Dante Alighieri - Dante Alighieri - A Divina Comédia

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Dante Alighieri: A Divina Comédia: краткое содержание, описание и аннотация

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A Divina Comédia propõe que a Terra está no meio de uma sucessão de círculos concêntricos que formam a Esfera armilar e o meridiano onde é Jerusalém hoje, seria o lugar atingido por Lúcifer ao cair das esferas mais superiores e que fez da Terra Santa o Portal do Inferno. Portanto o Inferno, responderia pela depressão do Mar Morto, onde todas as águas convergem, e o Paraíso e o Purgatório seriam os segmentos dos círculos concêntricos que juntos respondem pela mecânica celeste e os cenários comentados por Dante, num poema envolvendo todos os personagens bíblicos do Antigo ao Novo Testamento, que são costumeiramente encontrados nas entranhas do Inferno sendo que os personagens principais da Divina Comédia são o próprio autor, Dante Alighieri, que realiza uma jornada espiritual pelos três reinos do além-túmulo, e seu guia e mentor nessa empreitada, Virgílio – o próprio autor da Eneida.

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Afeito do Aventino se aprazia,

27 Sob as penhas, de sangue em fazer lago.

“Dos seus irmãos não segue a companhia,

Por haver depredado, fraudulento,

30 Armentio, que próximo pascia.

“Tiveram fim seus crimes: golpes cento

Sobre ele desfechou de Alcide a clava:

33 Aos dez perdera já a vida o alento”. —

Foi-se o centauro enquanto assim falava.

Abaixo eis três espíritos chegando,

36 Nos quais nenhum de nós inda atentava,

“Quem sois?” — romperam súbito bradando.

A Narração então suspende o Guia;

39 E só deles curamos, escutando.

Nenhum dessa companha eu conhecia;

Mas então, como às vezes acontece,

42 Um, chamando por outro, assim dizia:

“Onde é Cianfa, que assim desaparece?”

Dedo nos lábios fiz nesse momento

45 A Virgílio sinal, por que atendesse.

Em crer o que eu contar se fores lento,

Não há de ser, leitor, para estranhado;

48 Quase o que eu vi descrê meu pensamento.

Quando eu dos três a vista era engolfado,

Sobre seis pés se via uma serpente

51 Contra um deles e o tem todo enlaçado.

Abraçam-lhe os do meio rijamente

O ventre; aos braços aos de cima rendem,

54 Ambas as faces morde-lhe furente.

Os de baixo nas coxas já se estendem,

Interpondo-se a cauda, que, subindo

57 Por detrás, voltas dá que os rins lhe prendem.

Hera, de árvores os ramos recingindo.

Não os enleia tanto, como a fera

60 Alheios membros ao seu corpo unindo.

Fundiram-se depois, de quente cera

Com feitos; travando as suas cores,

63 Um nem outro parece o que antes era:

Como em papel, do fogo ante os ardores

Procede escura cor; inda não sendo

66 Negro, vão fenecendo os seus albores.

Os dois, a maravilha percebendo,

Gritavam-lhe: — “Ai! Agnel, quanto hás mudado!

69 Um já não és mas dois ser não podendo!”

Numa cabeça as duas se hão tornado;

Confundidos estavam dois semblantes

72 Num rosto, em que se haviam misturado.

São dois os braços, que eram quatro de antes,

Foram coxas e pernas, ventre e peito

75 Membros, que nunca hão tido semelhantes.

Perdeu-se assim todo o primeiro aspeito;

Seres dois e nenhum nessa figura

78 Se via; e o montro foi-se a passo estreito.

Quando o fervor canicular se apura,

Cruza o lagarto, como o raio, a estrada,

81 E uma mouta deixando, outra procura.

Tal menor serpe, lívida, inflamada.

Negrejando, qual bago de pimenta,

84 Aos outros dois se arroja acelerada.

E na parte, por onde se alimenta

Primeiro a vida nossa, um dos dois fere

87 E ante ele tomba em queda violenta.

Olha o ferido, mas nem voz profere;

E sobre os pés imóvel bocejava,

90 Como quem sono prenda ou febre onere.

Fitava olhos na serpe, e esta o encarava;

A chaga de um eu via, do outro a boca

93 Fumegar; e o seu fumo se encontrava.

Emudeça Lucano, quando toca

Em Sabelo infeliz mais em Nascídio.

96 Escute: mor portento ora se evoca.

De Cadmo e Aretusa cale Ovídio:

Se fonte a esta, àquela fez serpente,

99 Não o invejo: aqui há pior excídio,

Não converteu dois seres frente a frente,

Tanto que permutasse formas duas

102 Sua própria matéria de repente.

Desta sorte compõem-se as partes suas:

A cauda à serpe fende-se em forquilha,

105 Cerra o ferido em uma as plantas nuas.

Tal prisão coxas, pernas envencilha

Que em breve nem vestígio há de juntura,

108 Sinal, ou numa ou noutra, de partilha.

Fendida a cauda assume essa figura

Que perde o homem; numa é tão macia

111 A pele, quanto noutro fez-se dura.

Entrar os braços nas axilas via;

Tanto estendia os curtos pés a fera,

114 Quanto o outro os seus braços encolhia.

Os pés o drago extremos retorcera,

Na parte, que se esconde, se mudando,

117 Que em duas no mesquinho se fendera.

Enquanto o fumo os dois ia velando

De nova cor e a serpe o pelo empresta,

120 Que em todo perde o pecador nefando,

Ergue-se um, cai o outro e no chão resta,

Os ímpios olhos sem torcer, que viram

123 Dos gestos seus a conversão funesta.

Ao que era em pé às frontes lhe subiram

Do rosto as sobras: cada face afeita

126 Uma orelha, de duas, que saíram.

Quanto de mais ficara então se ajeita,

O nariz conformando-lhe na cara

129 E de lábios lhe ornando a boca estreita,

A beiça o que jazia dilatara;

Qual caramujo, que as antenas cerra,

132 À cabeça as orelhas retirara.

A língua unida e no falar não perra

Partiu-se, enquanto a do outro, forquilhada,

135 Uniu-se; o fumo desde então se encerra.

Essa alma, que em réptil era mudada,

Pelo vale arremete sibilando,

138 Falando, a outra escarra e a segue irada.

Depois, seu novo dorso lhe voltando,

Disse à terceira sombra: “Corra o Buoso,

141 Como eu, por esta senda rastejando”.

Assim vi no antro sétimo espantoso

Mútuas transformações: tanta estranheza

144 Desculpe o canto rude e descuidoso.

Posto empanar dos olhos a clareza

E entrar o assombro no ânimo eu sentisse,

147 Não fugiram com tanta sutileza,

Nem tão prestes que eu bem não discernisse

Puccio Sciancato, que dos três somente

Fora o que transmudado se não visse,

151 Deu-te o outro, Gavili, dor pungente.

14. Nem o ousado etc., Capaneu, V. Inf. XIV. — 25. Caco , ladrão, ao roubar o rebanho de Hércules, para despistar, puxou as ovelhas pela cauda. — 43. Cianfa dei Donati , ladrão florentino que veremos transformado em serpente. — 68. Agnel , Agnello Brunelleschi, ladrão florentino. — 95. Sabelo e Nascidio , personagens dos “Farsálias” de Lucano que, mordidos por cobras, mudam de aspecto. — 97. Cádmio e Aretusa , personagens das “Metamorfoses” de Ovídio que se transformam o primeiro em serpente e o segundo numa fonte. — 149. Puccio Scianeato , ladrão florentino.

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