— Não! Não! Eu lhe suplico, eu lhe suplico...
— Você mentiu para Lord Voldemort, Olivaras!
— Não menti... Juro que não...
— Você quis ajudar Potter, ajudá-lo a escapar de mim!
— Juro que não... Acreditei que uma varinha diferente funcionaria...
— Explique então o que aconteceu. A varinha de Lúcio foi destruída!
— Não consigo entender... a ligação... existe apenas... entre as duas varinhas...
— Mentiras!
— Por favor... eu lhe suplico...
E Harry viu a mão branca erguer a varinha e sentiu a raiva maligna de Voldemort, viu o frágil velho no chão se contorcer de agonia...
— Harry?
A visão terminou tão depressa quanto surgira: Harry ficou tremendo no escuro, agarrado ao portão do jardim, o coração disparado, a cicatriz coçando. Decorreram vários segundos até ele perceber que Rony e Hermione estavam ao seu lado.
— Harry, volte para dentro de casa — sussurrou Hermione. — Você não está pensando em ir embora mesmo, está?
— É, você tem que ficar, cara — disse Rony, batendo em suas costas.
— Você está passando bem? — perguntou Hermione, agora suficientemente perto para ver o rosto de Harry. — Está com uma cara horrível!
— Bem — respondeu Harry, trêmulo —, provavelmente estou com uma cara melhor do que Olivaras...
Quando ele terminou de contar o que vira, Rony demonstrava espanto, mas Hermione estava aterrorizada.
— Isso devia ter acabado! A sua cicatriz... não devia mais fazer isso! Você não pode deixar essa ligação reabrir: Dumbledore queria que você fechasse a mente!
Ao ver que o amigo não respondia, ela o agarrou pelo braço.
— Harry, ele está dominando o Ministério, os jornais e metade do mundo bruxo! Não deixe que ele se infiltre também em sua mente!
O choque de perder Olho-Tonto pairou sobre a casa nos dias que se seguiram; Harry continuou na expectativa de vê-lo entrar mancando pela porta dos fundos, como os demais membros da Ordem que iam e vinham para transmitir notícias. Ele sentiu que nada, a não ser a ação, aliviaria seus sentimentos de culpa e pesar, e que deveria partir em missão para encontrar e destruir as Horcruxes, assim que possível.
— Bem, você não pode fazer nada a respeito das... — Rony enunciou a palavra Horcruxes — até fazer dezessete anos. Ainda tem o rastreador. E podemos planejar aqui tão bem quanto em qualquer outro lugar, não? Ou — a voz dele virou um sussurro — já tem idéia de onde estão as você-sabe-o-quê?
— Não — admitiu Harry.
— Acho que a Hermione tem feito umas pesquisas. Ela me disse que estava guardando os resultados para quando você chegasse.
Os dois estavam sentados à mesa do café da manhã; o sr. Weasley e Gui tinham acabado de sair para o trabalho, a sra. Weasley subira para acordar Hermione e Gina, e Fleur fora tomar banho.
— O rastreador perderá a validade no dia trinta e um — disse Harry. — Isto significa que só preciso ficar aqui mais quatro dias. Depois eu posso...
— Cinco dias — Rony corrigiu-o com firmeza. — Temos que ficar para o casamento. Eles nos matarão se não estivermos aqui.
Harry entendeu que o “eles” se referia a Fleur e a sra. Weasley.
— É só mais um dia — disse Rony, quando Harry pareceu se rebelar.
— Será que não compreendem como é importante...?
— Claro que não — respondeu Rony. — Não fazem a menor idéia. E agora que você tocou nesse assunto, eu queria mesmo esclarecer umas coisas.
Rony olhou para a porta que abria para o corredor a ver se a sra. Weasley já estava voltando, depois se curvou para Harry.
— Mamãe esteve tentando extrair informações de Hermione e de mim: vamos viajar para o quê. Você será o próximo, portanto prepare-se. Papai e Lupin também perguntaram, mas, quando respondemos que a recomendação de Dumbledore foi para você não comentar com ninguém exceto nós dois, eles não insistiram. Mas a mamãe, não. Ela é decidida.
As previsões de Rony se confirmaram algumas horas mais tarde. Pouco antes do almoço, a sra. Weasley afastou Harry dos outros, pedindo-lhe para identificar um pé de meia sem par que talvez tivesse caído da mochila dele. Assim que o encurralou na despensa mínima ao lado da cozinha, ela começou:
— Rony e Hermione estão achando que vocês três vão deixar Hogwarts — começou ela em um tom leve e informal.
— Ah — respondeu Harry. — Ah, é. Vamos.
O par apareceu sozinho no canto, saindo de um colete que parecia ser do sr. Weasley.
— Posso perguntar por que vocês vão abandonar sua educação?
— Bem, Dumbledore me deixou... umas coisas para fazer — murmurou Harry. — Rony e Hermione sabem disso, e querem vir comigo.
— Que tipo de “coisas”?
— Desculpe, mas não posso...
— Ora, francamente, acho que Arthur e eu temos o direito de saber, e tenho certeza de que o sr. e a sra. Granger concordariam comigo! — retrucou a sra. Weasley. Harry receara a estratégia dos “pais preocupados”. Fez força para encarar a senhora nos olhos, reparando, ao fazer isso, que eles tinham exatamente o mesmo tom de castanho dos de Gina. Isso não ajudou nem um pouco.
— Dumbledore não queria que mais ninguém soubesse. Sinto muito. Rony e Hermione não têm que viajar comigo, foi a opção que fizeram...
— Também não vejo por que você precisa ir! — retorquiu ela, abandonando todo o fingimento. — Vocês mal atingiram a maioridade, os três! É um absurdo, se Dumbledore precisava que fizessem algum serviço para ele, tinha a Ordem inteira à disposição! Harry, você deve ter entendido mal. Provavelmente ele estava falando de alguma coisa que queria que alguém fizesse, e você entendeu que se referia a você ...
— Não entendi mal — respondeu Harry resoluto. — O alguém era eu. Ele devolveu à sra. Weasley o pé de meia estampado com juncos dourados que supostamente deveria identificar.
— Não é minha, eu não torço pelo Puddlemere United.
— Ah, claro que não — disse a bruxa, com um retorno repentino e enervante ao seu tom informal. — Eu devia ter me lembrado. Então, Harry, enquanto estiver aqui conosco, não irá se importar de ajudar nos preparativos para o casamento de Gui e Fleur, não é? Ainda falta fazer tanta coisa!
— Não... eu... claro que não — respondeu Harry, desconcertado com a súbita mudança de assunto.
— Você é muito gentil. — Ela o aprovou, sorrindo, e saiu da despensa.
Daquele momento em diante, a sra. Weasley manteve Harry, Rony e Hermione tão ocupados com os preparativos para o casamento que mal lhes sobrava tempo para pensar. A explicação mais caridosa para tal atitude seria a vontade de distraí-los para não pensarem em Olho-Tonto e nos terrores da recente viagem. Depois de dois dias limpando talheres sem parar, combinando, por cor, presentinhos para os convidados, fitas e flores, desgnomizando o jardim e ajudando a sra. Weasley a cozinhar enormes tabuleiros de petiscos, no entanto, Harry começou a suspeitar que ela tivesse um motivo diverso. Todos os serviços que distribuía pareciam manter Rony, Hermione e ele afastados um do outro; Harry não tivera oportunidade de falar a sós com os amigos desde a primeira noite, quando lhes contara que Voldemort estava torturando Olivaras.
— Acho que mamãe pensa que, se impedir vocês três de se reunirem para fazer planos, poderá adiar a sua partida — murmurou Gina para Harry, na terceira noite, quando punham a mesa para o jantar.
— E que é que ela acha que vai acontecer? — perguntou Harry no mesmo tom de voz. — Que talvez outra pessoa liquide Voldemort enquanto ela nos segura aqui preparando vol-au-vents ?
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