José Saramago - As Intermitências da Morte

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mais ou de menos já nos havíamos apercebido nas outras negociações,

aquelas em que, por assim dizer, se jogaram os vigilantes aos dados. E

também não se pode pensar que se tratou, como no outro caso, de

transacções simplesmente bilaterais. Além da máphia deste país em que

não se morre, participaram igualmente nas conversações as máphias

dos países limítrofes, pois essa era a única maneira de resguardar a

independência de cada organização criminosa no quadro nacional em

que operava e do seu respectivo governo. Não teria qualquer aceitação,

seria mesmo absolutamente repreensível, que a máphia de um desses

países se pusesse a negociar em directo com a administração de outro

país. Apesar de tudo, as cousas ainda não chegaram a esse ponto, tem-

no impedido até agora, como um último pudor, o sacrossanto princípio

da soberania nacional, tão importante para as máphias como para os

governos, o que, sendo mais ou menos óbvio no que a estes respeita,

seria bastante duvidoso em relação àquelas associações criminosas se

não tivéssemos presente com que ciumenta brutalidade costumam elas

defender os seus territórios das ambições hegemónicas dos seus colegas

de ofício. Coordenar tudo isto, conciliar o geral com o particular, equi-

librar os interesses de uns com os interesses dos outros, não foi tarefa

fácil, o que explica que durante duas longas e aborrecidas semanas de

espera os soldados tivessem passado o tempo a insultar-se pelos

altifalantes, tendo em todo o caso o cuidado de não ultrapassar certos

limites, de não exagerar no tom, não fosse a ofensa subir à cabeça de

algum tenente-coronel susceptível e arder tróia. o que mais contribuiu

para complicar e demorar as negociações foi o facto de nenhuma das

máphias dos outros países dispor de vigilantes para fazer com eles o

que entendesse, faltando-lhes, consequentemente, o irresistível meio de

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pressão que tão bons resultados havia dado aqui. Embora este lado

obscuro das negociações não tenha chegado a transpirar, a não ser pelos

zunzuns de sempre, existem fortes presunções de que os comandos

intermédios dos exércitos dos países limítrofes, com o indulgente

beneplácito do ramo superior da hierarquia, se tenham deixado

convencer, só deus sabe a que preço, pela argumentação dos porta-

vozes das máphias locais, no sentido de fechar os olhos às

indispensáveis manobras de ir e vir, de avançar e recuar, em que a

solução do problema afinal consistia. Qualquer criança teria sido capaz

da ideia, mas, para a tornar efectiva, era necessário que, chegada à

idade a que chamamos da razão, tivesse ido bater à porta da secção de

recrutamento da máphia para dizer, Trouxe-me a vocação, cumpra-se

em mim a vossa vontade.

os amantes da concisão, do modo lacónico, da economia de

linguagem, decerto se estarão perguntando porquê, sendo a ideia assim

tão simples, foi preciso todo este arrazoado para chegarmos enfim ao

ponto crítico. A resposta também é simples, e vamos dá-la utilizando

um termo actual, moderníssimo, com o qual gostaríamos de ver

compensados os arcaísmos com que, na provável opinião de alguns,

temos salpicado de mofo este relato, Por mor do background. Dizendo

background, toda a gente sabe do que se trata, mas não nos faltariam

dúvidas se, em vez de background, tivéssemos chochamente dito plano

de fundo, esse aborrecível arcaísmo, ainda por cima pouco fiel à

verdade, dado que o background não é apenas o plano de fundo, é toda

a inumerável quantidade de planos que obviamente existem entre o

sujeito observado e a linha do horizonte. Melhor será então que lhe

chamemos enquadramento da questão. Exactamente, enquadramento

da questão, e agora que finalmente a temos bem enquadrada, agora sim,

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chegou a altura de revelar em que consistiu o ardil da máphia para

obviar qualquer hipótese de um conflito bélico que só iria servir para

prejudicar os seus interesses. uma criança, já o havíamos dito antes,

poderia ter tido a ideia. A qual não era senão isto, passar para o outro

lado da fronteira o padecente e, uma vez falecido ele, voltar para trás e

enterrá-lo no materno seio da sua terra de origem. um xeque-mate

perfeito no mais rigoroso, exacto e preciso sentido da expressão. Como

se acaba de ver, o problema ficava resolvido sem desdouro para

qualquer das partes implicadas, os quatro exércitos, já sem motivo para

se manterem em pé de guerra na fronteira, podiam retirar-se à boa paz,

uma vez que o que a máphia se propunha fazer era simplesmente entrar

e sair, lembremos uma vez mais que os padecentes perdiam a vida no

mesmo instante em que os transportavam ao outro lado, a partir de

agora não precisarão de lá ficar nem um minuto, é só aquele tempo de

morrer, e esse, se sempre foi de todos o mais breve, um suspiro, e já

está, pode-se imaginar bem o que passou a ser neste caso, uma vela que

de repente se apaga sem ser preciso soprar-lhe. Nunca a mais suave das

eutanásias poderá vir a ser tão fácil e tão doce. O mais interessante da

nova situação criada é que a justiça do país em que não se morre se

encontra desprovida de fundamentos para actuar judicialmente contra

os enterradores, supondo que o quisesse de facto, e não só por se

encontrar condicionada pelo acordo de cavalheiros que o governo teve

de armar com a máphia. Não os pode acusar de homicídio porque,

tecnicamente falando, homicídio não há em realidade, e porque o

censurável acto, classifique-o melhor quem disso for capaz, se comete

em países estrangeiros, nem tão-pouco os pode incriminar por haver

enterrado mortos, uma vez que o destino deles é esse mesmo, e já é para

agradecer que alguém tenha decidido encarregar-se de um trabalho a

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todos os títulos penoso, tanto do ponto de vista físico como do ponto de

vista anímico. Quando muito, poderia alegar que nenhum médico

esteve presente para certificar o óbito, que o enterramento não cumpriu

as formas prescritas para uma correcta inumação e que, como se tal caso

fosse inédito, a sepultura não só não está identificada como com toda a

certeza se lhe perderá o sítio quando cair a primeira bátega forte e as

plantas romperem tenras e alegres do húmus criador. Consideradas as

dificuldades e receando tombar no tremedal de recursos em que,

curtidos na tramóia, os astutos advogados da máphia a afundariam sem

dó nem piedade, a lei resolveu esperar com paciência a ver em que

parariam as modas.

Era, sem sombra de dúvida, a atitude mais prudente. o país

encontra-se agitado como nunca, o poder confuso, a autoridade diluída,

os valores em acelerado processo de inversão, a perda do sentido de

respeito cívico alastra a todos os sectores da sociedade, provavelmente

nem deus saberá aonde nos leva. Corre o rumor de que a máphia está a

negociar um outro acordo de cavalheiros com a indústria funerária com

vista a uma racionalização de esforços e a uma distribuição de tarefas, o

que significa, em linguagem de trazer por casa, que ela se encarrega de

fornecer os mortos, contribuindo as agências funerárias com os meios e

a técnica para enterrá-los. Também se diz que a proposta da máphia foi

acolhida de braços abertos pelas agências, já cansadas de malgastar o

seu saber de milénios, a sua experiência, o seu know how, os seus coros

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