José Saramago - As Intermitências da Morte
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por baixo da cara que nos serve de mostruário. No fundo, no fundo,
manda a verdade que se diga, aos olhos da morte todos somos da
mesma maneira feios, inclusive no tempo em que havíamos sido
rainhas de beleza ou reis do que masculinamente lhe equivalha.
Aprecia-lhe os dedos fortes, calcula que as polpas da mão esquerda
devem ter-se tornado a pouco e pouco mais duras, talvez até levemente
calosas, a vida tem destas e doutras injustiças, veja-se este caso da mão
esquerda, que tem à sua conta o trabalho mais pesado do violoncelo e
recebe do público muito menos aplausos que a mão direita. Terminado
o jantar, o músico lavou a louça, dobrou cuidadosamente pelos vincos a
toalha e o guardanapo, meteu-os numa gaveta do armário e antes de
sair da cozinha olhou em redor para ver se havia ficado alguma cousa
fora do seu lugar. o cão foi atrás dele para a sala de música, onde a
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morte os esperava. Ao contrário da suposição que havíamos feito no
teatro, o músico não tocou a suite de bach. um dia, em conversa com
alguns colegas da orquestra que em tom ligeiro falavam sobre a
possibilidade da composição de retratos musicais, retratos autênticos,
não tipos, como os de samuel goldenberg e schmuyle, de mussorgsky,
lembrou-se de dizer que o seu retrato, no caso de existir de facto em
música, não o encontrariam em nenhuma composição para violoncelo,
mas num brevíssimo estudo de chopin, opus vinte e cinco, número
nove, em sol bemol maior. Quiseram saber porquê e ele respondeu que
não conseguia ver-se a si mesmo em nada mais que tivesse sido escrito
numa pauta e que essa lhe parecia ser a melhor das razões. E que em
cinquenta e oito segundos chopin havia dito tudo quanto se poderia
dizer a respeito de uma pessoa a quem não podia ter conhecido.
Durante alguns dias, como amável divertimento, os mais graciosos
chamaram-lhe cinquenta e oito segundos, mas a alcunha era por de
mais comprida para perdurar, e também porque nenhum diálogo é
possível manter com alguém que tinha decidido demorar cinquenta e
oito segundos a responder ao que lhe perguntavam. o violoncelista
acabaria por ganhar a amigável contenda. Como se tivesse percebido a
presença de um terceiro em sua casa, a quem, por motivos não
explicados, deveria falar de si mesmo, e para não ter de fazer o longo
discurso que até a vida mais simples necessita para dizer de si mesma
algo que valha a pena, o violoncelista sentou-se ao piano, e, após uma
breve pausa para que a assistência se acomodasse, atacou a composição.
Deitado ao lado do atril e já meio adormecido, o cão não pareceu dar
importância à tempestade sonora que se havia desencadeado por cima
da sua cabeça, quer fosse por a ter ouvido outras vezes, quer fosse
porque ela não acrescentava nada ao que conhecia do dono. A morte,
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porém, que por dever de ofício tantas outras músicas havia escutado,
com particular relevância para a marcha fúnebre do mesmo chopin ou
para o adagio assai da terceira sinfonia de beethoven, teve pela primeira
vez na sua longuíssima vida a percepção do que poderá chegar a ser
uma perfeita convizinhança entre o que se diz e o modo por que se está
dizendo. Importava-lhe pouco que aquele fosse o retrato musical do
violoncelista, o mais provável é que as alegadas parecenças, tanto as
efectivas como as imaginadas, as tivesse ele fabricado na sua cabeça, o
que à morte impressionava era ter-lhe parecido ouvir naqueles
cinquenta e oito segundos de música uma transposição rítmica e
melódica de toda e qualquer vida humana, corrente ou extraordinária,
pela sua trágica brevidade, pela sua intensidade desesperada, e também
por causa daquele acorde final que era como um ponto de suspensão
deixado no ar, no vago, em qualquer parte, como se, irremediavel-
mente, alguma cousa ainda tivesse ficado por dizer. o violoncelista
havia caído num dos pecados humanos que menos se perdoa, o da
presunção, quando imaginara ver a sua própria e exclusiva figura num
retrato em que afinal se encontravam todos, a qual presunção, em todo
o caso, se repararmos bem, se não nos deixarmos ficar à superfície das
cousas, igualmente poderia ser interpretada como uma manifestação do
seu radical oposto, ou seja, a humildade, uma vez que, sendo aquele
retrato de todos, também eu teria de estar retratado nele. A morte
hesita, não acaba de decidir-se pela presunção ou pela humildade, e,
para desempatar, para tirar-se de dúvidas, entretém-se agora a observar
o músico, esperando que a expressão da cara lhe revele o que está a
faltar, ou talvez as mãos, as mãos são dois livros abertos, não pelas
razões, supostas ou autênticas, da quiromancia, com as suas linhas do
coração e da vida, da vida, meus senhores, ouviram bem, da vida, mas
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porque falam quando se abrem ou se fecham, quando acariciam ou
golpeiam, quando enxugam uma lágrima ou disfarçam um sorriso,
quando se pousam sobre um ombro ou acenam um adeus, quando
trabalham, quando estão quietas, quando dormem, quando despertam,
e então a morte, terminada a observação, concluiu que não é verdade
que o antónimo da presunção seja a humildade, mesmo que o estejam
jurando a pés juntos todos os dicionários do mundo, coitados dos
dicionários, que têm de governar-se eles e governar-nos anos com as
palavras que existem, quando são tantas as que ainda faltam, por
exemplo, essa que iria ser o contrário activo da presunção, porém em
nenhum caso a rebaixada cabeça da humildade, essa palavra que vemos
claramente escrita na cara e nas mãos do violoncelista, mas que não é
capaz de dizer-nos como se chama.
Calhou ser domingo o dia seguinte. Estando o tempo de boa cara,
como sucede hoje, o violoncelista tem o costume de ir passar a manhã
num dos parques da cidade em companhia do cão e de um ou dois
livros. o animal nunca se afasta muito, mesmo quando o instinto o faz
andar de árvore em árvore a farejar as mijadas dos congéneres. Alça a
perna de vez em quando, mas por aí se fica no que à satisfação das suas
necessidades excretórias se refere. A outra, por assim dizer complemen-
tar, resolve-a disciplinadamente no quintal da casa onde mora, por isso
o violoncelista não tem de ir atrás dele recolhendo-lhe os excrementos
num saquinho de plástico com a ajuda da pazinha especialmente
desenhada para esse fim. Tratar-se-ia de um notável exemplo dos
resultados de uma boa educação canina se não se desse a circunstância
extraordinária de ter sido uma ideia do próprio animal, o qual é de
opinião de que um músico, um violoncelista, um artista que se esforça
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por chegar a tocar dignamente a suite número seis opus mil e doze em
ré maior de bach, é de opinião, dizíamos, que não está bem que um
músico, um violoncelista, um artista, tenha vindo ao mundo para
levantar do chão as cacas ainda fumegantes do seu cão ou de qualquer
outro. Não é próprio, bach, por exemplo, disse este um dia em conversa
com o dono, nunca o fez. o músico respondeu que desde então os
tempos mudaram muito, mas foi obrigado a reconhecer que bach, de
facto, nunca o havia feito. Embora seja apreciador da literatura em
geral, bastará olhar as prateleiras médias da sua biblioteca para o
comprovar, o músico tem uma predilecção especial pelos livros sobre
astronomia e ciências naturais ou da natureza, e hoje lembrou-se de
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