Barbara Cartland - A Casa Encantada

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Fábia ajoelhou-se no chão, de mãos postas e cabeça baixa. Escondido na semi-escuridão do quarto, o Duque a observava, fascinado. De repente, notou que ela estava envolta numa luz estranha, que não vinha da lua, mas sim qualquer coisa… sobrenatural! E então, ele compreendeu tudo o que, sempre tinha negado. Como Fábia costumava dizer, havia uma espécie de magia, naquela casa. As vibrações dos seus antepassados, os que lá moraram, permaneciam ali, continuavam no ar e foram essas forças misteriosas que o traíram, pois era ironia do destino, depois de tantos anos de ausência, acabar por encontrar naquela casa, a mulher que lhe estava destinada…,

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A CASA ENCANTADA

Barbara Cartland

Barbara Cartland Ebooks Ltd

Esta Edição © 2020

Título Original: “The Vibrations of Love”

Direitos Reservados - Cartland Promotions 2020

Capa & Design Gráfico M-Y Books

m-ybooks.co.uk

NOTA DA AUTORA

O homem, vivendo atarefado na era da mecanização, perdeu de vista a fé que sempre orientou os povos primitivos.

Quem viveu entre os nativos, na África, Índia ou em outras partes isoladas do mundo, compreendeu que esses nativos conseguem realizar verdadeiros milagres porque acreditam no poder da mente e em seus deuses.

Mas nem mesmo um feiticeiro, na África, pode evitar que uma pessoa morra se essa pessoa já pôs em sua mente que morrerá. Os vodus da América do Sul podem ensinar muitas coisas extraordinárias àqueles que se dispuserem a ouvi-los.

Os soldados que serviram na Índia no tempo do domínio inglês foram testemunhas de que muitos indianos tinham o poder de saber que um parente havia morrido, estando a centenas de quilômetros de distância.

O que esses povos usam é seu instinto, ou o que os egípcios chamam de «terceiro olho». Muito do que chamamos de «clarividência» é apenas o instinto que todos nós temos e que, se desenvolvido e usado corretamente, pode nos servir de inspiração e proteção.

CAPÍTULO I 1842

Ocamareiro-mor estava nervoso. O Duque viu-o mexer no mata-borrão sobre a escrivaninha e depois endireitar o tinteiro e mudar de posição um abridor de livros.

Finalmente, o homem disse:

—Creio, Vossa Graça, que tem uma ideia do que vou lhe falar.

—Nem por sombra!— respondeu o Duque.

Estava sentado confortavelmente numa cadeira, diante da escrivaninha, de pernas cruzadas e parecendo completamente à vontade.

O camareiro-mor olhou para ele e achou que era de fato um dos homens mais bonitos que conhecia. Não era de estranhar que sua reputação com as mulheres fosse tão má, a ponto de já ter chamado a atenção da Rainha.

Mas, como o Duque se comportava sempre com a maior correção, tanto no Palácio de Buckingham quanto no Castelo de Windsor, não havia nada que a Rainha pudesse dizer ou fazer.

Apesar disso, como ninguém podia evitar que as mulheres mexericassem, quer vivessem num chalé ou num Palácio real, os falatórios sobre o Duque vinham aumentando a cada ano, agora ganhando proporções que tornavam inevitavelmente num problema mais sério.

Era verdade que Sua Majestade tinha dado ao Duque mais liberdade do que o costume, porque gostava de homens bonitos. Além do mais, de certo modo, ele se parecia com o querido Alberto, o marido da Rainha. Mas isso só na aparência; em todo o resto, os dois homens eram opostos.

Rígido, consciencioso, fazendo questão de que o protocolo fosse sempre obedecido, o Príncipe Alberto era completamente diferente do terceiro Duque de Ilminster.

Desde que saíra de Eton, o Duque gozava a vida ao máximo, causando um escândalo atrás do outro, todos envolvendo mulheres bonitas.

Nas corridas, era um esportista amado pelas multidões, que jamais se teria desviado das regras rígidas do turfe, como também nunca teria trapaceado no jogo de cartas.

Mas, no que dizia respeito as mulheres, essas regras não se aplicavam. Os maridos cerravam os dentes, furiosos, quando ele entrava num salão de baile; as mães tratavam de afastar as filhas, com o instinto protetor de uma galinha diante de uma raposa.

Não seria necessário dizer que o Duque não se interessava por moças solteiras, e sim, apenas pelas beldades atraentes, sofisticadas e espirituosas que o divertiam durante um certo tempo, até seu interesse ser despertado por um novo rosto ou pelas curvas de um novo corpo.

Mas agora, como era inevitável, o castigo o alcançava e o camareiro-mor se viu com a desagradável incumbência de participar o desagrado de Sua Majestade a um homem que ele invejava secretamente.

—Suponhamos que me diga francamente o que tem em mente— sugeriu o Duque.

—Não na minha mente, milorde , e sim, na mente da Rainha.

—Eu devia ter adivinhado— comentou, com um sorriso ligeiramente cínico.

Apesar de sua bela aparência, nos últimos dois anos tinham aparecido em seu rosto as rugas de um homem frequentemente desiludido, que não encarava mais a vida com a mesma despreocupada excitação que tinha sentido quando mais moço.

Para dizer a verdade, o Duque geralmente estava mais entediado do que alegre. A razão de seus casos de amor durarem tão pouco e variarem tanto era ele achar que as mulheres sempre diziam as mesmas coisas, sendo iguais umas às outras depois que a excitação da conquista desaparecia.

—O número de corações partidos por Ilminster é maior do que o número de meus eleitores— disse, pilheriando, um membro do Parlamento, na Câmara dos Comuns.

No livro de apostas do Clube White, estavam inscritas, constantemente, várias apostas grandes sobre a duração da última favorita do Duque.

O camareiro-mor limpou a garganta.

—Lamentavelmente, Sua Majestade ficou sabendo do que aconteceu na galeria dos quadros, ontem.

—É claro que estou pronto a substituir o vaso quebrado— declarou o Duque.

—É o que ela espera do senhor. Mas a Rainha não ficou aborrecida pelo fato de o vaso ter quebrado, e sim, pela causa do acidente.

O Duque, achou que devia ter previsto que seria essa a atitude de Sua Majestade e do Príncipe consorte. Todo o incidente tinha sido lamentável.

Ilminster andava pela galeria, a serviço do Príncipe, quando notou, vindo na sua direção, uma das mais bonitas damas de honra da Rainha.

Era uma criaturinha namoradeira, que lhe havia lançado olhares convidativos em várias ocasiões. Mas o Duque não lhe dera atenção, ocupado com outros interesses.

Dessa vez, a moça parou para falar com ele, e foi impossível o Duque não perceber que ela esperava, excitada, que ele cometesse algum excesso. Então, que poderia fazer, além de lhe satisfazera vontade?

Tomou-a nos braços e beijou-a. A moça retribuiu os beijos de um modo que indicava que se sentira frustrada por ter esperado por eles durante tanto tempo.

Somente quando o Duque se mostrou mais ousado, ela protestou e lutou, de maneira não muito convincente, mas que bastou para excitá-lo mais ainda.

O Duque fez então uma proposta que pareceu chocá-la. Quando a moça lutou de novo, ele a soltou bruscamente.

Seu gesto foi tão inesperado, que ela cambaleou e caiu contra um grande vaso chinês que estava numa coluna de ébano entalhado.

O Duque estendeu a mão para ampará-la, mas foi tarde demais.

A moça bateu com o cotovelo no vaso e este caiu, quebrando-se em vários pedaços.

Os dois olharam para os cacos, consternados. Com um gritinho apavorado, a dama arregaçou a saia do vestido e saiu correndo pelo corredor.

Infelizmente, foi vista, assim como o Duque. O vaso quebrado também foi visto por um dos bajuladores do Príncipe, que julgava de sua obrigação contar a Sua Alteza Real tudo o que acontecia, acreditando que, por fazer isso, sua importância crescia.

Aproximou-se do Duque, que olhava para os cacos no chão, e disse:

—Quebrou um vaso de muito valor, Vossa Graça!

—Isso é obvio.

—Sua Majestade, a Rainha, vai ficar muito aborrecida, pois Sua Alteza Real acaba de redecorar esta galeria.

—Então, Sua Alteza Real terá que encontrar outro vaso— declarou o Duque, afastando-se, para não ouvir mais nada.

Agora, achou que aquele cavalheiro e serviçal devia ter tido grande prazer ao fazer seu relatório por escrito.

Só sentia pena da dama envolvida no caso, que provavelmente seria severamente repreendida. Se ela não tivesse sido vista, Ilminster estaria disposto a assumir toda a culpa.

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