José Saramago - As Intermitências da Morte

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sanduíches e outras minudências alimentícias de natureza semelhante.

sempre que vinha a este parque pela manhã, o violoncelista era cliente e

não variava na encomenda que fazia. Duas sanduíches de atum com

maionese e um copo de vinho para si, uma sanduíche de carne mal

passada para o cão. se o tempo estava agradável, como hoje, sentavam-

se no chão, à sombra de uma árvore, e, enquanto comiam, conversavam.

o cão guardava sempre o melhor para o fim, começava por despachar as

fatias de pão e só depois é que se entregava aos prazeres da carne,

mastigando sem pressa, conscientemente, saboreando os sucos.

Distraído, o violoncelista comia como calhava, pensava na suite em ré

maior de bach, no prelúdio, uma certa passagem levada dos diabos em

que lhe acontecia deter-se algumas vezes, hesitar, duvidar, que é o pior

que pode suceder na vida a um músico. Depois de acabarem de comer,

estenderam-se um ao lado do outro, o violoncelista dormitou um

pouco, o cão já estava a dormir um minuto antes. Quando acordaram e

voltaram para casa, a morte foi com eles. Enquanto o cão corria ao

quintal para descarregar a tripa, o violoncelista pós a suite de bach no

atril, abriu-a na passagem escabrosa, um pianíssimo absolutamente

diabólico, e a implacável hesitação repetiu-se. A morte teve pena dele,

Coitado, o pior é que não vai ter tempo para conseguir, aliás, nunca o

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têm, mesmo os que chegaram perto sempre ficaram longe. Então, pela

primeira vez, a morte reparou que em toda a casa não havia um único

retrato de mulher, salvo de uma senhora de idade que tinha todo o ar

de ser a mãe e que estava acompanhada por um homem que devia ser o

pai.

Tenho um grande favor a pedir-te, disse a morte. Como sempre, a

gadanha não respondeu, o único sinal de ter ouvido foi um estremeci-

mento pouco mais que perceptível, uma expressão geral de desconcerto

físico, posto que jamais haviam saído daquela boca semelhantes

palavras, pedir um favor, e ainda por cima grande. Vou ter de estar fora

durante uma semana, continuou a morte, e necessito que durante esse

tempo me substituas no despacho das cartas, evidentemente não te

estou a pedir que as escrevas, apenas que as envies, só terás de emitir

uma espécie de ordem mental e fazer vibrar um poucochinho a tua

lâmina por dentro, assim como um sentimento, uma emoção, qualquer

cousa que mostre que estás viva, isso bastará para que as cartas sigam

para o seu destino. A gadanha manteve-se calada, mas o silêncio

equivalia a uma pergunta. É que não posso estar sempre a entrar e a sair

para tratar do correio, disse a morte, tenho de me concentrar totalmente

na resolução do problema do violoncelista, descobrir a maneira de lhe

entregar a maldita carta. A gadanha esperava. A morte prosseguiu, A

minha ideia é esta, escrevo de uma assentada todas as cartas referentes

à semana em que estarei ausente, procedimento que me permito a mim

mesma usar considerando o carácter excepcional da situação, e, tal

como já disse, tu só terás de as enviar, nem precisarás de sair de onde

estás, aí encostada à parede, repara que estou a ser simpática, peço-te

um favor de amiga quando poderia muito bem, sem contemplações,

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dar-te uma simples ordem, o facto de nos últimos tempos ter deixado

de me aproveitar de ti não significa que não continues ao meu serviço. o

silêncio resignado da gadanha confirmava que assim era. Então estamos

de acordo, concluiu a morte, dedicarei este dia a escrever as cartas,

calculo que venham a ser umas duas mil e quinhentas, imagina só,

tenho a certeza de que chegarei ao fim do trabalho com o pulso aberto,

deixo-tas arrumadas em cima da mesa, em grupos separados, da

esquerda para a direita, não te equivoques, da esquerda para a direita,

repara bem, desde aqui até aqui, arranjar-me-ias outra complicação dos

diabos se as pessoas recebessem fora de tempo as suas notificações,

quer para mais, quer para menos. Diz-se que quem cala, consente. A

gadanha havia calado, portanto tinha consentido. Envolvida no seu

lençol, com o capuz atirado para trás a fim de desafogar a visão, a morte

sentou-se a trabalhar. Escreveu, escreveu, passaram as horas e ela a

escrever, e eram as cartas, e eram os sobrescritos, e era dobrá-las, e era

fechá-los, perguntar-se-á como o conseguia se não tem língua nem de

onde lhe venha a saliva, isso, meus caros senhores, foi nos felizes

tempos do artesanato, quando ainda vivíamos nas cavernas de uma

modernidade que mal começava a despontar, agora os sobrescritos são

dos chamados autocolantes, retira-se-lhes a tirinha de papel, e já está,

dos múltiplos empregos que a língua tinha, pode dizer-se que este

passou à história. A morte só não chegou ao fim com o pulso aberto

depois de tão grande esforço porque, em verdade, aberto já ela o tem

desde sempre. são modos de falar que se nos pegam à linguagem,

continuamos a usá-los mesmo depois de se terem desviado há muito do

sentido original, e não nos damos conta de que, por exemplo, no caso

desta nossa morte que por aqui tem andado em figura de esqueleto, o

pulso já lhe veio aberto de nascença, basta ver a radiografia. o gesto de

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despedida fez desaparecer no hiperespaço os duzentos e oitenta e tal

sobrescritos de hoje, porquanto será só a partir de amanhã que a

gadanha principiará a desempenhar as funções de expedidora postal

que acabavam de ser-lhe confiadas. sem pronunciar uma palavra, nem

adeus, nem até logo, a morte levantou-se da cadeira, dirigiu-se à única

porta existente na sala, aquela portazinha estreita a que tantas vezes nos

referimos sem a menor ideia de qual pudesse ser a sua serventia, abriu-

a, entrou e tornou a fechá-la atrás de si. A emoção fez com que a

gadanha experimentasse ao longo da lâmina, até ao bico, até à ponta

extrema, uma fortíssima vibração. Nunca, de memória de gadanha,

aquela porta havia sido utilizada.

As horas passaram, todas as que foram necessárias para que o sol

nascesse lá fora, não aqui nesta sala branca e fria, onde as pálidas

lâmpadas, sempre acesas, pareciam ter sido postas ali para espantar as

sombras a um morto que tivesse medo da escuridão. Ainda é cedo para

que a gadanha emita a ordem mental que fará desaparecer da sala o

segundo monte de cartas, poderá, portanto, dormir um pouco mais. Isto

é o que costumam dizer os insones que não pregaram olho em toda a

noite, mas que, pobres deles, julgam ser capazes de iludir o sono só

porque lhe pedem um pouco mais, apenas um pouco mais, eles a quem

nem um minuto de repouso lhes havia sido concedido. sozinha, durante

todas aquelas horas, a gadanha procurou uma explicação para o insólito

facto de a morte ter saído por uma porta cega que, desde o momento

em que a tinham colocado ali, parecia condenada para o fim dos

tempos. Por fim desistiu de dar voltas à cabeça, mais tarde ou mais cedo

terá de acabar por saber o que está a passar-se ali atrás, pois é

praticamente impossível que haja segredos entre a morte e a gadanha

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como também os não há entre a foice e a mão que a empunha. Não teve

de esperar muito. Meia hora teria passado num relógio quando a porta

se abriu e uma mulher apareceu no limiar. A gadanha tinha ouvido

dizer que isto podia acontecer, transformar-se a morte em um ser

humano, de preferência mulher por essa cousa dos géneros, mas

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