José Saramago - As Intermitências da Morte

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nenhuma expectativa de melhora quando o filho resolveu acabar com a

desagradável situação. Apareceu em casa com uma tigela de madeira e

disse ao pai, A partir de hoje passará a comer daqui, senta-se na soleira

da porta porque é mais fácil de limpar e assim já a sua nora não terá de

preocupar-se com tantas toalhas e tantos guardanapos sujos. E assim

foi. Almoço, jantar e ceia, o velho sentado sozinho na soleira da porta,

levando a comida à boca conforme lhe era possível, metade perdia-se

no caminho, uma parte da outra metade escorria-lhe pelo queixo

abaixo, não era muito o que lhe descia finalmente pelo que o vulgo

chama o canal da sopa. Ao neto parecia não lhe importar o feio

tratamento que estavam a dar ao avô, olhava-o, depois olhava o pai e a

mãe, e continuava a comer como se não tivesse nada que ver com ocaso.

Até que uma tarde, ao regressar do trabalho, o pai viu o filho a

trabalhar com uma navalha um pedaço de madeira e julgou que, como

era normal e corrente nessas épocas remotas, estivesse a construir um

brinquedo por suas próprias mãos. No dia seguinte, porém, deu-se

conta de que não se tratava de um carrinho, pelo menos não se via sítio

onde se lhe pudessem encaixar umas rodas, e então perguntou, Que

estás afazer. o rapaz fingiu que não tinha ouvido e continuou a escavar

na madeira com a ponta da navalha, isto passou-se no tempo em que os

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pais eram menos assustadiços e não corriam a tirar das mãos dos filhos

um instrumento de tanta utilidade para a fabricação de brinquedos.

Não ouviste, que estás a fazer com esse pau, tornou o pai a perguntar, e

o filho, sem levantar a vista da operação, respondeu, Estou a fazer uma

tigela para quando o pai for velho e lhe tremerem as mãos, para quando

o mandarem comer na soleira da porta, como fizeram ao avô. Foram

palavras santas. Caíram as escamas dos olhos do pai, viu a verdade e a

sua luz, e no mesmo instante foi pedir perdão ao progenitor e quando

chegou a hora da ceia por suas próprias mãos o ajudou a sentar-se na

cadeira, por suas próprias mãos lhe levou a colher à boca, por suas

próprias mãos lhe limpou suavemente o queixo, porque ainda o podia

fazer e o seu querido pai já não. Do que veio a passar-se depois não há

sinal na história, mas de ciência mui certa sabemos que se é verdade

que o trabalho do rapazinho ficou em meio, também é verdade que o

pedaço de madeira continua a andar por ali. Ninguém o quis queimar

ou deitar fora, quer fosse para que a lição do exemplo não viesse a cair

no esquecimento, quer fosse para ocaso de que a alguém lhe ocorresse

um dia a ideia de terminar a obra, eventualidade não de todo

impossível de produzir-se se tivermos em conta a enorme capacidade

de sobrevivência dos ditos lados escuros da natureza humana. Como já

alguém disse, tudo o que possa suceder, sucederá, é uma mera questão

de tempo, e, se não chegámos a vê-lo enquanto por cá andávamos, terá

sido só porque não tínhamos vivido o suficiente. Pelos modos, e para

que não se nos acuse de pintarmos tudo com as tintas da parte esquerda

da paleta. há quem admita a hipótese de que uma adaptação do

amavioso conto à televisão, após tê-lo recolhido um jornal, sacudidas as

teias de aranha, nas poeirentas prateleiras da memória colectiva, possa

contribuir para fazer regressar às quebrantadas consciências das

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famílias o culto ou o cultivo dos incorpóreos valores de espiritualidade

de que a sociedade se nutria no passado, quando o baixo materialismo

que hoje impera ainda não se tinha assenhoreado de vontades que

imaginávamos fortes e afinal eram a própria e insanável imagem de

uma confrangedora debilidade moral. Conservemos no entanto a

esperança. No momento em que aquela criança aparecer no ecrã,

estejamos certos de que metade da população do país correrá a buscar

um lenço para enxugar as lágrimas e de que a outra metade, talvez de

temperamento estóico, as irá deixar correr pela cara abaixo, em silêncio,

para que melhor possa observar-se como o remorso pelo mal feito ou

consentido não é sempre uma palavra vã. oxalá ainda estejamos a

tempo de salvar os avós.

Inesperadamente, com uma deplorável falta de sentido de oportu-

nidade, os republicanos decidiram aproveitar a delicada ocasião para

fazerem ouvir a sua voz. Não eram muitos, nem sequer tinham

representação no parlamento apesar de se encontrarem organizados em

partido político e concorrerem regularmente aos actos eleitorais.

Vangloriavam-se no entanto de certa influência social, sobretudo nos

meios artísticos e literários, por onde de vez em quando faziam circular

manifestos no geral bem redigidos, mas invariavelmente inócuos.

Desde que a morte havia desaparecido que não davam sinal de vida,

nem ao menos, como se esperaria de uma oposição que se diz frontal,

para reclamarem o esclarecimento da rumorejada participação da

máphia no ignóbil tráfico de padecentes terminais. Agora, apro-

veitando-se da perturbação em que o país malvivia, dividido como

estava entre a vaidade de saber-se único em todo o planeta e o

desassossego de não ser como toda a gente, vinham pôr sobre a mesa

nada mais nada menos que a questão do regime. obviamente adver-

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sários da monarquia, inimigos do trono por definição, pensavam ter

descoberto um novo argumento a favor da necessária e urgente

implantação da república. Diziam que ia contra a lógica mais comum

haver no país um rei que nunca morreria e que, ainda que amanhã

resolvesse abdicar por motivo de idade ou amolecimento das facul-

dades mentais, rei continuaria a ser, o primeiro de uma sucessão infinita

de entronizações e abdicações, uma infinita sequência de reis deitados

nas suas camas à espera de uma morte que nunca chegaria, uma

correnteza de reis meio vivos meio mortos que, a não ser que os

arrumassem nos corredores do palácio, acabariam por encher e por fim

não caber no panteão onde haviam sido recolhidos os seus antecessores

mortais, que já não seriam mais que ossos desprendidos dos engonços

ou restos mumificados e bafientos. Quão mais lógico não seria ter um

presidente da república com vencimento a prazo fixo, um mandato,

quando muito dois, e depois que se desenrasque como puder, que vá à

sua vida, dê conferências, escreva livros, participe em congressos, coló-

quios e simpósios, arengue em mesas redondas, dê a volta ao planeta

em oitenta recepções, opine sobre o comprimento das saias quando elas

voltarem a usar-se e sobre a redução do ozono na atmosfera se ainda

houver atmosfera, enfim, que se amanhe. Tudo menos ter de encontrar

todos os dias nos jornais e ouvir na televisão e na rádio aparte médica

sempre igual, não atam nem desatam, sobre a situação dos internados

nas enfermarias reais, as quais, vem a propósito informar, depois de

terem sido aumentadas duas vezes, já estariam à bica de uma terceira

ampliação. o plural de enfermaria está ali para indicar que, como

sempre sucede em instituições hospitalares ou afins, os homens se

encontram separados das mulheres, portanto, reis e príncipes para um

lado, rainhas e princesas para outro. os republicanos vinham agora

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desafiar o povo a assumir as responsabilidades que lhe competiam,

tomando o destino nas suas mãos para dar começo a uma vida nova e

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