— Rony! — gritou Hermione. — Cadê você?
À medida que avançavam pela pista de dança, Harry viu vultos de capa e máscara surgirem na multidão; viu também Lupin e Tonks de varinhas erguidas, e ouviu ambos gritarem: “ Protego !”, um grito que ecoou por todos os lados...
— Rony! Rony! — chamava Hermione, quase soluçando, enquanto ela e Harry eram empurrados pelos convidados aterrorizados; o garoto agarrou a mão dela para garantir que não se separassem, ao mesmo tempo que um raio de luz passou por cima de suas cabeças; se era um feitiço de proteção ou algo mais sinistro eles não sabiam dizer...
Então Rony apareceu. Segurou o braço livre de Hermione, e Harry sentiu-a girar no mesmo lugar; visão e audição se extinguiram quando ele foi engolido pela escuridão; sua única sensação era a mão de Hermione ao ser comprimido no espaço e no tempo, distanciando-se d’A Toca, distanciando-se dos Comensais da Morte que desciam, talvez do próprio Voldemort...
— Onde estamos? — perguntou a voz de Rony.
Harry abriu os olhos. Por um momento pensou nem ter deixado o local do casamento: continuavam cercados de pessoas.
— Rua Tottenham Court — ofegou Hermione. — Ande, apenas ande, precisamos encontrar um lugar para você se trocar.
Harry obedeceu. Eles meio que andavam, meio que corriam pela larga rua escura, apinhada de gente que se divertia na noite, ladeada por lojas fechadas, as estrelas brilhando lá no alto. Um ônibus de dois andares passou, barulhento, e um alegre grupo de boêmios ficou olhando das janelas para eles; Harry e Rony ainda usavam vestes a rigor.
— Hermione, não temos roupas para trocar — comentou Rony, quando uma jovem caiu na risada ao vê-los.
— Por que não verifiquei se tinha trazido comigo a Capa da Invisibilidade? — perguntou Harry, xingando mentalmente a própria burrice. — Carreguei-a durante todo o ano passado e...
— Tudo bem, eu trouxe a capa, trouxe roupas para vocês dois -disse Hermione. — Tentem apenas agir com naturalidade até... aqui vai dar.
Ela os levou a uma rua lateral, e dali ao refúgio de uma travessa escura.
— Quando você diz que trouxe a capa e as roupas... — Harry começou a dizer, franzindo a testa para a amiga, que não levava nada nas mãos, exceto a bolsinha de contas, em cujo interior ela agora remexia.
— Isso mesmo, estão aqui — respondeu ela e, para espanto dos dois garotos, tirou da bolsa um jeans, uma camiseta, meias marrons e, finalmente, a Capa da Invisibilidade prateada.
— Caraça, como foi...?
— Feitiço Indetectável de Extensão — respondeu Hermione. — Complicado, mas acho que o executei corretamente; enfim, consegui enfiar aqui dentro tudo que precisamos. — Ela deu uma sacudidela na bolsinha frágil que ressoou como um porão de carga, quando dentro rolaram vários objetos pesados. — Ah, droga, devem ser os livros — disse Hermione dando uma espiada —, eu tinha empilhado todos por assunto... ah, bom... Harry, é melhor ficar com a Capa da Invisibilidade. Rony, depressa, se troca logo...
— Quando foi que você fez tudo isso? — perguntou Harry, enquanto Rony despia as vestes.
— Eu lhe falei n’A Toca que tinha empacotado o essencial, lembra, caso a gente precisasse sair correndo. Arrumei a sua mochila hoje de manhã, Harry, depois que você se trocou, e guardei tudo aqui... tive um pressentimento...
— Você é um assombro, só é! — exclamou Rony, lhe entregando as vestes enroladas.
— Obrigada — disse Hermione, se esforçando para sorrir ao guardar as vestes na bolsinha. — Por favor, Harry, cubra-se com a capa!
Harry atirou a capa sobre os ombros e puxou-a para a cabeça, desaparecendo de vista. Começava, enfim, a avaliar o que acontecera.
— Os outros... todo o mundo no casamento...
— Não podemos nos preocupar com isso agora — sussurrou Hermione. — É atrás de você que eles estão, Harry, e deixaremos todos em maior perigo se voltarmos.
— Ela tem razão — confirmou Rony, que pareceu perceber que Harry ia contra-argumentar, ainda que não pudesse ver o rosto do amigo. — A maior parte dos membros da Ordem estava presente, eles cuidarão de todos.
Harry assentiu, mas lembrou que os outros não podiam vê-lo e acrescentou:
— É. — Pensou, porém, em Gina, e o medo borbulhou como um ácido em seu estômago.
— Vamos, acho que temos de continuar andando — disse Hermione.
Os três tornaram a sair da rua lateral e entrar na principal, onde um grupo de homens cantava e acenava da calçada oposta.
— Só por curiosidade, por que a rua Tottenham Court? — perguntou Rony a Hermione.
— Não faço idéia, o nome simplesmente me ocorreu, mas tenho certeza de que estaremos mais seguros no mundo dos trouxas, não é onde eles esperam que estejamos.
— Verdade — concordou Rony, olhando para os lados —, mas você não se sente um pouco... exposta?
— Que outra opção nos resta? — perguntou Hermione, se encolhendo quando os homens do outro lado da rua começaram a assoviar para ela. — Não daria para reservar quartos no Caldeirão Furado, não é? E o largo Grimmauld está fora, se o Snape ainda pode entrar lá... suponho que poderíamos tentar a casa dos meus pais, embora seja provável que eles a revistem... ah, eu gostaria que eles calassem a boca!
— Tudo bem, querida? — gritou o mais bêbado dos homens na outra calçada. — Quer tomar um drinque? Larga esse ruivo pra lá e vem tomar uma cerveja!
— Vamos nos sentar em algum lugar — disse Hermione depressa, quando Rony abriu a boca para responder. — Olhe, esse serve, aí dentro!
Era um café pequeno e encardido aberto a noite toda. Uma leve camada de gordura cobria as mesas com tampo de fórmica, mas pelo menos estava vazio. Harry foi o primeiro a entrar no reservado, e Rony sentou ao seu lado, defronte a Hermione, que ficou de costas para a entrada e não gostou: espiava por cima do ombro com tanta freqüência que parecia ter um tique nervoso. Harry também não gostou de ficar parado; andar lhe dera a ilusão de que tinham um objetivo. Sob a capa, ele sentia os últimos vestígios da Poção Polissuco se dispersarem, permitindo que suas mãos retomassem o comprimento e a forma normais. Ele tirou os óculos do bolso e colocou-os no rosto.
Passados uns dois minutos, Rony falou:
— Sabem, não estamos muito longe do Caldeirão Furado, é logo ali em Charing Cross...
— Rony, não podemos! — protestou Hermione imediatamente.
— Não para se hospedar lá, mas para descobrir o que está acontecendo!
— Você sabe o que está acontecendo! Voldemort tomou o Ministério, que mais você precisa saber?
— Tá, tá, foi só uma idéia.
Os garotos recaíram em um silêncio incômodo. A garçonete que mascava chiclete se arrastou até a mesa deles e Hermione pediu dois cappuccinos: como Harry estava invisível, teria parecido estranho encomendar um para ele. Dois operários corpulentos entraram no café e se espremeram no reservado contíguo. Hermione falou quase sussurrando:
— Sugiro que procuremos um lugar sem movimento para desaparatar e sair da cidade. Uma vez lá, poderíamos mandar uma mensagem para a Ordem.
— Então, você sabe fazer um Patrono que fala? — perguntou Rony.
— Andei praticando e acho que sei — respondeu a garota.
— Bem, desde que não cause problemas para eles, embora, a essa altura, quem sabe já foram presos. Deus, isso é repugnante — acrescentou Rony, depois de tomar um gole do café cinzento que fumegava. A garçonete ouviu; lançou a Rony um olhar feio e se arrastou para anotar o pedido dos novos fregueses. O maior dos dois operários, louro e avantajado, agora que Harry reparava nele, dispensou a garçonete. Ela o encarou indignada.
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