José Saramago - As Intermitências da Morte

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superior da hierarquia poderia pedir-lhe contas do bizarro despautério,

como igualmente não pensou na altíssima probabilidade de que a sua

pinturesca invenção das cartas de cor violeta fosse vista com maus

olhos pela referida instância ou outra mais acima. são estes os perigos

do automatismo das práticas, da rotina embaladora, da práxis cansada.

uma pessoa, ou a morte, para o caso tanto faz, vai cumprindo escrupu-

losamente o seu trabalho, um dia atrás de outro dia, sem problemas,

sem dúvidas, pondo toda a sua atenção em seguir as pautas superior-

mente estabelecidas, e se, ao cabo de um tempo, ninguém lhe aparece a

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meter o nariz na maneira como desempenha as suas obrigações, é certo

e sabido que essa pessoa, e assim sucedeu também à morte, acabará por

comportar-se, sem que de tal se aperceba, como se fosse rainha e

senhora do que faz, e não só isso, também de quando e de como o deve

fazer. Esta é a única explicação razoável de porquê à morte não lhe

pareceu necessário pedir autorização à hierarquia quando tomou e pôs

em execução as transcendentes decisões que conhecemos e sem as quais

este relato, feliz ou infelizmente, não poderia ter existido. E que nem

sequer nisso pensou. E agora, paradoxalmente, é no justo momento em

que não cabe em si de contentamento por descobrir que o poder de

dispor das vidas humanas é, afinal, unicamente seu e de que dele não

terá que dar satisfações a ninguém. nem hoje nem nunca, é quando os

fumos da glória ameaçam entontecê-la, que não consegue evitar aquela

receosa reflexão de uma pessoa que, mesmo a ponto de ser apanhada

em falta, milagrosamente havia escapado no último instante, Do que eu

me livrei.

Apesar de tudo, a morte que agora se está levantando da cadeira é

uma imperatriz. Não deveria estar nesta gelada sala subterrânea, como

se fosse uma enterrada viva, mas sim no cimo da mais alta montanha

presidindo aos destinos do mundo, olhando com benevolência o

rebanho humano, vendo como ele se move e agita em todas as direcções

sem perceber que todas elas vão dar ao mesmo destino, que um passo

atrás o aproximará tanto da morte como um passo em frente, que tudo é

igual a tudo porque tudo terá um único fim, esse em que uma parte de

ti sempre terá de pensar e que é a marca escura da tua irremediável

humanidade. A morte segura na mão o verbete do músico. Está ciente

de que terá de fazer alguma cousa com ele, mas ainda não sabe bem o

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quê. Em primeiro lugar deverá acalmar-se, pensar que não é agora mais

morte do que era antes, que a única diferença entre hoje e ontem é ter

maior certeza de o ser. Em segundo lugar, o facto de finalmente poder

ajustar as suas contas com o violoncelista não é motivo para se esquecer

de enviar as cartas do dia. Pensou-o e instantaneamente duzentos e

oitenta e quatro verbetes apareceram em cima da mesa, metade eram

homens. metade eram mulheres, e com eles duzentas e oitenta e quatro

folhas de papel e duzentos e oitenta e quatro sobrescritos. A morte

voltou a sentar-se, pôs de lado o verbete do músico e começou a escre-

ver. uma ampulheta de quatro horas teria deixado cair o derradeiro

grão de areia precisamente quando ela acabou de assinar a ducentésima

octogésima quarta carta. Uma hora depois os sobrescritos estavam

fechados. prontos para a expedição. A morte foi buscar a carta que três

vezes havia sido enviada e três vezes havia vindo devolvida e colocou-a

sobre a pilha dos sobrescritos de cor violeta, Vou dar-te uma última

oportunidade, disse. Fez o gesto do costume com a mão esquerda e as

cartas desapareceram. Ainda dez segundos não tinham passado quando

a carta do músico, silenciosamente, reapareceu em cima da mesa. Então

a morte disse, Assim o quiseste, assim o terás.

Riscou no verbete a data de nascimento e passou-a para um ano

depois, a seguir emendou a idade, onde estava escrito cinquenta

corrigiu para quarenta e nove. Não podes fazer isso, disse de lá a

gadanha, Já está feito, Haverá consequências, uma só, Qual, A morte,

enfim, do maldito violoncelista que se anda a divertir à minha custa,

Mas ele, coitado, ignora que já tinha de estar morto, Para mim é como se

o soubesse, seja como for, não tens poder nem autoridade para emendar

um verbete, Enganas-te, tenho todos os poderes e toda a autoridade,

sou a morte, e toma nota de que nunca o fui tanto como a partir deste

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dia, Não sabes no que te vais meter, avisou a gadanha, Em todo o

mundo há um só lugar onde a morte não se pode meter, Que lugar, Esse

a que chamam urna, caixão, tumba, ataúde, féretro, esquife, aí não entro

eu, aí só os vivos entram, depois de que eu os mate, claro, Tantas

palavras para uma só e triste cousa, É o costume desta gente, nunca

acabam de dizer o que querem.

A morte tem um plano. A mudança no ano de nascimento do músico

não foi senão o movimento inicial de uma operação em que, podemos

adiantá-lo desde já, serão empregados meios absolutamente excepcio-

nais, jamais usados em toda a história das relações da espécie humana

com a sua figadal inimiga. Como num jogo de xadrez, a morte avançou

a rainha. uns quantos lances mais deverão abrir caminho ao xeque-mate

e a partida terminará.

Poder-se-á agora perguntar por que não regressa a morte ao statu

quo ante, quando as pessoas morriam simplesmente porque tinham de

morrer, sem precisarem de esperar que o carteiro lhes trouxesse uma

carta de cor violeta. A pergunta tem a sua lógica, mas a resposta não a

terá menos. Trata-se, em primeiro lugar, de uma questão de pundonor,

de brio, de orgulho profissional, porquanto, aos olhos de toda a gente,

regressar a morte à inocência daqueles tempos seria o mesmo que

reconhecer a sua derrota. uma vez que o processo actualmente em vigor

é o das cartas de cor violeta, então terá de ser por via dele que o violon-

celista irá morrer. Bastará que nos imaginemos no lugar da morte para

compreendermos a bondade das suas razões. Claro que, como por

quatro vezes tivemos ocasião de ver, o magno problema de fazer chegar

a já cansada carta ao destinatário subsiste, e é aí que, para lograr o

almejado desiderato, entrarão em acção os meios excepcionais a que

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aludimos acima. Não antecipemos, porém, os factos, observemos o que

a morte faz neste momento. A morte, neste preciso momento, não faz

nada mais do que aquilo que sempre fez, isto é, empregando uma

expressão corrente, anda por aí, embora, a falar verdade, fosse mais

exacto dizer que a morte está, não anda.

Ao mesmo tempo, e em toda aparte. Não necessita de correr atrás

das pessoas para as apanhar, sempre estará onde elas estiverem.

Agora, graças ao método do aviso por correspondência, poderia

deixar-se ficar tranquilamente na sala subterrânea e esperar que o

correio se encarregasse do trabalho, mas a sua natureza é mais forte,

precisa de se sentir livre, desafogada. Como já dizia o ditado antigo,

galinha do mato não quer capoeira. Em sentido figurado, portanto, a

morte anda no mato. Não tornará a cair na estupidez, ou na

indesculpável fraqueza, de reprimir o que em si há de melhor, a sua

ilimitada virtude expansiva, portanto não repetirá a penosa acção de se

concentrar e manter no último limiar do visível, sem passar para o outro

lado, como havia feito na noite passada, sabe deus com que custo,

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