—Prometo. Com uma condição.
—Uma condição?
—Sim. Se tiver qualquer problema, se for perturbada por alguma coisa ou se algo lhe acontecer em Monte Carlo, por favor, me avise. Estou no Hotel Hermitage. Mande um recado, e eu a ajudarei. Se não podemos nos encontrar onde você está, nos encontraremos aqui. Está bem? Promete que fará isso?
A ansiedade do rosto de Mistral desapareceu.
—Sim. Prometo. É muita gentileza sua.
—Em troca, eu prometo não dizer a ninguém que nos conhecemos. Principalmente, se nos encontrarmos em público. Vou fingir que somos estranhos. Mas não esquecerei este amanhecer.
—Eu também não. O amanhecer é exatamente como a irmã Héloise contou: lindo... tão lindo, que não há palavras para descrever.
—Sim, lindo— Sir Robert repetiu, olhando o rosto dela.
Durante um momento, seus olhos se encontraram. Como se sentisse medo, ela saiu correndo pelo caminho margeado de flores.
Corria graciosamente, fazendo com que ele se lembrasse das ninfas dos bosques. Não tentou segui-la. Em vez disso, debruçou-se na grade e ficou observando o mar.
As últimas sombras da noite tinham desaparecido e lá no horizonte surgiam os contornos da Córsega, como se fosse uma nuvem lilás.
—Lindo!— Sir Robert repetiu, baixinho. Depois, lentamente, voltou para o hotel.
A porta já estava aberta, e ele subiu para sua suite. Estava vazia e escura, pois tinha avisado ao camareiro que não o esperasse.
Na sala grande, o ar cheirava a mofo. Só melhorou depois que ele abriu as cortinas. Então, o sol invadiu o quarto e iluminou a carta de sua mãe, sobre a escrivaninha.
Ficou parado um longo tempo, olhando a carta, sem tocá-la. Caminhou até a lareira, onde havia um retrato de Violet.
Ela mesma o havia colocado ali, na véspera, num de seus momentos de ternura.
—Vou detestar que me esqueça, quando não estivermos juntos— havia dito.
—Como se isso pudesse acontecer.
—Sei que é muito fácil esquecer as pessoas— Violet sorriu.
Ele sentiu que uma onda de ciúme o dominava.
—Vai me esquecer facilmente?— perguntou, tomando-a nos braços e beijando-a furiosamente—, vai esquecer isto? E isto? E isto?— insistiu, beijando-a novamente.
Entretanto, mesmo naquele momento, sabia que ela havia despertado seu ciúme de propósito.
Examinou o retrato. Violet era atraente, não se podia negar isso. Os cabelos escuros afastados do rosto deixavam ver a pele clara e o sorriso brincalhão. Não era uma beldade clássica, mas, quando entrava numa festa, todos se voltavam para vê-la. A mãe dele a achava uma mulher má. Seria verdade?
Sir Robert sentiu-se surpreso diante daquela pergunta. Como podia estar pensando aquilo? Nunca teve nenhuma dúvida, antes.
«Acho que deve ser o efeito daquela garota esquisita que encontrei no jardim.»
Ela havia dito que ia ter que pagar por fazer algo que a tia não aprovava. Pagar por ir ver o amanhecer! Imaginou que tipo de castigo sofreria se fizesse mesmo algo errado.
Seu conhecimento do que era errado parecia muito limitado. Obviamente, não sabia nada do mundo, tendo sido educada num internato, desde os seis anos. Pobrezinha! Que vida teria pela frente? Não ia continuar inocente, com um rosto tão lindo, por muito tempo. Bem, de qualquer modo, ele não tinha nada com isso.
Imaginou por que havia pedido que o procurasse se tivesse problemas. Se ela fizesse isso, ele é que enfrentaria problemas com Violet. Entretanto, Violet não tinha nenhum direito de questionar suas atitudes, ainda.
Não a havia pedido em casamento; mas estava certo de que aceitaria, se a pedisse.
A carta da mãe continuava na escrivaninha. Não ia abri-la agora. Fingiria que não tinha chegado. Só a leria durante o café.
Quase como se a garota estivesse no quarto, ele lembrou sua voz dizendo:
—As freiras diriam que isso é uma trapaça.
De repente, Sir Robert ficou muito aborrecido. «Droga de garota, com a sua consciência e as suas rezas. Droga de carta, com suas acusações!» Por que a mãe não o deixava em paz? Se ele queria ir para o diabo, por que não o deixavam, sem choradeira e reclamações?
Estava cansado. Iria para a cama. Era muito tarde ou muito cedo, ainda não sabia ao certo; só sabia que não era hora de um homem ficar meditando sobre o bem e o mal, o certo e o errado.
Atravessou a sala e entrou no quarto, batendo a porta. O vento que entrou pela janela espalhou vários papéis da escrivaninha, mas a carta de Lady Stunford continuou lá, iluminada pelo sol.
CAPÍTULO III
Emilie olhou ao redor da sala, com satisfação. O café da manhã estava sobre a toalha imaculadamente branca, na mesa perto da janela, servido com toda elegância.
Até ali, tudo tinha corrido exatamente como planejara, e sentia o mesmo arrepio que um general sente ao ver o sucesso de uma manobra.
Ela e Mistral tinham chegado ao Hotel de Paris na noite anterior. Viajaram num trem que Emilie achou extremamente confortável, muito diferente da viagem que havia feito há dezenove anos, com Alice.
Naquela época, viajaram lentamente, sem conforto, e, quando finalmente chegaram a Nice, só havia duas escolhas: um veículo antigo que só levava onze passageiros e ia diariamente de Nice a Mónaco, ou um vapor, que parecia perigoso e só saía do porto se não houvesse neblina.
Resolveram ir por terra. Foi um trajeto de horas que pareceram meses, com os outros passageiros comentando o tempo todo sobre bandidos e assaltantes.
Agora, das janelas da sala, ela via o Cassino e o mar. A oeste estava o porto e, mais além, o grande rochedo de Mônaco, o velho-Palácio e a fortaleza construída há mais de quinhentos anos.
Emilie estava mais interessada na paisagem atrás do hotel: a vista da cidade, que tinha surgido repentinamente. Uma cidade alegre, cheia de telhados que se elevavam na encosta do morro, casas brancas e brilhantes, mostrando opulência e poder.
Emilie não tinha acreditado no que os jornais diziam nos últimos anos. Mas, agora, seus olhos não a enganavam, e estava espantada.
O hotel era mais imponente do que qualquer coisa que havia imaginado. Quando entrou com Mistral e Jeanne, sentiu que os pés afundavam nos tapetes grossos. Havia uma infinidade de palmeiras e flores por toda parte. De repente, Emilie teve medo da própria coragem de entrar naquele mundo.
Então, algo mais forte a impeliu para a frente. Aproximou-se da receção e começou a desempenhar a pequena peça teatral que já tinha ensaiado.
—Uma suite foi reservada para mim. Pelo meu administrador, o Sr. Anjou.
O rececionista fez uma reverência.
—Sim, senhora. Nós a estávamos esperando. Seja bem-vinda ao Hotel de Paris e a Monte Carlo.
Emilie inclinou a cabeça, condescendente.
—Tudo já está preparado, senhora. Se fizer a gentileza de assinar o livro de registro, mandarei que a acompanhem até seus aposentos.
Emilie pegou a pena de ganso ao lado do livro encadernado em couro, aberto sobre a mesa. Hesitou, observando para ver se o rapaz notava sua hesitação. Virou-se para trás, onde Jeanne segurava a valise com o brasão.
—É um tanto... difícil— disse, depois de algum tempo—, minha sobrinha e eu viemos passar as férias. Queremos muita calma e queremos... ficar incógnitas.
—Cuidarei para que seus desejos sejam cumpridos, senhora— o rececionista disse, com ar curioso.
Ela mergulhou a pena no tinteiro e escreveu, com letras grandes e grossas:
«Madame ...»
Hesitou novamente, deu um risinho e falou:
— Madame Secret. Pelo menos durante a minha estada este será meu nome, neste local encantador.
—Se é isso que deseja— o rececionista fez uma reverência, mas Emilie notou que ele olhava novamente a valise com o brasão.
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