José Saramago - As Intermitências da Morte

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esqueleto da morte nos referimos, há sempre a possibilidade de que um

dia venha a insinuar-se na sua medonha carcaça, assim como quem não

quer a cousa, um suave acorde de violoncelo, um ingénuo trilo de

piano, ou apenas que a visão de um caderno de música aberto sobre

uma cadeira te faça lembrar aquilo em que te recusas a pensar. que não

havias vivido e que, faças o que fizeres, não poderás viver nunca. salvo

se. Tinhas observado com fria atenção o violoncelista adormecido, esse

homem a quem não conseguiste matar porque só pudeste chegar a ele

quando já era demasiado tarde, tinhas visto o cão enroscado no tapete, e

nem sequer a este animal te seria permitido tocar porque tu não és a sua

morte, e, na tépida penumbra do quarto, esses dois seres vivos que

rendidos ao sono te ignoravam só serviram para aumentar na tua

consciência o peso do malogro. Tu, que te havias habituado a poder o

que ninguém mais pode, vias-te ali impotente, de mãos e pés atados,

com a tua licença para matar zero zero sete sem validez nesta casa,

nunca, desde que és morte, reconhece-o, havias sido a esse ponto

humilhada. Foi então que saíste do quarto para a sala de música, foi

então que te ajoelhaste diante da suite número seis para violoncelo de

johann sebastian bach e fizeste com os ombros aqueles movimentos

rápidos que nos seres humanos costumam acompanhar o choro convul-

sivo, foi então, com os teus duros joelhos fincados no duro soalho, que a

tua exasperação de repente se esvaiu como a imponderável névoa em

que às vezes te transformas quando não queres ser de todo invisível.

Voltaste ao quarto, seguiste o violoncelista quando ele foi à cozinha

beber água e abrir a porta ao cão, primeiro tinha-lo visto deitado e a

dormir, agora via-lo acordado e de pé, talvez devido a uma ilusão de

óptica causada pelas riscas verticais do pijama parecia muito mais alto

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que tu, mas não podia ser, foi só um engano dos olhos, uma distorção

da perspectiva, está aí a lógica dos factos para nos dizer que a maior és

tu, morte, maior que tudo, maior que todos nós. ou talvez nem sempre

o sejas, talvez as cousas que sucedem no mundo se expliquem pela

ocasião, por exemplo, o luar deslumbrante que o músico recorda da sua

infância teria passado em vão se ele estivesse a dormir, sim, a ocasião,

porque tu já eras outra vez uma pequena morte quando regressaste ao

quarto e te foste sentar no sofá, e mais pequena ainda te fizeste quando

o cão se levantou do tapete e subiu para o teu regaço que parecia de

menina, e então tiveste um pensamento dos mais bonitos, pensaste que

não era justo que a morte, não tu, a outra, viesse um dia apagar o

brasido suave daquele macio calor animal, assim o pensaste, quem

diria, tu que estás tão habituada aos frios árctico e antárctico que fazem

na sala em que te encontras neste momento e aonde a voz do teu omi-

noso dever te chamou, o de matar aquele homem a quem, dormindo,

parecia desenhar-se-lhe na cara o ricto amargo de quem em toda a sua

vida nunca havia tido uma companhia realmente humana na cama, que

fez um acordo com o seu cão para que cada um sonhe com o outro, o

Cão com o homem, o homem com o cão, que se levanta de noite com o

seu pijama às riscas para ir à cozinha matar a sede, claro que seria mais

cómodo levar um copo de água para o quarto quando se fosse deitar,

mas não o faz, prefere o seu pequeno passeio nocturno pelo corredor até

à cozinha, no meio da paz e do silêncio da noite, com o cão que sempre

vai atrás dele e às vezes pede para ir ao quintal, outras vezes não, Este

homem tem de morrer, dizes tu.

A morte é novamente um esqueleto envolvido numa mortalha, com

o capuz meio descaído para a frente, de modo a que o pior da caveira

lhe fique tapado, mas não valia a pena tanto cuidado, se essa foi a

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preocupação, porque aqui não há ninguém para se assustar com o

macabro espectáculo, tanto mais que à vista só aparecem os extremos

dos ossos das mãos e dos pés, estes descansando nas lajes do chão, cuja

gélida frialdade não sentem, aquelas folheando, como se fossem um

raspador, as páginas do volume completo das ordenações históricas da

morte, desde o primeiro de todos os regulamentos, aquele que foi

escrito com uma só e simples palavra, matarás, até às adendas e aos

apêndices mais recentes, em que todos os modos e variantes do morrer

até agora conhecidos se encontram compilados, e deles se pode dizer

que nunca a lista se esgota. A morte não se surpreendeu com o

resultado negativo da consulta, na verdade, seria incongruente, mas

sobretudo seria supérfluo que num livro em que se determina para todo

e qualquer representante da espécie humana um ponto final, um

remate, uma condenação, a morte, aparecessem palavras como vida e

viver, como vivo e viverei. Ali só há lugar para a morte, nunca para

falar de hipóteses absurdas como ter alguém conseguido escapar a ela.

isso nunca se viu. Porventura, procurando bem, fosse possível

encontrar ainda uma vez, uma só vez, o tempo verbal eu vivi numa

desnecessária nota de rodapé, mas tal diligência nunca foi seriamente

tentada, o que leva a concluir que há mais do que fortes razões para que

nem ao menos o facto de se ter vivido mereça ser mencionado no livro

da morte. E que o outro nome do livro da morte, convém que o

saibamos, é livro do nada. o esqueleto arredou o regulamento para o

lado e levantou-se. Deu, como é seu costume quando necessita penetrar

no âmago de uma questão, duas voltas à sala, depois abriu a gaveta do

ficheiro onde se encontrava o verbete do violoncelista e retirou-o. Este

gesto acaba de fazer-nos recordar que é o momento, ou não mais o será,

por aquilo da ocasião a que nos referimos, de deixar aclarado um

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aspecto importante relacionado com o funcionamento dos arquivos que

têm vindo a ser objecto da nossa atenção e do qual, por censurável

descuido do narrador, até agora não se havia falado. Em primeiro lugar,

e ao contrário do que talvez se tivesse imaginado, os dez milhões de

verbetes que se encontram arrumados nestas gavetas não foram

preenchidos pela morte, não foram escritos por ela. Não faltaria mais, a

morte é a morte, não uma escriturária qualquer. Os verbetes aparecem

nos seus lugares, isto é, alfabeticamente arquivados, no instante exacto

em que as pessoas nascem, e desaparecem no exacto instante em que

elas morrem. Antes da invenção das cartas de cor violeta, a morte não

se dava nem ao trabalho de abrir as gavetas, a entrada e saída de

verbetes sempre se fez sem confusões, sem atropelos, não há memória

de se terem produzido cenas tão deploráveis como seriam uns a dizer

que não queriam nascer e outros a protestar que não queriam morrer. os

verbetes das pessoas que morrem vão, sem que ninguém os leve, para

uma sala que se encontra por baixo desta, ou melhor, tomam o seu

lugar numa das salas que subterraneamente se vão sucedendo em

níveis cada vez mais profundos e que já estão a caminho do centro

ígneo da terra, onde toda esta papelada algum dia acabará por arder.

Aqui, na sala da morte e da gadanha, seria impossível estabelecer um

critério parecido com o que foi adoptado por aquele conservador de

registo civil que decidiu reunir num só arquivo os nomes e os papéis,

todos eles, dos vivos e dos mortos que tinha à sua guarda, alegando que

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