Renato da Silva Moreira - Aterrador

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– Ei, espera aí, você é tipo Don Juan Matus, Yoda ou o Mestre dos Magos, certo? Tenho um monte de perguntas pra fazer, dá um tempo! – corri atrás dele – quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? O universo sempre existiu ou surgiu do nada? Quando é que vou me tornar um escritor de verdade? Como termina este livro? Don Juan explodiu em um gargalhada. – Gosto de você, Jorge. Você tem senso de humor. Lembra a mim mesmo quando era jovem. Naquela época me preocupava muito com as grandes questões filosóficas e em encontrar a excelência nas artes. Queria respostas objetivas. Passava noites em claro lendo, estudando e achava que só assim iria encontrar o que buscava. Ao compor, me importava demasiado com a forma, com a estrutura e com a linguagem. Demorei para entender que a arte vai muito além do seu aspecto formal, cultural e social.
A arte é um sentir que vem de dentro. Tem o poder de criar vínculos, de curar. E talvez os gregos estivessem certos: a maior arte é a arte de viver.

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Teve que você sumir, pra que eu voltasse a escrever. Essas palavras que já vão formando um texto que me saí pelos cotovelos. O que você vai pensar? Nasci na época errada. Quem você conhece hoje em dia que faz esse escarcéu por causa de uma gata? O que não falta é felino. Quem é que corre atrás, tlim tlim, psss psss, de uma gata que vem na sua casa, foge e não lhe deixa nem um bilhetinho azul? Selecionar tudo, deletar. Mandar o texto pro limbo, pra junto das juras que Rimbaud queimou na luz de uma vela, que jogou feito aviãozinho pelo ar, pro céu dos gatos.

Fiz a seleção. Mas não deletei. Porque essas palavras vieram de você. São suas. Você entrou dentro de mim e saiu feito letrinhas.

Devolvo-as, pois.

Será que ainda encontro essa gatinha?

Psss psss psss

1Trecho da música História de Uma Gata de Sergio Bardotti e Luis Enrique Bacalov. Versão em português de Chico Buarque.

02/10/2012

Jorge me escreveu hoje me comparando com uma gata. Ele é todo mágico e cheio de metáforas. É a primeira vez que alguém escreve um texto de verdade para mim, fora as cartinhas do ginásio. E que texto! Quando disse que era escritor esperava, não sei, algo mais rebuscado. Nunca conheci um escritor antes e o título soa tão imponente. Não sei porque, esperava algo mais complicado, intelectual, difícil de entender, como um desses textos que obrigam a gente a ler na faculdade. Acho que a gente está tão traumatizada por ter a leitura enfiada goela abaixo que já espera por enfado. Ledo engano! Pois Jorge escreve exatamente como fala, cheio de onomatopeias e quase cantando, surgem rimas e nunca sei se é de propósito, às vezes parece um repente. Quebrou a imagem que tinha do escritor sério diante da tela. Parece mais [ ]. O vejo como um menino debaixo de uma árvore brincando com um lápis. Com a sabedoria ingênua que só as crianças têm.

E é isso que me confunde e encanta, por um lado parece um menino e por outro já viajou tanto, sabe tanta coisa, tantas histórias, sabe o nome de cada artista, de cada música, de cada filme, de cada diretor. Sou uma desgraça para essas coisas. Ele fala francês! Morou na França. Meu sonho é ir para lá, aprender a língua, tão linda. Mas ele não é do tipo que fica cagando cultura, se exibindo, fazendo listas do que sabe. Está sempre esmiuçando uma ideia e para torná-la clara usa todos os recursos que têm, sai citando deus e o diabo buscando o melhor exemplo, mas soa honesto, sincero, como se de verdade quisesse se fazer entender e não mostrar que sabe. E interrompe a conversa para brincar com um cachorro que passa, para no meio da rua para olhar uma joaninha. E canta, canta, canta…Não que seja assim um cantor desses oh, mas canta com vontade, dá gosto de ouvir.

E é aqui que entram minhas dúvidas, parece que esse doidinho canta até demais. Lima me disse que ele está sempre cantando uma menina diferente. Não é de se admirar, um rapaz sensível só pode mesmo fazer sucesso nessa terra de jagunço, cafuçu e tabacudo. O que Recife tem de mulher falta de homem.

A carta de Jorge deixou clara sua intenção de um novo encontro, mas vale a pena? Por um lado seria bom ter alguém determinado como ele ao meu lado. Pela sua história de vida, ele é o tipo de pessoa que realmente vai atrás do que acredita e com disciplina consegue o que quer e é justamente isso que preciso aprender. De boas intenções o inferno está cheio. Vou deixando para amanhã, que vira depois de amanhã. Está na hora de começar a me virar se não quiser ficar mofando aqui em Hellcife. Mas por outro lado, será que esse vira-lata não é faceiro demais? Será que é capaz de parar quieto com uma mulher só? Porque levar gaia2 na cabeça é foda!

2Do pernambuquês “chifre”, ser traído.

1. Rei morto, rei posto.

Tive o mesmo sonho outra vez. Devo parar de comer antes de dormir, ou deixar de dormir depois de comer. Ideia: fazer uma lista relacionando os ingredientes ingeridos na última refeição do dia e os sonhos consequentes. Noite anterior: fettuccine al tartufo – enterro de meu pai.

Como em todo funeral de filme, chovia. Tanto na lembrança real como no sonho. O lugar estava lotado. Guarda-chuvas negros obrigavam as pessoas a manter certa distância umas das outras. Leila chorava copiosamente para fazer-se digna da herança. As lágrimas podem ser falsas, mas a alegria que ela proporcionou ao meu pai foi verdadeira, portanto ela merece. Tio Gildo é o mestre de cerimônias. Posta-se ao meu lado como uma esfinge protegendo minha paciência. Posso adivinhar suas três perguntas internas antes de deixar qualquer engravatado se aproximar de mim: 1. Qual o cargo do indivíduo dentro da empresa? 2. Quais são suas chances de ascensão depois do falecimento do presidente? 3. Esta ascensão, fortaleceria a mim ou ao meu sobrinho? Seguindo esta lógica simples, tio Gildo só deixa se aproximar de mim os seus puxa-sacos, não os meus.

Chovia. Gotas copiosas caiam sobre o féretro. Padre Agostino fazia o elogio de meu pai: santo Amauri, protetor dos fracos e oprimidos. Um gigante entre os homens, capaz de erguer um império apenas com o engenho de sua mente e a força do seu braço, duas dádivas que Deus ofereceu-lhe para trazer prosperidade à vizinhança. Meu pai sorria dentro do caixão. Cada pingo de chuva era uma afirmação: você é bom, você é bom. Da minha parte nunca vi meu pai usar “a força do seu braço”: sempre havia algum empregado disposto a fazê-lo no seu lugar. Claro, padre Agostino fala de maneira figurada. Nota mental: nunca levar um padre ao pé da letra.

A chuva compensa a ausência do choro entre os diplomatas. Eraldo espreme os olhos em busca de lágrimas. Aproveita um dos fios d’água que escorre do guarda-chuva para molhar os dedos e levar aos olhos em um gesto disfarçado.

Nunca vou saber se meu pai teve algum amigo de verdade. O velho era cativante, possuía um carisma natural. Lembro de uma de suas excursões anônimas que fizemos juntos. Inspirado pelo califa Harun al-Rashid, o velho se disfarçava de pobre para lidar com o povo. E mesmo nessa situação, supostamente sem ter nada de material para oferecer, meu pai tinha uma presença marcante. Quando falava, a gente ouvia-lhe e tratava-lhe com respeito e admiração. Mas de que valiam suas qualidades em meio a uma trupe de sangue-sugas? A diretoria da empresa é um ninho de víboras. Só querem saber de tirar proveito e são capazes das maiores acrobacias em busca de recompensa. E divirto-me com isso como se desse comida aos macacos. Veja o Eraldo. Aí está ele molhando mais uma vez os olhos com a água da chuva. Se o fizer uma terceira vez sem que ninguém mais perceba dar-lhe-ei uma promoção.

Mamãe não gostava que agisse assim. Dizia que anel de ouro não é para focinho de porco. Que quem compra afeto acaba sem teto. Santa mãezinha! Ela com certeza saberia uma medicina para espantar meus pesadelos. Em seu funeral também chovia, mas então eu chorava de verdade. Sequei com o tempo. Há onze anos, nos meus tenros dezesseis, tudo me emocionava. Agora resta-me uma máscara de alegria, uma postagem sorridente nas redes sociais e a satisfação digital de muitas curtidas.

Tio Gildo arranja logo uma saída para minha falta de lágrimas. Comenta para um grupo ao redor em um tom perfeito entre discreto e relevante:

– O pobre Enzo já sofreu tanto que nem chora mais... Primeiro a mãe, agora o pai. Sofrimento maior deixa a gente assim, perplexo. Queria poder emprestar minhas lágrimas para ele. Mas as lágrimas de quem perdeu o irmão não valem o lamento de um filho que perdeu o pai.

Esse é o tio Gildo que conheço, um mestre em massagear o ego alheio enquanto pontua sutilmente suas próprias qualidades e resignação. Sua estratégia só não funciona muito bem quando se trata de Luigi. O amor que tem pelo seu filho é tão grande, que ele não pode evitar de elogiá-lo descaradamente sempre que pode. Ele sabe que a melhor estratégia seria deixar Luigi ganhar respeito por si próprio, por isso sempre faz um adendo forçado depois de exaltá-lo:

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