Barbara Cartland - A valsa encantada

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Depois de terem deslizado pelo mais belo salão de Viena, ao som de uma valsa sensual, o Czar a beijara! Wanda não podia acreditar. Ser beijada pelo Imperador de todas as Rússias, um homem casado e com uma amante! Wanda precisava fugir desse amor perigoso e impuro que começava a nascer em seu inocente coração. Mas como poderia escapar? O Príncipe Metternich a obrigara a ser espiã, pelo bem de sua pátria. Wanda teria coragem, porém, de trair o Czar, esse nobre fascinante que a tinha subjugado, acendendo em seu corpo jovem, a inesperada chama de um delicioso e quase sublime prazer? Entre o amor verdadeiro, a palavra e o Destino, ela teria de escolher.

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A Valsa Encantada

Barbara Cartland

Barbara Cartland Ebooks Ltd

Esta Edição © 2016

Título Original: “The Enchanted Waltz”

Direitos Reservados - Cartland Promotions 2016

Capa & Design Gráfico M-Y Books

m-ybooks.co.uk

CAPÍTULO I

—Esta situação é intolerável!

O Príncipe Metternich bateu com o punho fechado sobre a escrivaninha, fazendo estremecer todos os objetos que lá se achavam.

—Você não ignorava que o Czar seria difícil, querido— sua esposa disse calmamente.

—Sim, eu sabia, mas não tão difícil. O homem não é normal. Ele é…— o Príncipe fez uma pausa.

—Como o pai?— indagou a Princesa.

—Não, não tão horrível!

—O Príncipe Metternich caminhava pela sala. Com a cabeça inclinada para a frente, perdia-se em pensamentos.

—Gostaria de poder pôr em palavras o que há de errado com ele. Parece-me dois homens num só.

A Princesa soltou uma exclamação de surpresa.

—É extraordinário ouvi-lo dizer isso, Clement! Ainda ontem eu e a Princesa de Liechtenstein conversávamos sobre o assunto. Nossos médicos estão atualmente trabalhando nessa teoria, acham que um homem pode ter dupla personalidade; ser Deus e o diabo ao mesmo tempo.

—O Czar devia se candidatar como o primeiro cliente deles— opinou o Príncipe.

—Às vezes ele acredita que é o governante do mundo, o poder supremo da Europa, intransigente, autoritário, outras vezes enxerga-se como o bom cristão que proporciona liberdade a todos os homens, amável, bondoso ao extremo.

A Princesa suspirou. A irritação do marido era evidente. Percebeu que ele não esperava muita contribuição de sua parte na conversa sobre o processo político. Como sempre, confiava na discrição dela, e satisfazia-se em falar para esclarecer a mente, as ideias.

—E isso não é tudo— continuou o Príncipe—. Alexander está prejudicando a Convenção para a Paz na Europa no modo como insiste em conduzir suas atividades. Foi estabelecido que os soberanos poderiam se divertir em Viena enquanto seus representantes fizessem todo o trabalho. O Czar quebrou as regras e insistiu em negociar pessoalmente comigo e com Castlereagh. O pobre do Conde Nesselrode mal consegue adivinhar o que vai acontecer de um dia para o outro.

—Posso entender como tudo é irritante, querido— comentou a Princesa.

—Irritante?!— gritou o Príncipe—. É intolerável. Não pode continuar assim. Algo tem de ser feito. Mas… o quê?

Ele estendeu as elegantes mãos num gesto de desespero. Olhando para o marido, em pé, de costas para a janela, com o pálido sol de outono lançando em seus cabelos uma auréola de luz, a Princesa Metternich pensava, como pensara desde o dia em que o conhecera, que seu marido era o homem mais atraente do mundo.

E isso não se limitava aos traços clássicos; mas havia tanta aristocracia e personalidade em seu rosto, no brilho dos olhos, no crispar dos lábios tentadores, que até os cartazes empenhados em ridicularizá-lo faziam-no distinto, sedutor. Era a face de um homem que qualquer mulher amaria, e a Princesa sentiu um aperto no coração.

—Que poderá ser feito? O quê?— perguntava o Príncipe.

—Se não fizermos nada, a Convenção falhará. A frase: “A Convenção dança mas não progride” já é repetida por todos. Meus inimigos estão dizendo que consistirá no grande fracasso de minha carreira, e talvez estejam certos. Sim, estão certos, Eleanore, a menos que, por um milagre, eu consiga impedir que o Czar ponha tudo a perder.

—Um milagre? Não é pedir demais?— interrogou a Princesa, com um esboço de sorriso.

—Sem isso, estaremos perdidos— observou o marido ferozmente.

Ele começou a andar mais uma vez sobre o lindo tapete de Aubusson. Tudo o que havia no Palácio, construído por ele, fora escolhido pessoalmente. O Príncipe batizara sua mansão de Villa Rennweg, mas o Imperador Francis dissera-lhe, rindo muito, que deveria trocar a designação para Hofburg, nome da antiga residência dos reis da Áustria.

O Príncipe Metternich supervisionara o planeamento do parque, aprovara o plantio de cada árvore, de cada arbusto. E a Villa Rennweg consistia não apenas no centro das festividades, mas também no coração e na alma da diplomacia da Convenção. O homem em volta do qual tudo girava era o Ministro Imperial, o Príncipe Metternich em pessoa.

Somente a esposa e os secretários particulares sabiam da grande pressão sob a qual ele vivia, pois disfarçava bem isso em suas conversas calmas, no charme de suas maneiras diante dos milhares de visitantes graduados que convergiam para Viena.

Era de fato inegável que o Príncipe Metternich obscurecia todas as personalidades que iam chegando naquele outono na capital da Áustria, com o poder e a pompa em suas mãos.

O Imperador Alexander da Rússia levara consigo enorme séquito e ansiava pelos aplausos das multidões, firme no propósito de que se reconhecesse que ele, unicamente ele, vencera Napoleão.

Estavam em Viena o Rei Frederick III da Prússia, o rei da Dinamarca, os Reis da Bavária e de Württemberg e o Visconde de Castlereagh como representante oficial do Príncipe regente da Inglaterra. Também em Viena, para conviver com essas personalidades, encontravam-se as mulheres mais lindas da Europa e as mais famosas anfitriãs da sociedade de cada um dos países presentes.

Imperadores, Reis, Príncipes, Estadistas, Políticos, Cortesãos convergiam a Viena. Mas a figura central de tudo era o Príncipe Clement de Metternich. Seus penetrantes olhos azuis, sua testa larga, nariz aquilino, tez pálida e sorriso zombeteiro permaneciam na memória de quem o fitasse, muito depois dos bailes, dos desfiles e das receções.

Não obstante, por ser um gênio político, o Príncipe Metternich angariava muitos inimigos que insistiam em proclamar que o Ano Novo de 181 o veria vencido e desacreditado.

—Um milagre— repetiu ele—, descubra um milagre para mim, Eleanore.

Um apelo feito com aquela voz profunda era algo difícil para Eleanore resistir. Ela respondeu suspirando:

—Se ao menos eu pudesse ajudá-lo!

Metternich foi para junto da esposa, pondo a mão em seu ombro.

—Ajude-me!— repetiu.

As palavras simples, expressas com grande afeição, provocaram lágrimas nos olhos de Eleanore. Porém ela desviou o rosto para que o marido não a visse, e sussurrou:

—Obrigada pela confiança.

Metternich afastou-se de novo, com a mente mergulhada nos problemas políticos. Nem notou a presença de um criado na porta da sala aguardando permissão para entrar.

—Que há?— indagou enfim o Príncipe.

—Está aqui uma senhora, Excelência. Deseja muito falar-lhe.

—Uma senhora? Quem é ela?

—Não declinou o nome, Excelência, mas insiste numa audiência em particular. Veio de longe.

—Não recebo ninguém sem aviso prévio— declarou o Príncipe, categoricamente e de mau humor.

—Eu sei, Excelência. Expliquei à senhora, porém ela é insistente. Tem certeza de que Vossa Excelência desejaria vê-la.

—Diga-lhe que apresente suas credenciais, como de hábito informou o Príncipe—, no momento estou muito ocupado.

—Sim, senhor, Excelência.

O criado saiu da sala e o Príncipe continuou com suas andanças.

—Não posso consentir que a Polônia seja um país dominado pela Rússia— disse ele em voz alta, mas como se estivesse falando consigo mesmo—, tal fato daria ao Czar um domínio sobre a Europa, como o de Napoleão. Alexander empenha-se nisso, e o Rei Frederick William está meio inclinado a concordar com ele, talvez para me irritar e irritar a Inglaterra. Acho que devo é...

O Príncipe parou de falar de repente, pois o criado voltava à sala.

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