José Saramago - As Intermitências da Morte

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louca, pensou, mas lá que é uma mulher estranha, sobre isso não há

dúvida. Acabou de comer e voltou à sala de música, ou do piano, as

duas maneiras por que a temos designado até agora quando teria sido

muito mais lógico chamar-lhe sala do violoncelo, uma vez que é este

instrumento o ganha-pão do músico, em todo o caso há que reconhecer

que não soaria bem, seria como se o lugar se degradasse, como se

perdesse uma parte da sua dignidade, bastará seguir a escala descen-

dente para compreender o nosso raciocínio, sala de música, sala do

piano, sala do violoncelo, até aqui ainda seria aceitável, mas imagine-se

aonde iríamos parar se começássemos a dizer sala do clarinete, sala do

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pífaro, sala do bombo, sala dos ferrinhos. As palavras também têm a

sua hierarquia, o seu protocolo, os seus títulos de nobreza, os seus

estigmas de plebeu. o cão veio com o dono e foi-se-lhe deitar ao lado

depois de ter dado as três voltas sobre si mesmo que eram a única

recordação que lhe havia ficado dos tempos em que havia sido lobo, o

músico afinava o violoncelo pelo lá do diapasão, restabelecia amorosa-

mente as harmonias do instrumento depois do bruto trato que a

trepidação do táxi sobre as pedras da calçada lhe infligira. Por

momentos havia conseguido esquecer a mulher do camarote, não

exactamente a ela, mas à inquietante conversação que haviam mantido

à porta dos artistas, se bem que a violenta troca de palavras no táxi

continuava a ouvir-se lá atrás, como um abafado rufar de tambores. Da

mulher do camarote não se esquecia, da mulher do camarote não queria

esquecer-se. Via-a de pé, com as mãos cruzadas sobre o peito, sentia que

lhe tocava o seu olhar intenso, duro como diamante e como ele

resplandecendo quando ela sorriu. Pensou que no sábado a tornaria a

ver, sim, vê-la-ia, mas ela já não se poria de pé nem cruzaria as mãos

sobre o peito, nem o olharia de longe, esse momento mágico havia sido

engolido, desfeito pelo momento seguinte, quando se virou para a ver

pela derradeira vez, assim o cria, e ela já lá não estava. o diapasão

regressara ao silêncio, o violoncelo recuperara a afinação e o telefone

tocou. o músico sobressaltou-se, olhou o relógio, quase uma e meia.

Quem diabo será a esta hora, pensou. Levantou o auscultador e durante

uns segundos ficou à espera. Era absurdo, claro, ele é que deveria falar,

dizer o nome, ou o número do telefone, provavelmente responderiam

do outro lado, Foi engano, desculpe, mas a voz que falou tinha

preferido perguntar, É o cão que está a atender o telefone, se é ele, ao

menos que faça o favor de ladrar, o violoncelista respondeu, sim, sou o

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cão, mas já há muito tempo que deixei de ladrar, também perdi o hábito

de morder, a não ser a mim mesmo quando a vida me repugna, Não se

zangue, estou a telefonar-lhe para que me perdoe, a nossa conversa

meteu-se logo por um atalho perigoso, e o resultado viu-se, um

desastre, Alguém a desviou para lá, mas não eu, A culpa foi toda

minha, em geral sou uma pessoa equilibrada, serena, Não me pareceu

nem uma cousa nem outra, Talvez sofra de dupla personalidade, Nesse

caso devemos ser iguais, eu próprio sou cão e homem, As ironias não

soam bem na sua boca, suponho que o seu ouvido musical já lho terá

dito, As dissonâncias também fazem parte da música, minha senhora,

Não me chame minha senhora, Não tenho outro modo de tratá-la,

ignoro como se chama, o que faz, o que é, A seu tempo o virá a saber, as

pressas são más conselheiras. mesmo agora acabámos de conhecer-nos,

Vai mais adiantada que eu, tem o meu número de telefone, Para isso

servem os serviços de informações, a recepção encarregou-se de

averiguar. É pena que este aparelho seja antigo. Porquê. se fosse dos

actuais eu já saberia donde me está a falar, Estou a falar-lhe do quarto

do hotel, Grande novidade, E quanto à antiguidade do seu telefone,

tenho de lhe dizer que contava que assim fosse, que não me surpreende

nada, Porquê, Porque em si tudo parece antigo, é como se em lugar de

cinquenta anos tivesse quinhentos. Como sabe que tenho cinquenta

anos, sou muito boa a calcular idades, nunca falho, Está-me a parecer

que presume demasiado de nunca falhar, Leva razão, hoje, por

exemplo, falhei duas vezes, posso jurar que nunca me tinha acontecido,

Não percebo. Tenho uma carta para lhe entregar e não lha entreguei.

podia tê-lo feito à saída do teatro ou no táxi, Que carta é essa,

Assentemos em que a escrevi depois de ter assistido ao ensaio do seu

concerto, Estava lá, Estava, Não a vi, É natural, não podia ver-me, De

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qualquer maneira, não é o meu concerto, sempre modesto, E assen-

temos não é a mesma cousa que ser certo, Às vezes, sim, Mas neste caso,

não, Parabéns, além de modesto, perspicaz. Que carta é essa, Também a

seu tempo o saberá, Porquê não ma entregou, se teve oportunidade

para isso, Duas oportunidades. Insisto, porquê não ma deu, Isso é o que

eu espero vir a saber, talvez lha entregue no sábado, depois do concerto,

Segunda-feira já terei saído da cidade, Não vive aqui, Viver aqui, o que

se chama viver, não ViVo, Não entendo nada, falar consigo é o mesmo

que ter caído num labirinto sem portas. ora aí está uma excelente

definição da vida, Você não é a vida, sou muito menos complicada que

ela. Alguém escreveu que cada um de nós é por enquanto a vida, sim,

por enquanto. só por enquanto. Quem dera que esta confusão ficasse

esclarecida depois de amanhã, a carta, a razão porque não ma deu,

tudo, estou cansado de mistérios, Isso a que chama mistérios é muitas

vezes uma protecção. há os que levam armaduras, há os que levam

mistérios, Protecção ou não, quero ver essa carta, se eu não falhar

terceira vez, vê-la-á, E porquê irá falhar terceira vez, se tal suceder só

poderá ser pela mesma razão que falhei nas anteriores, Não brinque

comigo, estamos como no jogo do gato e do rato, o tal jogo em que o

gato sempre acaba por apanhar o rato, Excepto se o rato conseguir pôr

um guizo no pescoço do gato. A resposta é boa, sim senhor, mas não

passa de um sonho fútil, de uma fantasia de desenhos animados, ainda

que o gato estivesse a dormir, o ruído acordá-lo-a, e então adeus rato,

sou eu esse rato a quem está a dizer adeus, se estamos metidos no jogo,

um dos dois terá de sê-lo forçosamente. e eu não o vejo a si com figura

nem astúcia para gato, Portanto condenado a ser rato toda a vida,

Enquanto ela durar, sim, um rato violoncelista,outro desenho animado,

Ainda não reparou que os seres humanos são desenhos animados, Você

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também, suponho. Teve ocasião de ver o que pareço, uma linda mulher,

obrigada. Não sei se já se apercebeu de que esta conversação ao telefone

se parece muito com um flarte, se a telefonista do hotel se diverte a

escutar as conversas dos hóspedes. já terá chegado a essa mesma

conclusão, Mesmo que seja assim, não há que temer consequências

graves, a mulher do camarote, cujo nome continuo a ignorar, partirá na

segunda-feira. Para não voltar nunca mais, Tem a certeza, Dificilmente

se repetirão os motivos que me fizeram vir desta vez.

Dificilmente não significa que venha a ser impossível. Tomarei as

providências necessárias para não ter de repetir a viagem. Apesar de

tudo valeu a pena, Apesar de tudo, quê. Desculpe, não fui delicado,

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