—Você vai dar a permissão, eu sei que vai dar!— disse o Visconde, entusiasmado—, espere até ver Claribell! Você vai ficar fascinado por ela!
O Duque sorriu, duvidosamente, enquanto o primo acrescentava:
—Só tenho medo de que ela prefira ficar com você quando o conhecer! Sempre me disse que o admirava muito.
—Estou lisonjeado!— agradeceu o Duque, secamente—, mas não se preocupe com isso, Lucien, porque não tenho a menor intenção de tirar Claribell ou qualquer jovenzinha de você. Primeiro, porque acho as jovens extremamente maçantes e depois, porque não pretendo me casar, pelo menos nos próximos anos.
—Você vai ter que dar um herdeiro ao ducado, mais cedo ou mais tarde, primo— lembrou o Visconde.
—Ainda tenho tempo pela frente, antes de ficar senil— retorquiu o Duque—, mesmo daqui a anos, certamente aparecerá uma mulher disposta a me dar um filho e a me aturar!
O Visconde desatou a rir.
—Não tenha dúvida! A sua reputação em destroçar corações, primo Valerian, não deixa nada a desejar!
O rosto do Duque se endureceu. Era o tipo de comentário que ele achava de muito mau gosto e que devia ser feito pelas mulheres com quem Lucien se relacionava.
Temendo que o primo ficasse de mau humor, o Visconde se apressou a dizer:
—Se você tem trabalho a fazer, embora eu não imagine o que possa ser, vou-me embora. O meu faetonte está lá fora.
—O novo?— perguntou o Duque—, vi a conta ontem. Não há dúvida de que você está decidido a fazer mais de uma loucura ao mesmo tempo!
—Esses construtores de carruagens são uns ladrões— protestou o Visconde—, mas você não imagina que maravilha de veículo é aquele e como anda depressa. Se vier comigo dar uma olhada, primo Valerian, verá que estou falando verdade.
—Vou deixar isso para outro dia— respondeu o Duque—, Middleton está esperando por mim e temos muito que fazer antes de eu ir almoçar em Carlton House.
—Então vou indo. Tentarei falar com Sir Jarvis hoje mesmo, a fim de que ele fixe uma data para nossa visita a Stamford Towers.
—Ficarei esperando pelo convite dele— disse o Duque—, até mais ver, Lucien!
Sem esperar pela resposta do Visconde, o Duque Valerian saiu da sala, dirigindo-se para a biblioteca, onde seu secretário e contabilista o aguardava.
O Visconde ficou observando o primo se afastar, pensando que, afinal, a entrevista não fora tão má quanto ele previra e invejando, inconscientemente, o andar atlético e elegante do Duque.
Por instantes, chegou a considerar a sugestão do seu tutor e fazer mais exercício. Logo depois, porém, desistiu da ideia; seria impossível ser um bom esportista, por isso o melhor que tinha a fazer era aproveitar o tempo no alfaiate e nos salões de dança.
Foi para o vestíbulo, onde Barrow o aguardava para lhe entregar o chapéu alto e as luvas.
—Tudo bem, senhor Lucien?— perguntou o mordomo, num tom gentil de quem o conhecia desde criança.
—Podia ter sido pior!— suspirou o jovem.
—Fico satisfeito, senhor!— disse o homem, sorrindo.
—Obrigado, Barrow— agradeceu o rapaz.
O Visconde sorriu para o velho empregado e dirigiu-se para o faetonte, achando, com orgulho, que aquele era o mais elegante de todos os que se viam em qualquer outro lugar de Londres.
Custara uma fortuna, mas ele podia pagar. O único problema era que todas as suas extravagâncias ainda tinham que ser aprovadas pelo tutor, antes de as contas serem pagas.
O jovem Visconde ficava irritado com isso, uma vez que seu pai lhe deixara uma fortuna considerável, da qual só poderia dispor após completar vinte e cinco anos de idade.
Muitos homens administravam seu próprio dinheiro, assim que chegavam à maioridade. Mas ele não! Ainda teria que prestar contas durante mais quatro anos! Aquela situação era absolutamente humilhante!
Lembrando-se de que Claribell devia estar esperando que ele lhe fosse contar o resultado da entrevista, esqueceu-se de tudo o mais.
Queria ir ter com ela imediatamente e contar o que o Duque dissera.
Sabia, no entanto, que não a poderia ver antes da hora do almoço e que seria mais correto ir visitá-la à tarde.
—Não consigo esperar tanto tempo!— disse a si mesmo, achando um martírio ficar naquele suspense.
Não era de admirar que estivesse enamorado da garota mais bonita que jamais aparecera na temporada de Londres. Mas não eram apenas os loiros cabelos da jovem que brilhavam como raios de sol, os olhos azuis como águas-marinhas e a pele macia e rosada como pêssego, que lhe haviam roubado o coração. Era sua firmeza, tão incomum nas garotas da idade dela.
Talvez fosse a beleza que lhe desse a segurança e porte que faltavam às outras jovens que ele conhecera até então.
«Com o meu dinheiro e o dela», pensava o Visconde, enquanto guiava o cavalo para Park Lane, «poderemos levar uma vida maravilhosa! Poderei dar a Claribell tudo o que ela desejar, além de poder ter cavalos que farão inveja a qualquer homem em St. James!»
Sentado à sua escrivaninha, com uma pilha de papéis à sua frente, o Duque pensava em Lucien, enquanto o Sr. Middleton lhe explicava um problema qualquer que havia em Alverstode.
Como já acontecera outras vezes, estava preocupado com o rapaz.
Tinha certeza de que os amigos do Visconde não passavam de uma coleção de cabeças ocas, mas, por outro lado, ele próprio estava sendo intransigente demais, por ser muito mais velho do que eles.
«Não acredito que eu fosse tão inconsequente quando tinha vinte e um anos», disse para si mesmo.
O Sr. Middleton acabou o seu longo discurso sobre a necessidade de se construir um novo depósito de materiais em madeira e uma estrada que levasse até lá.
—Estou preocupado com o Sr. Lucien. O que tem ouvido sobre ele ultimamente?— perguntou o Duque.
—Tenho apenas ouvido contar as histórias habituais das desordens que ele e os amigos provocam nos salões de baile.
Fez uma pausa e vendo que o Duque estava atento, continuou:
—Outro dia foram postos para fora de uma das mais conhecidas «casas de prazer» porque estavam interferindo nos «negócios», e houve também um duelo perigoso em que Sua Senhoria tomou parte, mas fora isso não aconteceu mais nada que deva preocupar Sua Alteza.
—Acho que você já tinha se retirado da sala, quando ele me disse que queria se casar.
—Com miss Claribell Stamford?— indagou o Sr. Middleton.
—Sim. Já calculava que você devia ter sido o primeiro a saber! E não me disse nada!
—Não achei que o assunto fosse suficientemente sério para incomodar Vossa Alteza— respondeu o homem—, miss Stamford tem muitos admiradores.
—Ela é muito bonita?
—Sem dúvida nenhuma, e já foi aclamada a debutante da temporada!
—Uma estrela!— comentou o Duque, sarcasticamente.
—Ainda não— respondeu o Sr. Middleton—, certamente poderá vir a ser, quando os membros dos clubes repararem nela.
O Duque olhou cinicamente e o Sr. Middleton continuou:
—Vossa Alteza já deve ter encontrado Sir Jarvis Stamford nas corridas de cavalos.
—Acho que ele é membro do Jóquei Clube— disse o Duque, despreocupadamente—, mas na verdade, não me lembro de termos sido apresentados. O que você sabe sobre ele?
—Muito pouco, Alteza, mas posso descobrir facilmente.
—Faça isso!— ordenou o Duque—, tenho o pressentimento, embora possa estar enganado, de que a certa altura ele esteve envolvido num escândalo qualquer. Lembro-me de ter ouvido rumores sobre atitudes menos leais. Será que estou imaginando coisas?
—Deixe comigo, Alteza. Entretanto, também vou descobrir por que miss Stamford está retribuindo à corte de Sua Senhoria. Quando ouvi falar nela a última vez, estava com alguém mais importante em vista.
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