Tivemos um chá de aniversário muito tranqüilo, só nós e a velha Batilda que sempre nos tratou com carinho e vive mimando o Harry. Ficamos com pena que você não tenha podido vir, mas a Ordem vem em primeiro lugar e Harry não tem idade para saber que está fazendo anos! Tiago está se sentindo um pouco frustrado trancado em casa, ele procura não demonstrar, mas eu percebo — além disso, Dumbledore ficou com a Capa da Invisibilidade dele, então não há possibilidade de pequenos passeios. Se você pudesse lhe fazer uma visita, isso o animaria muito. Rabicho esteve aqui no fim de semana passado, achei-o meio deprimido, mas provavelmente foram as notícias sobre os McKinnon; chorei a noite inteira quando soube.
Batilda passa por aqui quase todo dia, é uma velhota fascinante que conta as histórias mais surpreendentes sobre Dumbledore, não tenho muita certeza se ele gostaria disso caso soubesse! Fico em dúvida se devo realmente acreditar, porque me parece inacreditável que Dumbledore.
As extremidades de Harry pareceram ter adormecido. Ele ficou muito quieto, segurando o milagroso papel em seus dedos desenervados enquanto, por dentro, uma espécie de erupção silenciosa fazia a felicidade e a dor irromperem em igual medida em suas veias. Atirando-se na cama, ele se sentou.
Releu a carta, mas não conseguiu assimilar mais significados do que da primeira vez, e foi reduzido a contemplar a caligrafia em si. Sua mãe fazia os gês iguais aos dele; ele os procurou um a um na carta, e cada um lhe pareceu uma marola amiga vislumbrada por trás de um véu. A carta era um incrível tesouro, prova de que Lílian Potter vivera, realmente vivera, que sua mão quente um dia percorrera aquele pergaminho, traçando aquelas letras, aquelas palavras, palavras a respeito dele, Harry, seu filho.
Afastando as lágrimas dos olhos, impaciente, ele releu a carta, desta vez concentrando-se mais no conteúdo. Era como ouvir uma voz parcialmente lembrada.
Eles tinham um gato... talvez ele tivesse morrido, como seus pais, em Godric’s Hollow... ou talvez tivesse fugido quando não houve mais quem o alimentasse... Sirius comprara para ele a primeira vassoura... seus pais conheceram Batilda Bagshot; Dumbledore teria apresentado os três? Dumbledore ficou com a Capa da Invisibilidade dele... havia alguma coisa estranha ali...
Harry parou, refletindo sobre as palavras da mãe. Por que Dumbledore guardara a Capa da Invisibilidade de Tiago? Harry se lembrava nitidamente do diretor lhe dizendo, anos atrás: “Não preciso de uma capa para ficar invisível.” Talvez algum membro da Ordem menos talentoso tivesse precisado desse auxílio e Dumbledore servira de intermediário? Harry prosseguiu...
Rabicho esteve aqui ... Pettigrew, o traidor, parecera “deprimido”, é? Teria consciência de que estava vendo Tiago e Lílian vivos pela última vez?
E, por fim, retornamos a Batilda, que contava histórias inacreditáveis sobre Dumbledore: parece inacreditável que Dumbledore ...
Que Dumbledore o quê? Havia, porém, uma quantidade de coisas que pareciam incríveis sobre Dumbledore; que um dia ele tivesse recebido as notas mais baixas em uma prova de Transfiguração, por exemplo, ou que tivesse enfeitiçado bodes como fazia Aberforth...
Harry levantou-se e esquadrinhou o chão: talvez o restante da carta estivesse por ali. Ele agarrou papéis, tratando-os, em sua ansiedade, com tão pouca consideração quanto a pessoa que os encontrara primeiro; abriu gavetas, sacudiu livros, subiu em uma cadeira para passar a mão em cima do guarda-roupa e entrou embaixo da cama e da poltrona.
Por fim, de cara no chão, localizou o que lhe pareceu um pedaço de papel rasgado embaixo da cômoda. Quando o resgatou, era a maior parte da foto que Lílian descrevera na carta. Um bebê de cabelos escuros voando para dentro e para fora do papel, montado em uma minúscula vassoura, às gargalhadas, e um par de pernas que deviam pertencer a Tiago correndo atrás dele. Harry guardou a foto e a carta da mãe no bolso, e continuou a procurar a segunda folha.
Passados mais uns quinze minutos, no entanto, foi forçado a concluir que o resto da carta já não existia. Teria simplesmente se perdido nos dezesseis anos transcorridos desde que fora escrita, ou fora levada pela pessoa que revistara o quarto? Harry tornou a ler a primeira folha, desta vez procurando pistas para o que poderia ter tornado a segunda folha valiosa. A vassoura de brinquedo não teria interesse algum para os Comensais... a única coisa potencialmente útil que via ali era a possível informação sobre Dumbledore. Parece inacreditável que Dumbledore ... o quê?
— Harry! Harry! Harry!
— Estou aqui! — gritou ele. — Que aconteceu?
Ele ouviu uma zoada de passos do lado de fora, e Hermione irrompeu pelo quarto.
— Nós acordamos e não sabíamos onde você estava — disse ofegante. Virando-se, gritou por cima do ombro: — Rony! Encontrei ele!
A voz aborrecida de Rony ressoou a distância de vários andares abaixo.
— Ótimo! Então diga por mim que ele é um bobalhão!
— Harry, não desapareça assim, por favor, ficamos aterrorizados! Afinal, por que veio aqui em cima? — Ela percorreu com o olhar o quarto saqueado. — Que andou fazendo?
— Olhe o que acabei de encontrar.
E estendeu-lhe a carta de sua mãe. Hermione apanhou-a e leu-a observada pelo garoto. Quando chegou ao fim da folha, olhou para ele.
— Ah, Harry...
— E tem mais isso.
Entregou a foto rasgada, e Hermione sorriu para o bebê que entrava e saía montado na vassoura de brinquedo.
— Estive procurando o resto da carta — disse Harry —, mas não está aqui.
A amiga correu o olhar pelo quarto.
— Você fez essa bagunça toda, ou uma parte dela já estava feita quando você entrou?
— Alguém revistou o quarto antes de mim.
— Foi o que pensei. Todos os cômodos em que olhei a caminho daqui foram revirados. Que acha que estavam procurando?
— Informações sobre a Ordem, se foi o Snape.
— Mas seria de pensar que ele já tivesse tudo que precisava, quero dizer, ele fazia parte da Ordem, não é?
— Bem, então — disse Harry, ansioso para discutir sua teoria —, informações sobre Dumbledore? A segunda folha desta carta, por exemplo. Sabe essa Batilda que minha mãe menciona, sabe quem ela é?
— Quem?
— Batilda Bagshot, a autora de...
— História da magia — completou Hermione, mostrando interesse. -Então os seus pais a conheciam? Ela foi uma incrível historiadora da magia.
— E ainda está viva, e mora em Godric’s Hollow, a tia Muriel, do Rony, esteve falando sobre ela no casamento. Ela conheceu a família de Dumbledore também. Seria bem interessante conversar com ela, não?
Para o gosto de Harry, houve um excesso de compreensão no sorriso de Hermione. Ele tirou a carta e a foto de suas mãos e guardou-as na bolsa pendurada ao pescoço, para não precisar olhar para a amiga e se trair.
— Eu entendo por que você gostaria de conversar com ela sobre sua mãe e seu pai, e Dumbledore também — disse Hermione. — Mas isto não iria realmente nos ajudar a achar as Horcruxes, não é? -Harry não respondeu e ela prosseguiu: — Harry, eu sei que você realmente quer ir a Godric’s Hollow, mas estou com medo... estou com medo da facilidade com que aqueles Comensais da Morte nos encontraram ontem. Mais que nunca, isso me faz sentir que devemos evitar o lugar onde seus pais estão enterrados. Tenho certeza que estarão esperando a sua visita.
— Não é só isso — respondeu Harry, ainda evitando olhar para a amiga. — Muriel disse umas coisas sobre Dumbledore no casamento. E quero saber a verdade...
Ele contou, então, a Hermione tudo que Muriel dissera. Quando terminou, a garota comentou:
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