José Saramago - As Intermitências da Morte

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pensava que se tratava de uma historieta, de um mito, de uma lenda

como tantas e tantas outras, por exemplo, a fénix renascida das suas

próprias cinzas, o homem da lua carregando com um molho de lenha às

costas por ter trabalhado em dia santo, o barão de münchhausen que,

puxando pelos seus próprios cabelos, se salvou de morrer afogado num

pântano e ao cavalo que montava, o drácula da transilvânia que não

morre por mais que o matem, a não ser que lhe cravem uma estaca no

coração, e mesmo assim não falta quem duvide, a famosa pedra, na

antiga irlanda, que gritava quando o rei verdadeiro lhe tocava, a fonte

do epiro que apagava os archotes acesos e inflamava os apagados, as

mulheres que deixavam escorrer o sangue da menstruação pelos

campos cultivados para aumentar a fertilidade da sementeira, as

formigas do tamanho de cães, os Cães do tamanho de formigas, a

ressurreição no terceiro dia porque não tinha podido ser no segundo.

Estás muito bonita, comentou a gadanha, e era verdade, a morte estava

muito bonita e era jovem, teria trinta e seis ou trinta e sete anos Como

haviam calculado os antropólogos, Falaste, finalmente, exclamou a

morte, Pareceu-me haver um bom motivo, não é todos os dias que se vê

a morte transformada num exemplar da espécie de quem é inimiga,

Quer dizer que não foi por me ter achado bonita, Também, também,

mas igualmente teria falado se me tivesses aparecido na figura de uma

mulher gorda vestida de preto como a monsieur marcel proust, Não sou

gorda nem estou vestida de preto, e tu não tens nenhuma ideia de quem

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foi marcel proust, Por razões óbvias, as gadanhas, tanto esta de ceifar

gente como as outras, vulgares, de ceifar erva, nunca puderam aprender

aler, mas todas fomos dotadas de boa memória, elas da seiva, eu do

sangue, ouvi dizer algumas vezes por aí o nome de proust e liguei os

factos, foi um grande escritor, um dos maiores que jamais existiram, e o

verbete dele deverá estar nos antigos arquivos, sim, mas não nos meus,

não fui eu a morte que o matou, Não era então deste país o tal monsieur

marcel proust, perguntou a gadanha, Não, era de um outro, de um que

se chama frança, respondeu a morte, e notava-se um certo tom de

tristeza nas suas palavras, Que te console do desgosto de não teres sido

tu a matá-lo o bonita que te vejo, benza-te deus, ajudou a gadanha,

sempre te considerei uma amiga, mas o meu desgosto não vem de não o

ter matado eu, Então, Não saberia explicar. A gadanha olhou a morte

com estranheza e achou preferível mudar de assunto, Aonde foste

encontrar o que levas posto, perguntou, Há muito por onde escolher

atrás daquela porta, aquilo é como um armazém, como um enorme

guarda-roupa de teatro, são centenas de armários, centenas de

manequins, milhares de cabides, Levas-me lá, pediu a gadanha, seria

inútil, não entendes nada de modas nem de estilos, À simples vista não

me parece que tu entendas muito mais, não creio que as diferentes

partes do que vestes joguem bem umas com outras, Como nunca sais

desta sala, ignoras o que se usa nos dias de hoje, Pois dir-te-ei que essa

blusa se parece muito a outras que recordo de quando levava uma vida

activa, As modas são rotativas, vão e voltam, voltam e vão, se eu te

contasse o que vejo por essas ruas, Acredito sem que tenhas de mo

dizer, Não achas que a blusa acerta bem com a cor das calças e dos

sapatos, Creio que sim, concedeu a gadanha, E com este gorro que levo

na cabeça, Também, E com este casaco de pele, Também, E com esta

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bolsa ao ombro, Não digo que não, E com estes brincos nas orelhas,

Rendo-me, Estou irresistível, confessa, Depende do tipo de homem a

quem queiras seduzir, Em todo o caso parece-te mesmo que vou bonita,

Fui eu quem o disse em primeiro lugar, sendo assim, adeus, estarei de

regresso no domingo, o mais tardar na segunda-feira, não te esqueças

de despachar o correio de cada dia, suponho que não será demasiado

trabalho para quem passa o seu tempo encostado à parede, Levas a

carta, perguntou a gadanha, que decidira não reagir à ironia, Levo, vai

aqui dentro, respondeu a morte, tocando a bolsa com as pontas de uns

dedos finos, bem tratados, que a qualquer um apeteceria beijar.

A morte apareceu à luz do dia numa rua estreita, com muros de um

lado e do outro, já quase fora da cidade. Não se vê qualquer porta ou

portão por onde possa ter saído, também não se percebe nenhum

indício que nos permita reconstituir o caminho que desde a fria sala

subterrânea a trouxe até aqui. o sol não molesta órbitas vazias, por isso

os crânios resgatados nas escavações arqueológicas não têm necessi-

dade de baixar as pálpebras quando a luz súbita lhes bate na cara e o

feliz antropólogo anuncia que o seu achado ósseo tem todo o aspecto de

ser um neanderthal, embora um exame posterior venha a demonstrar

que afinal se trata de um vulgar homo sapiens. A morte, porém, esta

que se fez mulher, tira da bolsa uns óculos escuros e com eles defende

os seus olhos agora humanos dos perigos de uma oftalmia mais do que

provável em quem ainda terá de habituar-se às refulgências de uma

manhã de verão. A morte desce a rua até onde os muros terminam e os

primeiros prédios se levantam. A partir daí encontra-se em terreno

conhecido, não há uma só casa destas e de todas quantas se estendem

diante dos seus olhos até aos limites da cidade e do país em que não

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tenha estado alguma vez, e até mesmo naquela obra em construção terá

de entrar daqui a duas semanas para empurrar de um andaime um

pedreiro distraído que não reparará onde vai pôr o pé. Em casos como

estes é nosso costume dizer que assim é a vida, quando muito mais

exactos seríamos se disséssemos que assim é a morte. A esta rapariga de

óculos escuros que está entrando num táxi não lhe daríamos nós tal

nome, provavelmente acharíamos que seria a própria vida em pessoa e

correríamos ofegantes atrás dela, ordenaríamos ao condutor doutro táxi,

se o houvesse, siga aquele carro, e seria inútil porque o táxi que a leva já

virou a esquina e não há aqui outro ao qual pudéssemos suplicar, Por

favor, siga aquele carro. Agora, sim, já tem todo o sentido dizermos que

é assim a vida e encolher resignados os ombros. Seja como for, e que

isso nos sirva ao menos de consolação, a carta que a morte leva na sua

bolsa tem o nome de outro destinatário e outro endereço, a nossa vez de

cair do andaime ainda não chegou. Ao contrário do que poderia

razoavelmente prever-se, a morte não deu ao motorista do táxi a

direcção do violoncelista, mas sim a do teatro em que ele toca. É certo

que decidira apostar pelo seguro depois dos sucessivos desaires sofri-

dos, mas não havia sido por uma mera casualidade que tinha começado

por se transformar em mulher, ou, como um espírito gramático poderia

também ser levado apensar, por aquilo dos géneros que havíamos

sugerido antes, ambos eles, neste caso, da mulher e da morte, femi-

ninos. Apesar da sua absoluta falta de experiência do mundo exterior,

particularmente no capítulo dos sentimentos, apetites e tentações, a

gadanha havia acertado em cheio no alvo quando, em certa altura da

conversa com a morte, se perguntou sobre o tipo do homem a quem ela

pretendia seduzir. Esta era a palavra-chave, seduzir. A morte poderia

ter ido directamente a casa do violoncelista, tocar-lhe à campainha e,

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