O Duque ficou pensativo, olhando para seu secretário.
—O que você está insinuando, Middleton— disse lentamente—, é que miss Stamford, ou talvez o pai, estão tentando subir na escala social.
O Sr. Middleton sorriu.
—Claro, Alteza. Para todas as jovens, como é de vosso conhecimento, quanto maior for o título, melhor a presa!
O secretário viu os lábios do Duque se estreitarem e tal como acontecera com o Visconde, lembrou-se de que qualquer menção aos seus romances, o deixava muito contrafeito.
Middleton sabia que as mulheres andavam sempre atrás do patrão, não só por ser um homem muito atraente, mas também porque seu ar indiferente constituía um desafio irresistível para elas.
Surpreendentemente, numa época em que as pessoas falavam abertamente e a moral era muito relativa, o Duque considerava de muito mau gosto falar de qualquer mulher por quem estivesse interessado e esse pormenor aumentava ainda mais a aura de mistério que o envolvia.
Não havia uma só mulher no Beau Monde que não soubesse que conquistar o coração do Duque de Alverstode, seria uma proeza maior do que ganhar o derby.
Apesar de o Duque ter tido romances, tudo se passara discretamente e mesmo as mexeriqueiras não ficavam sabendo de nada, a não ser quando os casos terminavam.
No entanto como o Duque sabia escolher muito bem, e como as mulheres que o amavam raramente se zangavam com ele, os curiosos ficavam sem conhecer detalhes sobre seus relacionamentos.
O Sr. Middleton juntou seus papéis.
—Vou descobrir o que quiser, Alteza—afirmou ele—, e fornecerei qualquer informação que obtiver sobre Sir Jarvis o mais rapidamente possível.
—Obrigado, Middleton, sabia que podia contar com você— disse o Duque, levantando-se da escrivaninha, onde estava trabalhando há quase duas horas, e esticando as pernas.
—Agora vou a Carlton House, mas como devo ser forçado a comer e a beber demais, o que me desagrada muito fazer ao meio do dia, mande um mensageiro à academia Gentleman Jackson e diga-lhe que estarei lá por volta das quatro e meia. Peça que lhe digam também que gostaria muito de lutar um ou dois rounds com ele, pessoalmente.
O Sr. Middleton sorriu.
—Ele vai ficar satisfeito com seu convite, apesar de eu ter ouvido dizer que na semana passada Vossa Alteza lhe deu uma boa surra.
O Duque desatou a rir.
—Acho que estava com uma sorte fora do comum, ou então Jackson estava desatento. Seja como for, foi um acontecimento, uma vez que Jackson é o melhor boxeador de que se tem notícia.
—Sem dúvida, Alteza— concordou o secretário.
O dia já estava terminando, quando Sir Jarvis voltou para sua imponente mansão em Park Lane.
Mal entrou no vestíbulo, onde o mordomo e seis criados o esperavam, o secretário, um homem pequeno e insignificante que falava como se tivesse medo de abrir a boca, veio correndo ter com ele.
— Miss Claribell pediu para ir vê-la assim que chegasse, senhor.
Sir Jarvis olhou para o secretário, tentando perceber se haveria uma razão oculta por trás daquele pedido.
Ia dizer qualquer coisa, mas deteve-se ao reparar que os seis criados estavam ouvindo.
—Onde está miss Claribell?— perguntou rapidamente.
—Em sua saleta íntima, senhor.
Sir Jarvis subiu as escadas, os pés mergulhados no carpete macio e alto, muito mais caro do que o existente na maioria das outras mansões.
Chegou ao topo da escadaria e ficou admirando um quadro de Rubens que comprara recentemente num leilão.
Esperava que fosse autêntico e que não tivesse sido um engano comprá-lo. Custara uma fortuna e se alguém o tivesse passado para trás, iria se arrepender amargamente.
Seguiu pelo corredor, recheado de móveis preciosos e entrou na sala dos aposentos de Claribell. Tudo era decorado para ser uma moldura perfeita para a beleza da jovem.
As paredes brancas e douradas, os pingentes azuis, o teto pintado por artista italiano, tudo servia para realçar os dotes físicos de qualquer mulher. Quando Claribell se levantou do sofá e dirigiu-se correndo até ele, o pai pensou em como ela parecia uma joia rara.
—Papai! Que bom que você voltou!— exclamou a garota.
—O que está acontecendo?— indagou imediatamente Sir Jarvis.
—Lucien falou com o Duque! Finalmente ganhou coragem! Como você sabe, tive muito trabalho para convencê-lo a fazer isso.
—Mas conseguiu!
—Sim, consegui!— garantiu a moça.
Claribell pegou a mão do pai e levou-o até ao sofá, onde se sentaram, lado a lado.
—Bem, e o que aconteceu?— perguntou o Sir Jarvis.
Claribell respirou fundo.
—Lucien disse ao Duque que queria se casar comigo.
Os lábios do homem se estreitaram, como se ele estivesse prevendo que o pedido tivesse sido recusado.
—E o que é que você acha que o Duque respondeu?— perguntou Claribell.
—Conte você, minha filha.
—Ele disse que quer me conhecer em nossa casa de campo!
Sir Jarvis ficou em silêncio, olhando para a filha, como se não pudesse acreditar no que acabara de ouvir.
—O Duque quer ficar conosco em Stamford Towers?— indagou ele.
Claribell assentiu com a cabeça.
—Quer e estou certa de que isso significa que ele dará o consentimento, papai. Oh, não é maravilhoso? Poderei estar casada antes do fim da temporada e poderei comparecer à abertura do Parlamento como Viscondessa!
—E será a mais bela de todas, minha querida— assegurou o homem, cheio de orgulho.
—Também acho, papai, e você tem que me comprar uma tiara maior e mais valiosa que a de todo o mundo.
—Claro, claro!— concordou Sir Jarvis—, mas mal posso acreditar que o Duque deseje ficar conosco.
—Lucien também ficou surpreendido. Ele me disse que o Duque é muito esquisito e só aceita convites dos amigos íntimos, como o Duque de Bedford e o Duque de Northumberland e que costuma recusar milhares de outros.
—Temos que fazer tudo para que ele não se arrependa de ir a Stamford Towers!
—E para nos certificar de que ele concordará com meu casamento com Lucien!
—Sim, sim, é claro. Mas agora já temos meio caminho andado— disse Sir Jarvis, achando que a filha estava um pouco insegura—, por que não iria aceitar você?— perguntou secamente—, além de muito bonita, você é rica e a família de sua mãe tinha sangue azul.
—Será que Lucien se lembrou de falar ao Duque sobre mamãe?
—Se ele se esquecer, eu mesmo falarei— disse Sir Jarvis—, uma vez que o Duque esteja em minha casa, terá que me dar ouvidos.
—Claro, papai, e mande já o convite. Lucien acha que a gente não deve adiar as coisas.
—Concordo com ele— disse Sir Jarvis—, quanto mais depressa melhor!
Falou como se estivesse pensando noutra coisa e não na filha.
Depois inclinando-se, beijou-a.
—Estou muito orgulhoso de você, querida. Tudo isto vai-nos ajudar a esquecer o desagradável incidente com o Conde de Dorset.
—Nunca mais quero pensar nele!— exclamou Claribell—, ele me decepcionou e nunca o perdoarei!
—Nem eu— afirmou Sir Jarvis—, ele não perde por esperar. Mais cedo ou mais tarde eu pegarei aquele rapaz e ele vai lamentar ter tratado você da forma como tratou.
Claribell levantou-se e foi olhar-se no espelho em cima da lareira.
—Como ele pôde ter agido assim?— perguntou em voz baixa, como se falasse consigo mesma—, como pôde ter preferido aquela cara de lua cheia da Alice Wyndham a mim?
—Esqueça! Esqueça!— disse o pai—, Lucien não só é Visconde como também o tutor dele é um dos homens mais importantes e influentes da alta sociedade, no turfe e em todo o país. A propriedade Alverstode é um modelo para qualquer proprietário de terras e um convite para Alverstode House é quase tão honroso quanto ser convidado para qualquer dos palácios reais!
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