Pedro Ceinos Arcones - Breve História Da China

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Um livro para entender a história da China.
Embora o objetivo deste livro seja fornecer ao leitor uma história curta e compreensível da China, o interesse do autor pelas culturas dos povos da fronteira e das minorias é percebido ao longo de suas páginas. A construção da China, desde os pequenos reinos nas margens do Rio Amarelo, que criaram as primeiras sementes da civilização chinesa, até um país que cobre agora mais de 9 milhões de quilômetros quadrados, pode ser seguida nas páginas deste livro, bem como o processo de conquista e absorção de povos que hoje dão origem à China.

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Pedro Ceinos Arcones

Breve História da China

BREVE HISTÓRIA DA CHINA
Pedro Ceinos Arcones
Traduzido por Daniela Ortega
Tektime publishing

© 2003, 2006, 2020 Pedro Ceinos Arcones

Traduzido por Daniela Ortega

peceinos@hotmail.com

Introdução

O que é a China?

A resposta pode parecer óbvia. Ao olhar para um mapa, uma grande massa de cores uniformes aparece na parte oriental da Ásia, do centro do continente ao Oceano Pacífico, sobre o qual a palavra “China” se espalha. Um conceito que parece fácil e evidente. No entanto, se, em vez de usar um mapa feito em 2006, pegarmos um mapa em português de dez anos atrás, provavelmente veríamos que, no extremo sul do país, uma pequena porção fica fora da massa da “China”. Seria a colônia portuguesa de Macau, recuperada pelos chineses apenas em 1999, após quase 450 anos de ocupação e posse portuguesa. Se fosse um mapa inglês de dez anos atrás, descobriríamos que a área da “China” seria novamente interrompida em uma pequena parte de sua faixa sudeste; seria o enclave britânico de Hong Kong, recuperado pela China apenas em 1997, após quase 150 anos nas mãos dos britânicos. Se o mapa fosse de Taiwan e um pouco mais antigo, encontraríamos uma China que se estende muito mais ao norte, quase até a taiga siberiana, porque, em Taiwan, a independência da Mongólia Exterior não foi reconhecida e ainda é incluída nos mapas da China. Por outro lado, se o governo tibetano no exílio o tivesse publicado, veríamos que falta toda a parte sudoeste do que estamos acostumados a ver. Ou, se a publicação tivesse sido realizada pelos independentes do Turquestão, faltariam todo o extremo oeste. Se nos afastássemos mais no tempo, essa definição de “China” mudaria a cada dinastia ou mesmo a cada imperador, expandindo-se e se contraindo de acordo com o vai-e-vem de suas conquistas ou fracassos militares.

A resposta, então, não parece tão óbvia. Se todos os países e nações são o resultado de um processo histórico, que às vezes nos parece estabilizado até a eternidade, na China, parece que esse processo ainda hoje está longe de estar completo, mostrando-nos um exemplo vivo de fragilidade e temporalidade dos Estados (apesar dos esforços dos políticos de cada país). Neste livro, usaremos o conceito mais amplo de China, que inclui e compreende não apenas a China de 2006, mas também a China de 1998, a de 1888 e a de 1588. Nosso objetivo, em vez de tentar endossar qualquer uma das reivindicações político-geográficas mais ou menos justas, visa explicar a origem das diferentes "chinas", para que o leitor possa entender sua situação atual.

A República Popular da China, com uma extensão de quase 9.600.000 quilômetros quadrados, é o terceiro maior país do mundo, depois da Rússia e do Canadá. Uma vista aérea da China mostra seu território como uma série de níveis descendentes, de Oeste para Leste. O mais alto é o planalto Qinghai-Tibete, com uma altitude média de cerca de 4.000 metros acima do nível do mar. O segundo nível é constituído pelos platôs, que se estendem da Mongólia Interior, pelos platôs de Loess e Yunnan e Guizhou, entre 1.000 e 2.000 metros acima do nível do mar. O terceiro degrau é formado pelas planícies do nordeste e norte da China e das faixas média e baixa do rio Yangtze, com uma elevação entre 500 e 1.000 metros acima do nível do mar. A China é um país eminentemente montanhoso. Os principais sistemas montanhosos da China estão orientados na direção Leste-Oeste, dividindo o país em diferentes regiões de difícil comunicação.

Para entender a geografia da China, basta pensar em três grandes sistemas de montanhas, que atravessam toda a superfície do país, de Oeste a Leste. Ao Norte, estão as cadeias de montanhas Tianshan, em Xinjiang, e Yinshan, na Mongólia. No centro, a cordilheira Kunlun – entre Xinjiang e Tibete – e Qinling. Ao Sul, estão os Himalaias, no Tibete, e as Montanhas Nanling, que separam Hunan e Jiangxi de Guangdong e Guangxi. A China é um país com recursos hídricos abundantes. Estima-se que 50.000 rios fluam através de suas terras, e alguns deles estão entre os maiores e mais caudalosos do planeta. Os rios na China são utilizados desde tempos imemoriais para transporte, pesca e irrigação. Se as cadeias montanhosas correm de Oeste para Leste, os rios precisam, necessariamente, seguir a mesma direção.

Os rios do sul da China são muito diferentes dos do Norte. Enquanto os primeiros, alimentados regularmente por uma longa estação chuvosa, possuem numerosos afluentes, vegetação abundante ao seu redor e um fluxo relativamente constante, os do norte, onde a chuva é tão escassa quanto a vegetação, carregam grandes quantidades de sedimentos e têm um fluxo escasso e tremendamente variável, de acordo com as estações do ano. Os dois maiores rios da China são o Yangtze, com 6.300 quilômetros de extensão, e o rio Amarelo ou Huanghe, com 5.464 quilômetros. Ambos os rios são considerados o berço da civilização chinesa, embora sua situação atual seja muito diferente, pois, enquanto o Yangtze, que atravessa todo o país, do platô Qinghai-Tibete até sua foz perto de Xangai, é o verdadeiro coração da China, o rio Amarelo se tornou um rio mais virtual do que real, em cuja desembocadura não chega água em mais de cem dias por ano. Outros rios importantes são, de Norte a Aul: o Heilong Jiang (também chamado Amur), na fronteira com a Rússia; o Liaohe, o Haihe (que desagua em Tianjin), o Huaihe, o Qiangtang e o rio Zhujiang (que deságua em Cantão). Três outros rios de grande importância para o sul da Ásia nascem e têm grande parte de seu curso na China: o Brahmaputra, chamado na China de Yarlung Zangbo; o Mekong, chamado Lancang, e o Salween, chamado Nu Jiang.

A importância das montanhas e dos rios na história da China é decisiva. As montanhas, como regra, separam; os rios, por outro lado, comunicam. A expansão da civilização chinesa a partir de seu ponto de origem na atual província de Henan segue o curso dos rios, onde a comunicação é mais fácil. As áreas separadas por montanhas, ainda relativamente próximas, permanecerão desconhecidas por muitos anos. Mas os rios não são apenas rotas de comunicação. Sua natureza caprichosa e violenta os torna uma ameaça contínua. A sociedade chinesa se baseia, em parte, no domínio dos rios. Alguns autores até consideram que a longa permanência do sistema imperial está relacionada à necessidade de realizar e manter as grandes obras de canalização e controle de rios para evitar inundações desastrosas. Não é por acaso que, em tempos de caos, as inundações aumentam o flagelo da população. Quando os diques não estão conservados, o rio Amarelo explode e muda de rumo. Às vezes, com consequências trágicas. Na história, essas mudanças de curso do rio Amarelo foram a principal causa da queda de várias dinastias. Antes da história, ainda não sabemos como esses transbordamentos influíram na ascensão e na queda dos primeiros Estados na China. Montanhas e rios são uma parte fundamental da cultura chinesa.

A Grande Muralha e o Grande Canal, as duas obras hercúleas que melhor caracterizam o povo chinês, são seus equivalentes na esfera humana. Atualmente, a China está dividida em 34 entidades administrativas, que correspondem basicamente às divisões administrativas históricas. Como elas não foram sempre foram as mesmas nem sempre foram chamadas da mesma maneira, ao longo deste livro, para facilitar a localização, nós as chamaremos pelo nome atual. Assim, temos quatro cidades diretamente subordinadas ao poder central: Pequim, a capital; Xangai, o grande porto industrial e comercial na foz do rio Yangtze; Tianjin, o porto do norte; e Chongqing, perto da grande barragem das Três Gargantas. Cinco regiões autônomas, nas quais a maioria da população não pertence à maioria étnica han, foram recentemente incorporadas à China, onde a influência da cultura chinesa ainda hoje é menor do que a das culturas locais tradicionais: Tibete, Mongólia Interior, Xinjiang, Guangxi e Ningxia. As províncias do noroeste, conhecidas no Ocidente como Manchúria, são Heilongjiang, Jilin e Liaoning. Também estão no Norte: Shandong, Hebei e Shanxi. Shaanxi, Gansu e Qinghai se encontram no noroeste da China. O leitor deve prestar atenção para não confundir as províncias de Shanxi (a oeste das montanhas) com a de Shaanxi (a oeste dos desfiladeiros), pois os nomes são perfeitamente diferenciados na escrita chinesa, mas quase idênticos em português. No centro estão Henan, Anhui, Jiangxi, Hunan e Hubei. No Sul, Guangdong, Guizhou, Hainan. No Sudoeste, Sichuan e Yunnan. No Leste, Jiangsu, Zhejiang e Fujian.

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