Neste momento Souilik bradou:
— Vamos aterrar! Depressa, Slair, vista o escafandro; e vocês, Sinzus, também!
Quando eu passava diante dele levantou-se e, com espontaneidade rara entre os Hiss, abraçou-me rapidamente — Bata-se bravamente, por Ialthar e pelo seu sol.
Essine acenou-me com a mão. Seguido de Ulna, Akéion e Hérang, preparei-me para sair.
No meu capacete a voz de Souilik soou bruscamente: — O carro está a esquerda!
Saiam!
Saímos. de pistola térmica em punho. O solo estava juncado de Milsliks mortos, achatados, meio desfeitos. O carro nos esperava. Um Hiss desconhecido abriu a porta. Por prudência, guardamos os escafandros. O nosso nome indicativo era «Arta», palavra imaginária, que evitava toda a confusão.
— Arta, Arta, Arta — ordenou Souilik. — Abandonem a zona quente. Temos de largar.
Não há um Mislik vivo nestas zonas mais próximas. As torres estão a oeste-noroeste.
Vamos guiá-los. Aqui, Paris. Fim.
Por brincadeira, eu sugerira a Souilik que usasse o indicativo «Paris».
— Aqui, Arta. Entendido. Vamos partir respondeu Akéion, que depois deu rapidamente algumas ordens.
Arranquei e partimos. A condução dos carros era facílima: um volante, um acelerador e um inversor para a marcha ré.
Sentada ao meu lado, Ulna comandava as armas dianteiras.
Tudo o que se passava num ângulo de 1800 se refletia num écran colocado na nossa frente. Na retaguarda Hérang vigiava o resto do horizonte. Akéion, ao centro, no posto de comando, controlava todas as comunicações e também a arma hr'ben, da qual ainda desconhecíamos os efeitos. Durante cinco minutos rolamos a grande velocidade e sem acidentes. As lagartas do carro agarravam-se bem ao solo gelado do planeta sem nome. Na nossa frente o horizonte continuava iluminado por explosões silenciosas neste mundo sem ar, das quais sentíamos, as vezes, o estremecimento, comunicado pelo solo. Em contraluz passavam, a enorme velocidade, ksills ovais, redondos ou afusados, segundo o ângulo em que se apresentavam.
Os Milsliks! Um quase indistinto refulgir metálico numa fenda afogada pela sombra pôs-nos em guarda.
O carro da esquerda atirou e, com a deflagração do obus térmico, brilharam carapaças geométricas deslizando para nós. Não procuraram fugir. Passamos por blocos de metal meio desfeitos rodeados de espirais violetas: os sobreviventes irradiavam em vão.
Sempre combatendo, forçamos um estreito desfiladeiro com alguns projéteis.
Atrás os outros carros guardavam a retaguarda, limpando todos os recantos. Ao chegarmos a um vasto circo, rodeado de rochedos enegrecidos, os Milsliks mudaram de tática. Do alto das escarpas atiravam-se sobre as nossas máquinas. Em três minutos perdemos dois carros, que ficaram esmagados, desfeitos.
Começamos então a usar alternadamente raios térmicos e intensos campos de fôrça de gravidade. Qualquer Mislik morto em pleno vôo era rapidamente desviado por um aumento súbito da fôrça de gravidade. Entretanto, os outros carros desfaziam a granada os cimos dos rochedos.
Por um segundo desfiladeiro desembocamos noutra planície.
Ao longe, na nossa frente, recortavam-se as torres no horizonte em chamas. Tão altas eram que as explosões mal lhes iluminavam as bases.
Pouco a pouco nos aproximamos, perdemos mais três carros e desintegramos mais de cinco mil Milsliks.
Quanto mais nos aproximávamos mais fantástico se tornava o espetáculo: os ksills deixavam cair bomba após bomba, os relâmpagos sucediam-se rapidamente — parecia dia claro.
O calor provocado, fazendo evaporar as massas de gás gelado, dava ao planeta um ar de atmosfera, mas esse nevoeiro dificultava a visão, tomando impossível a apreciação das distâncias.
Passamos ao lado dos despojos dum ksill enorme esmagado na planície, desfeito; o cadáver dum Hiss pendia duma viga torcida.. Não encontramos mais Milsliks vivos. Um dos nossos termômetros marcava 100 negativos, o que estava muito além da capacidade de resistência dos Milsliks.
Akéion transmitiu o fato a Souilik. Foi com alegria que ouvi a resposta:
— Ótimo. Vamos cessar o bombardeamento. Desçam e tentem estudar as construções Milsliks. Podemos protegê-los durante algum tempo. Depois concentrem— se a este das torres. Iremos buscá-los.
— Akéion — disse eu —, pergunte como vão as coisas por lá.
— Não vão mal. Quarenta por cento de baixas. Até já — respondeu Souilik.
Parei o carro ao lado duma torre; em breve chegaram os outros. Por cima de nós, a torre parecia querer assaltar o céu. Hérang desceu, seguido doutros Sinzus. Aqui e ali procuravam vestígios da «máquina de apagar o Sol».
Desci, por minha vez, ordenando a Ulna que ficasse a bordo com o irmão.
Empunhei a pistola e juntei-me aos Sinzus. No meio dos Milsliks mortos, o cadáver dum Hiss empunhava ainda a sua arma. Me aproximei e reconheci o estudante que comandava o posto que, quando da chegada dos Sinzus, nos tinha prendido, a mim e a Szzan. A sua primeira viagem fôra a última. Mais longe, um ksill tinha sido abatido junto dum monte.
Fora as torres, nada havia que mostrasse vida inteligente: nem uma construção, nem uma estrada, sequer.
Aproximei-me da base duma torre: era feita de centenas de Milsliks mortos, soldados uns aos outros. Até onde a minha lâmpada atingia toda aquela enorme arquitetura metálica nada era senão Milsliks aglomerados, dos quais ainda se adivinhavam as formas geométricas. A «máquina de apagar o Sol» não existia; ou, melhor, era um conjunto de Milsliks, cuja misteriosa energia, multiplicada prodigiosamente, podia, assim, atacar as reações nucleares dos sistemas solares.
Nada havia utilizável pelos físicos sinzus; nada servia para seres de carne.
A nossa volta, num raio de alguns quilômetros, continuavam a cair bombas, superando a noite. O solo tremia debaixo das minhas solas de metal.
O período que Souilik nos marcara extinguia-se rapidamente Mandei re-embarcar os Sinzus e, ainda hoje não sei por que estranho impulso, ao passar pelo ksill abatido, levei comigo o cadáver do jovem Hiss que morrera em terra estrangeira, misturado com os Filhos da Noite.
Passado pouco tempo chegamos a este da terceira torre.
Estávamos em guarda, mas nada aconteceu.
Instantes depois aterraram os ksills. Reembarcamos rapidamente Souilik nos esperava, acompanhado pelos dois Hr'bens. Olhando Beichit, fiquei perplexo: nem sequer pensáramos em experimentar a nova arma. Ela riu, com um riso mais aproximado do nosso do que do dos Hiss, e disse:
— Nós usamos. Parece muito eficaz. Vocês experimentarão na próxima vez…
— Prontos? — cortou Souilik. — Vamos partir. Rapidamente, o planeta desapareceu da nossa retina. Por momentos víamos os halos violetas dos raios térmicos: eram pequenos agrupamentos de Milsliks, atrevidos como abelhas, mas quase inofensivos, devido ao seu relativo isolamento.
Reagrupada, a esquadrilha hiss planava a 100 quilômetros. de altitude. Haviam-se perdido oitenta unidades.
Hérang apresentou então o seu relatório sobre as torres Milsliks: — Não julgo ser necessária a destruição delas, uma vez que os Milsliks estão mortos — disse Souilik. —
Mas, quem sabe? Reparem bem. Vão assistir a um extraordinário espetáculo, que não voltou a se ver depois da última guerra de Ella-Ven. Vai explodir a primeira bomba infra-nuclear Atenção você, Essine.
Ela fez um pequeno gesto. Alguns segundos depois, na face do planeta sem nome, brilhou uma estrela Depois… depois: uma monstruosa explosão flamejou. Era de um violeta vivo, que rapidamente se tornou azul, verde, amarelo e vermelho. O planeta, iluminou-se num círculo de 200 quilômetros. Viam-se as planícies, os montes, as crateras. O solo, brilhante de lava, parecia zebrado de negro. Um fumo luminoso flutuou por momentos e tudo mergulhou no esquecimento.
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