José Saramago - As Intermitências da Morte

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jornal recordou ao leitor que se tratava somente de uma proposta de

acção, aliás não levada à prática até agora, o que quererá dizer, assim

concluía, que a igreja sabe tanto do assunto como nós, isto é, nada.

Nesta altura alguém escreveu um artigo a reclamar que o debate

regressasse à questão que lhe havia dado origem, ou seja, se sim ou não

a morte era uma ou várias, se era singular, morte, ou plural, mortes, e,

aproveitando que estou com a mão na pluma, denunciar que a igreja,

com essas suas posições ambíguas, o que pretende é ganhar tempo sem

se comprometer, por isso se pôs, como é seu costume, a encanar a perna

à rã, a dar uma no cravo e outra na ferradura. A primeira destas

expressões populares causou perplexidade entre os jornalistas, que

nunca tal tinham lido ou ouvido em toda a sua vida. No entanto,

perante o enigma, espevitados por um saudável afã de competição

profissional, deitaram das estantes abaixo os dicionários com que

algumas vezes se ajudavam à hora de escrever os seus artigos e notícias

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e lançaram-se à descoberta do que estaria ali a fazer aquele batráquio.

Nada encontraram, ou melhor, sim, encontraram a rã, encontraram a

perna, encontraram o verbo encanar, mas o que não conseguiram foi

tocar o sentido profundo que as três palavras juntas por força haveriam

de ter. Até que alguém se lembrou de chamar um velho porteiro que

viera da província há muitos anos e de quem todos se riam porque,

depois de tanto tempo a viver na cidade, ainda falava como se estivesse

à lareira a contar histórias aos netos. Perguntaram-lhe se conhecia a

frase e ele respondeu que sim senhor conhecia, perguntaram-lhe se

sabia o que significava e ele respondeu que sim senhor sabia. Então

explique lá, disse o chefe da redacção, Encanar, meus senhores, é pôr

talas em ossos partidos, Até aí sabemos nós, o que queremos é que nos

diga que tem isso que ver com a rã, Tem tudo, ninguém consegue pôr

talas numa rã, Porquê, Porque ela nunca está quieta com a perna, É isso

que quer dizer, Que é inútil tentar, ela não deixa, Mas não deve ser isso

o que está na frase do leitor, Também se usa quando levamos dema-

siado tempo a terminar um trabalho, e, se o fazemos de propósito, então

estamos a empatar, então estamos a encanar a perna à rã, Logo, a igreja

está a empatar, a encanar a perna à rã, sim senhor, Logo, o leitor que

escreveu tem toda a razão, Acho que sim, eu só estou a guardar a

entrada da porta, Ajudou-nos muito, Não querem que lhes explique a

outra frase, Qual, A do cravo e da ferradura, Não, essa conhecemo-la

nós, praticamo-la todos os dias.

A polémica sobre a morte e as mortes, tão bem iniciada pelo espírito

que paira sobre a água do aquário e pelo aprendiz de filósofo, acabaria

em comédia ou em farsa se não tivesse aparecido o artigo do econo-

mista. Embora o cálculo actuarial, como ele próprio reconhecia, não

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fosse sua especialidade profissional, considerava-se suficientemente

conhecedor da matéria para vir a público perguntar com que dinheiro o

país, dentro de uns vinte anos, mais ponto, menos vírgula, pensava

poder pagar as pensões aos milhões de pessoas que se encontrariam em

situação de reformados por invalidez permanente e que assim iriam

continuar por todos os séculos dos séculos e às quais outros milhões se

viriam reunir implacavelmente, tanto fazendo que a progressão seja

aritmética ou geométrica, de qualquer maneira sempre teremos

garantida a catástrofe, será a confusão, a balbúrdia, a bancarrota do

estado, o salve-se quem puder, e ninguém se salvará. Perante este

quadro aterrador não tiveram outro remédio os metafísicos que meter a

viola no saco, não teve outro recurso a igreja que regressar à cansada

missanga dos seus rosários e continuar à espera da consumação dos

tempos, essa que, segundo as suas escatológicas visões, resolverá tudo

isto de uma vez. Efectivamente, voltando às inquietantes razões do

economista, os cálculos eram muito fáceis de fazer, senão vejamos, se

temos um tanto de população activa que desconta para a segurança

social, se temos um tanto de população não activa que se encontra na

situação de reforma, seja por velhice, seja por invalidez, e portanto

cobra da outra as suas pensões, estando a activa em constante

diminuição em relação à inactiva e esta em crescimento contínuo

absoluto, não se compreende que ninguém se tenha logo apercebido de

que o desaparecimento da morte, parecendo o auge, o acme, a suprema

felicidade, não era, afinal, uma boa cousa. Foi preciso que os filósofos e

outros abstractos andassem já meio perdidos na floresta das suas

próprias elucubrações sobre o quase e o zero, que é a maneira plebeia

de dizer o ser e o nada, para que o senso comum se apresentasse prosai-

camente, de papel e lápis em punho, a demonstrar por a + b + e que

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havia questões muito mais urgentes em que pensar. Como seria de

prever, conhecendo-se os lados escuros da natureza humana, a partir do

dia em que saiu a público o alarmante artigo do economista, a atitude

da população saudável para com os padecentes terminais começou a

modificar-se para pior. Até aí, ainda que toda a gente estivesse de

acordo em que eram consideráveis os transtornos e incomodidades de

toda a espécie que eles causavam, pensava-se que o respeito pelos

velhos e pelos enfermos em geral representava um dos deveres essen-

ciais de qualquer sociedade civilizada, e, por conseguinte, embora não

raro fazendo das tripas coração, não se lhes negavam os cuidados

necessários, e mesmo, em alguns assinalados casos, chegavam a adoçá-

los com uma colherzinha de compaixão e amor antes de apagar a luz. É

certo que também existem, como demasiado bem sabemos, aquelas

desalmadas famílias que, deixando-se levar pela sua incurável desuma-

nidade, chegaram ao extremo de contratar os serviços da máphia para

se desfazerem dos míseros despojos humanos que agonizavam intermi-

navelmente entre dois lençóis empapados de suor e manchados pelas

excreções naturais, mas essas merecem a nossa repreensão, tanto como

a que figurava na fábula tradicional mil vezes narrada da tigela de

madeira, ainda que, felizmente, se tenha salvado da execração no

último momento, graças, como se verá, ao bondoso coração de uma

criança de oito anos. Em poucas palavras se conta, e aqui a vamos

deixar para ilustração das novas gerações que a desconhecem, com a

esperança de que não trocem dela por ingénua e sentimental. Atenção,

pois, à lição de moral.

Era uma vez, no antigo país das fábulas, uma família em que havia

um pai, uma mãe, um avô que era o pai do pai e aquela já mencionada

criança de oito anos, um rapazinho. ora sucedia que o avô já tinha muita

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idade, por isso tremiam-lhe as mãos e deixava cair a comida da boca

quando estavam à mesa, o que causava grande irritação ao filho e à

nora, sempre a dizerem-lhe que tivesse cuidado com o que fazia, mas o

pobre velho, por mais que quisesse, não conseguia conter as tremuras.

pior ainda se lhe ralhavam, e o resultado era estar sempre a sujar a

toalha ou a deixar cair comida ao chão, para já não falar do guardanapo

que lhe atavam ao pescoço e que era preciso mudar-lhe três vezes ao

dia, ao almoço, ao jantar e à ceia. Estavam as cousas neste pé e sem

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