, espírito da árvore. Mas é a primeira vez que ouço uma árvore recitar poesia!
Ele respondeu cochichando:
— Para mim também é difícil falar com voz de elfo para agradar a minha amada.
— Para mim foi como se também estivesse ouvindo uma oliveira falar.
— Nossas raízes são interligadas. Nós somos um espírito em dois troncos. Em nós se conectam o amor e a vida — retrucou ele.
— Não há bétulas bastantes aí embaixo? Por que você quer a mim?
— Como você está vendo, eu estou no fim do jardim, com o olhar levantado para você. A senhora deste lugar me disse que devo ficar ao lado daqueles que amam quando eles dizem palavras de amor à sua amada.
— Conheço este jardim, e sei que você só pode cochichar, e não falar. Você quebrou o seu silêncio por minha causa?
— Todos precisam em algum momento quebrar o seu silêncio. O infinito é longo e amplo.
— Então você me ama?
— Claro que sim.
Ele a viu tocar um galho.
— Você é uma árvore magnífica. E as suas folhas são macias. — Ela puxou o galho para junto de si e beijou uma folha. — Isso é bom, minha árvore?
— É como mágica. E gostaria de presenteá-la por isso.
— Um presente? Talvez uma oliva?
— Não. Todos os que pisam aí em cima pegam uma oliva, mesmo que eu não esteja de acordo. Não quero lhe presentear com algo de mim que todos podem ter. Para a minha amada é preciso que seja algo especial; nenhum custo é alto demais. Você sabe o ciúme que as amoreiras com alma têm de suas frutas?
— Sim. Por isso é mais esperto procurar as sem alma. Porque, para separar uma amoreira com alma de suas frutas, é necessário muito trabalho para convencê-la.
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