Essine e Beichit acenaram de longe. Ulna já estava a bordo. Me curvei e, com o coração aos saltos, entrei.
Decolamos assim que a porta se fechou. Tinha sido combinado com Souilik que nos demoraríamos no ahun 2,5 basikes e que não mudaríamos de direção em caso algum. Assim os Hiss saberiam onde nos encontrar em caso de acidente. Não deveríamos demorar mais de vinte dias ellianos.
Saímos do ahun no momento combinado. Nos écrans via-se um negro de tinta, salpicado de pequenos luzeiros ovais: eram as galáxias ainda vivas. A mais próxima quase cobria a Lua. Akéion apontou-a e disse:
— Deve ser o universo dos Kaïens. Chegamos.
Se, por artes mágicas, tivéssemos a nossa disposição um telescópio de potência infinita, poderíamos ver este universo, não como é atualmente, mas como era há quinhentos mil anos.
Num écran especial, funcionando segundo o princípio do radar, as ondas sness, propagando-se dez vezes mais rapidamente do que a luz, desenhavam um planeta Deve ser este o mais próximo planeta, que, segundo Souilik, nos serve perfeitamente — notou Ulna.
— Vamos descer — respondeu Akéion. — Aos postos de combate!
Tomei o comando das armas. Por um écran colocado na minha frente eu vigiava todas as direções. Ulna me ajudava com um écran mais sensível, que permitia ampliar, a nossa vontade, esta ou aquela zona.
— Vamos baixar, Slair, a zona de calor!
Baixei o manípulo respectivo.
Imediatamente o ksill ficou rodeado duma zona de 300°, temperatura suficiente para aniquilar qualquer Mislik, mas inofensiva para nós, desde que envergássemos os nossos escafandros.
A superfície do planeta aproximava-se com rapidez e começamos a analisá-la detalhadamente: viam-se montanhas, ribeiras geladas e os oceanos secos Continuávamos a descer.
De repente notei uma enorme forma piramidal, extraordinariamente regular.
Mostrei a Ulna, que, regulando o visor, pôde vê-la em pormenor. Ouvi-a murmurar:
— Oh! Meu Deus Etahan! Um planeta humano!
Era, de fato, uma cidade, ou, pelo menos, o que dela restava.
Devia cobrir milhares de hectares e parecia desdobrar-se em obeliscos e campanários altíssimos, subindo vertiginosamente em direção ao céu. O mais alto, ao centro, terminava a mais de mil metros.
Fiquei admirando o espetáculo. Que fantástica civilização teria erigido esta cidade, destruída, decerto, há milhões de anos? Como você sabe, sempre tive a paixão da arqueologia, o que me levou a pedir a Akéion para desembarcar.
— Vamos contornar primeiro o planeta; se não encontrarmos Milsliks, desembarcaremos.
Horas e horas vimos desfilar continentes gelados. Vimos mais ruínas, mas não tão imponentes. Apesar de voarmos muito baixo, não avistamos qualquer Mislik.
Voltamos, então, para a fantástica cidade morta.
Sob a luz do projetor, as construções brilhavam: pareciam de gelo e ouro. Aterrissamos numa praça enorme, ao pé de uma torre cujo cimo se perdia nos céus.
Decidiu-se que só Ulna e eu fôssemos a terra, ficando Akéion a bordo do ksill, pronto para qualquer eventualidade.
Envergamos os escafandros e saímos, munidos de reservas de ar para doze horas, alimentação sintética, armas e munições.
Hesitamos um pouco sobre a direção a tomar. O ksill tinha aterrissado numa praça vagamente circular, que parecia esmagada por construções enormes. O ar vaporizava-se em contacto com a zona quente, e rapidamente o nevoeiro escondeu o nosso aparelho Não nos inquietamos e seguimos em frente.
Entramos numa rua completamente coberta. Todas as portas, de metal verde, estavam cerradas. Pareciam estranhamente baixas se cotejadas com a grandeza das construções.
Continuamos cerca de quilômetro, sempre em frente, desprezando as transversais, a fim de evitar desnorteamentos. As fachadas apresentavam-se muito nuas, sem inscrições nem esculturas que dessem quaisquer indicações sobre os seus desaparecidos construtores.
Procurava eu arrombar uma porta em mau estado quando o solo começou a tremer debaixo de nós. Pressentindo uma catástrofe, puxei Ulna rapidamente pela mão e, correndo, voltamos ao ponto de partida.
No local onde, ainda há pouco, estava o nosso ksill não havia mais do que um montão enorme de pedras e metais. Um campanário, a esquerda, sob a ação do calor intenso, tinha desabado sobre o Ulna-ten-Sillon!
Silenciosamente caíam ainda destroços, que se acumulavam em pirâmide.
Encostada a uma parede, Ulna murmurou: — Hen! Akéion, Akéion sétan son!
Por momentos nada se moveu; depois, silenciosamente, uma grande cornija desabou também.
Estávamos perdidos num planeta desconhecido, a milhares de léguas de qualquer socorro, e apenas tínhamos ar respirável para onze horas.
Então, com a carapaça cintilante, refletindo a luz do nosso projetor, surgiu o primeiro Mislik!
CAPÍTULO II
ENCONTRO COM OS MISLIKS
O Homem — e emprego o termo no sentido mais lato —, incluindo os Hiss, os Sinzus, etc., é uma estranha criatura. Estávamos perdidos, sem recursos, mas nem por um instante pensamos em abandonar a luta. Mal o primeiro Mislik mostrou a carapaça, disparei sobre ele Morreu antes de ter podido irradiar. Com o coração a bater, espreitamos: não vinha mais nenhum. Era perigoso ficar na praça, quer por causa dos destroços que continuavam a cair, quer devido aos Milsliks, que ali tinham possibilidade de voar e cair sobre nós. Assim, retomamos a passagem coberta que já havíamos explorado, após um último olhar ao monte de escombro sobre o qual jaziam o Ulna-ten-Sillon e Akéion. Neste estreito espaço tínhamos de vigiar mais de duas direções. Ultrapassamos o local em que paráramos e atravessamos uma outra praça. Esta regurgitava de Milsliks, que emitiram violentamente quando chegamos, mas em vão. Fomos obrigados a passar por cima deles e pude verificar que se tratava de uma outra raça diferente daquela que eu combatera em Sete, de Kalvénault: mais encorpados, mais curtos, de forma diferente. A sua fluorescência, em vez de ser violeta, aproximava-se do índigo Caminhamos várias horas nas ruas da cidade morta sem encontrar uma única porta aberta ou que pudesse ser arrombada. Por motivos ignorados os habitantes tinham fechado cuidadosamente as casas antes de desaparecerem. A única descoberta interessante que fizemos, a muitos quilômetros do ponto de partida, foi um veículo de seis rodas, muito baixo. No instante em que me dispunha a examiná— lo minuciosamente fomos assaltados pelos Milsliks. Eram centenas e aproximavam-se planando a quatro pés do solo. Apesar de os matarmos com as nossas pistolas térmicas, continuavam no seu trajeto e tínhamos muita dificuldade em os evitar.
Depois mudaram de tática, aproximando-se tão rapidamente que nem os víamos, o que nos obrigou a nos deitarmos na terra, estabelecendo um verdadeiro fogo de barragem a custa de um assustador consumo de munições. Ao cabo de alguns minutos o pavimento e as paredes da rua estavam tão quentes que irradiavam o calor suficiente para impedir a passagem dos Milsliks. Assim, o ataque cessou.
Ficamos sentados, tristemente, num patamar. Ainda nos restavam três horas de ar, apenas três horas! A fadiga começava a nos dominar e, através do vidro do escafandro, eu podia ver os olhos pisados e o rosto fatigado de Ulna. Falamos pouco.
Sei muito bem que nos romances os heróis escolhem sempre as situações desesperadas para fazer ternas declarações, mas posso lhe afirmar que nem nisso pensamos. Permanecemos sentados durante muito tempo.
Ulna me sacudiu bruscamente: — Os Milsliks! Estão voltando!
Agora avançavam rastejando entre os cadáveres dos outros.
Arriscando tudo por tudo, deixamos que se aproximassem e se concentrassem.
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