RAIO DE SOL
Barbara Cartland
Barbara Cartland Ebooks Ltd
Esta Edição © 2022
Título Original: “A Shaft of Sunlight”
Direitos Reservados - Cartland Promotions 2022
Capa & Design Gráfico M-Y Books
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NOTA DA AUTORA
O homem, vivendo atarefado na era da mecanização, perdeu de vista a fé que sempre orientou os povos primitivos.
Quem viveu entre os nativos, na África, Índia ou em outras partes isoladas do mundo, compreendeu que esses nativos conseguem realizar verdadeiros milagres porque acreditam no poder da mente e em seus deuses.
Mas nem mesmo um feiticeiro, na África, pode evitar que uma pessoa morra se essa pessoa já pôs em sua mente que morrerá. Os vodus da América do Sul podem ensinar muitas coisas extraordinárias àqueles que se dispuserem a ouvi-los.
Os soldados que serviram na Índia no tempo do domínio inglês foram testemunhas de que muitos indianos tinham o poder de saber que um parente havia morrido, estando a centenas de quilômetros de distância.
O que esses povos usam é seu instinto, ou o que os egípcios chamam de «terceiro olho». Muito do que chamamos de «clarividência» é apenas o instinto que todos nós temos e que, se desenvolvido e usado corretamente, pode nos servir de inspiração e proteção.
CAPÍTULO I 1819
Omordomo de Alverstode House, em Grovesnor Square, ficou admirado ao ver o Visconde Frome, saindo de seu faetonte, elegantemente vestido.
Sua admiração nada tinha a ver com a aparência de Sua Senhoria, pois era conhecida a ambição do Visconde em ser aclamado como um dos dez mais do Beau Monde .
O que surpreendia era o fato de o pupilo do Duque de Alverstode, de apenas vinte e um anos de idade, aparecer de manhã tão cedo.
Barrow bem sabia que, tal com o resto dos jovens modernos, o Visconde continuava a se levantar tarde e passar pelo menos duas horas se arrumando antes de aparecer em público.
Agora, quando o relógio sequer batera nove horas, o Visconde subia as escadas do imponente casarão.
—Bom dia, milorde !— saudou Barrow—, veio ver Sua Alteza?
—Não estou atrasado?— indagou o Visconde, ansioso.
—De maneira alguma, senhor. Sua Alteza voltou de seu passeio a cavalo há apenas dez minutos e está tomando o café da manhã.
Sem esperar para ouvir mais nada, o Visconde atravessou o majestoso vestíbulo de mármore e foi até a sala que dava para o jardim, na parte de trás da casa.
O Duque de Alverstode estava, como de costume, sentado numa mesa junto à janela, com o Times apoiado sobre um pequeno cavalete de prata, servindo-se de um lauto café da manhã.
Assim que o Visconde entrou, o Duque encarou-o com a mesma expressão de surpresa que o jovem lera no rosto do mordomo.
—Bom dia, primo Valerian— cumprimentou o Visconde.
—Deus do céu, Lucien!— exclamou o Duque—, o que o traz aqui a esta hora da manhã? Será que foi desafiado para um duelo, para se ter levantado tão cedo?
—Não, claro que não!— respondeu o rapaz, imediatamente, antes de perceber que seu tutor estava brincando.
Sentou-se do outro lado da mesa e ficou em silêncio. O Duque percebeu que seu pupilo estava nervoso.
—Se não é um duelo— comentou, depois de servir-se de uma costeleta de carneiro—, então o que pode estar preocupando você?
Silêncio novamente, até que o Visconde disse abruptamente:
—Estou apaixonado!
—Outra vez?— exclamou o Duque, parando de comer.
—Desta vez é diferente!— explicou o Visconde—, sei que julguei muitas vezes estar apaixonado antes, mas agora é muito, muito diferente, mesmo.
—Por que é diferente?— indagou o Duque.
O tom em que formulou a pergunta fez com que o Visconde olhasse para ele com apreensão.
O tutor, apesar de ser um homem muito atraente, era pessoa que intimidava e não havia ninguém no Beau Monde que não tratasse o Duque de Alverstode com grande respeito.
Até mesmo as mulheres que andavam atrás dele, e não eram poucas, quando se confidenciavam umas com as outras, admitiam ter receios de se aproximarem dele.
O próprio Regente acatava a opinião do Duque e raramente o contradizia.
—Quero me casar com Claribell— anunciou o Visconde, depois de alguns instantes—, mas você me fez jurar que não pediria ninguém em casamento sem ter primeiro sua autorização.
—Uma precaução muito sensata da minha parte— comentou o Duque, secamente—, não acredito que tivesse sido feliz se o tivesse deixado casar-se com a filha daquele professor que virou sua cabeça, quando estava em Oxford, ou com aquela dançarina que você garantia ser o amor de sua vida.
—Eu era muito jovem naquela época— respondeu o Visconde rapidamente.
—E agora não é muito mais velho— lembrou o Duque.
—Tenho idade suficiente para saber o que quero!— retorquiu o Visconde—, sei que vou ser loucamente feliz com Claribell e pelo menos você não vai poder dizer que ela é vulgar, como dizia de todas as outras senhoras por quem estivesse interessado.
O Duque arqueou as sobrancelhas.
—Senhoras?— perguntou sarcasticamente.
—Pense o que quiser— disse o Visconde com petulância—, não eram tão vulgares quanto você dava a entender. De qualquer maneira, agora com Claribell você não vai querer cortar o meu dinheiro, porque ela tem fortuna própria.
—Já não é nada mau— aquiesceu o Duque—, mas conte-me mais sobre essa moça que aprisionou seu vacilante coração.
O Visconde nem precisou de mais encorajamento. Inclinando-se para a frente, com os cotovelos em cima de mesa, começou:
—Ela é linda, tão linda que me fez pensar que desceu do Olimpo. E me ama! Você acredita? Ela me ama por aquilo que sou!
A expressão do Duque estava mais cínica do que nunca, pensando em quantas mulheres já se tinham apaixonado por seu pupilo e certo de que ainda haveria muitas mais.
O pai do Visconde era um primo afastado, que fora morto em Waterloo. Fora um choque não muito agradável para o Duque, descobrir que se tinha tornado tutor do filho dele.
O testamento do último Visconde Frome tinha sido feito alguns anos antes, quando o próprio pai do Duque ainda era vivo.
Estava escrito que, se alguma coisa lhe acontecesse, enquanto estivesse servindo no Exército de Wellington, seu filho e mais algum que viesse a ter ficariam sob a tutela do Duque de Alverstode.
O atual Duque julgava um descuido muito grande, por parte dos advogados, terem elaborado o testamento do primo, omitindo o nome de seu pai como o terceiro Duque de Alverstode e, consequentemente, futuro tutor dos filhos do Visconde de Frome.
Esse pequeno detalhe teria permitido que o atual Duque passasse a tarefa de cuidar do jovem Lucien a outra pessoa da família.
Agora, porém, tudo o que tinha a fazer era tentar impedir que o rapaz fizesse um casamento desastroso.
Todas as moças que haviam despertado o interesse do Visconde, até aquele momento, eram, sob o ponto de vista social, absolutamente inaceitáveis.
As duas jovens que Lucien mencionara, não haviam sido as únicas, recordava o Duque. Houvera também uma viúva, interessada em obter uma boa situação social; era uma senhora muito mais velha que seu pupilo e sonhava em tornar-se Viscondessa.
Houvera ainda outra, de virtude duvidosa, que tentara fazer um escândalo quando tudo acabara, mas que, afinal, se calara ao receber uma generosa quantia em moedas de ouro.
—Seus elogios a essa misteriosa criatura são comoventes— disse o Duque, brincalhão—, mas você esqueceu de dizer-me o nome de tal beldade.
—É Claribell Stamford— disse o Visconde, arrebatadoramente.
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