— Se me permite, senhora Presidente…
— Senhora Presidente, este é o doutor Peter Valerian, do California Institute of Technology, um dos pioneiros neste campo.
— Queira dizer, doutor Valerian.
— Esta é uma transmissão intencional para nós. Eles sabem que estamos aqui. Fazem alguma idéia, em virtude de terem interceptado a nossa transmissão de 1936, do alcance da nossa tecnologia, da nossa inteligência. Não se dariam a todo este trabalho se não quisessem que compreendêssemos a mensagem. Algures, nesta, encontra-se a chave para nos ajudar a compreendê-la. É apenas uma questão de acumular todos os dados e analisá-los muito cuidadosamente.
— Bem, de que lhe parece que a Mensagem trata?
— Não encontro maneira nenhuma de o dizer, senhora Presidente. Posso apenas repetir o que a doutora Arroway disse. «É uma Mensagem intrincada e complexa. A civilização emissora está ansiosa por que a recebamos. Talvez tudo isto seja um pequeno volume da Encyclopaedia Galactica. A estrela Vega tem cerca de três vezes mais massa do que o Sol e é cerca de cinqüenta vezes mais luminosa. Em virtude de queimar o seu combustível nuclear tão depressa, tem uma duração de vida muito mais curta do que o Sol…
— Sim, talvez algo esteja prestes a correr mal em Vega — interrompeu o diretor da Central Intelligence. — Talvez o seu planeta vá ser destruído. Talvez eles queiram que quaisquer outros saibam da sua civilização antes de desaparecerem.
— Ou — opinou Kitz — talvez andem à procura de um novo lugar para se mudarem, e a Terra convir-lhes-ia perfeitamente. Talvez não tenha sido por acaso que optaram por enviar-nos uma imagem de Adolph Hitler.
— Calma — pediu Ellie —, há uma quantidade de possibilidades, mas nem tudo é possível. Não existe nenhuma maneira de a civilização emissora saber se estamos a receber a Mensagem, e muito menos se estamos a fazer algum progresso na sua decifração. Se considerarmos a Mensagem ofensiva, não somos obrigados a responder. E, mesmo que respondêssemos, eles só receberiam a resposta ao fim de vinte e seis anos, e passariam mais vinte e seis anos antes de poderem responder-lhe. A velocidade da luz é grande, mas não é infinitamente grande. Estamos muito bem isolados de Vega. E, se houver alguma coisa que nos preocupe a respeito desta nova Mensagem, dispomos de décadas para decidir o que fazer a seu respeito. Não entremos já em pânico. Pronunciou as últimas palavras ao mesmo tempo que dirigia um sorriso agradável a Kitz.
— Aprecio essas palavras, doutora Arroway — declarou a presidente. — Mas as coisas estão a acontecer depressa. Demasiado depressa. E há demasiados «talvez». Ainda não fiz sequer uma comunicação pública a respeito de tudo isto. Nem sequer dos números primos, quanto mais da baralhada do Hitler. Agora temos de pensar nesse «livro» que diz estarem eles a enviar. E, em virtude de vocês, cientistas, não se coibirem nada de falar uns com os outros, os boatos voam. Phyllis, onde está aquela pasta? Cá está, olhe para estes cabeçalhos.
Brandidos sucessivamente de braço estendido, todos eles transmitiam a mesma mensagem com pequenas variações de arte jornalística: «Doutora espacial fala de radiespetáculo de monstros com olhos de insetos», «Telegrama astronômico aponta para existência de inteligência extraterrestre», «Voz do céu?» «Vêm aí os alienígenas! Vêm aí os alienígenas!». A presidente deixou os recortes cair para a mesa.
— Pelo menos a história do Hitler ainda não transpirou. Estou à espera desses cabeçalhos: «Hitler vivo e bem no espaço, dizem EUA.» E pior. Muito pior. Acho que seria conveniente interromper esta reunião e voltarmos a reunir-nos mais tarde.
— Se me permite, senhora Presidente — interveio Der Heer hesitantemente, com evidente relutância. — Peço que me desculpe, mas há algumas implicações internacionais que creio deverem ser debatidas agora.
A presidente limitou-se a suspirar, aquiescente. Der Heer continuou:
— Diga-me se o que vou dizer está certo, doutora Arroway. Todos os dias a estrela Vega nasce sobre o deserto do Novo México e depois vocês recebem seja qual for a página desta complexa transmissão — seja ela o que for — que suceda eles estarem a enviar para a Terra nesse momento. Oito horas mais tarde, ou coisa parecida, a estrela põe-se. Certo até agora? Muito bem. No dia seguinte, a estrela volta a nascer a oriente, mas vocês perderam algumas páginas durante o tempo em que foi impossível observá-la, depois de ela se ter posto na noite anterior. Certo? Portanto, é como se estivessem a receber páginas que passam de trinta para cinqüenta e depois de oitenta para cem, etc. Por muito pacientemente que observemos, vão-nos faltar enormes quantidades de informação. Lacunas. Mesmo que eventualmente a mensagem se repita, vamos ter lacunas.
— É inteiramente certo. — Ellie levantou-se e aproximou-se de um enorme globo do mundo. Era evidente que a Casa Branca se opunha à obliqüidade da Terra; o eixo daquele globo era desafiadoramente vertical. Hesitante, ela fê-lo girar. — A Terra gira. Precisamos de radiotelescópios regularmente distribuídos por muitas longitudes, se não queremos lacunas. Qualquer outra nação que observe apenas o seu próprio território vai imergir na mensagem e emergir da mensagem — talvez até nas partes mais interessantes. Este é um problema do mesmo tipo que uma nave espacial interplanetária americana enfrenta. Transmite as suas descobertas para a Terra quando passa por algum planeta, mas os EUA podem estar voltados para o outro lado nessa altura. Por isso, a NASA tratou do necessário para que três estações radiorrastreadoras fossem regularmente distribuídas em longitude à volta da Terra. Ao longo das décadas têm desempenhado soberbamente o seu papel. Mas a sua voz emudeceu timidamente e ela olhou de frente para P. L. Garrison, o administrador da NASA.
Homem magro, macilento e de ar amigável, ele pestanejou.
— Obrigado. Sim. Chama-se Deep Space Network e orgulhamo-nos muito dela. Temos estações no deserto do Mojave, em Espanha e na Austrália. Claro que os fundos não chegam, mas, com uma pequena ajuda, creio que conseguiríamos acelerar.
— Espanha e Austrália? — perguntou a presidente.
— Para trabalho puramente científico — disse o secretário de Estado. — Estou certo de que não há nenhum problema. No entanto, se este programa de investigação tivesse implicações políticas, poderia tornar-se um pouco arriscado.
As relações americanas com ambos os países tinham arrefecido ultimamente.
— Não existe dúvida nenhuma de que isto tem implicações políticas — declarou a presidente, um pouco agastada.
— Mas nós não temos de ficar presos à superfície da Terra — interveio um general da Força Aérea. — Podemos vencer o período de rotação. Precisamos apenas de um grande radiotelescópio em órbita terrestre.
— Muito bem — disse a presidente, a olhar em redor da mesa. — Temos um radiotelescópio espacial? Quanto tempo levaria a pôr um no ar? Quem percebe disso? Doutor Garrison?
— Hum… não, senhora Presidente. Nós na NASA apresentamos uma proposta para o Maxwell Observatory em cada um dos últimos três anos fiscais, mas o OMB retirou-a todas as vezes do orçamento. Temos um estudo de concepção pormenorizado, evidentemente, mas seriam precisos anos em, pelo menos três anos — para podermos pô-lo no ar. E acho que devo recordar a toda a gente que, até ao último Outono, os Russos tiveram a funcionar em órbita terrestre um telescópio de onda milimétrica a submilimétrica. Não sabemos por que motivo falhou, mas eles estariam em melhor situação para enviar uns cosmonautas lá acima, arranjá-lo, do que nós para construir e lançar um a partir do zero.
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