Lupin se horrorizou.
— Harry, o tempo de desarmar alguém já acabou! Essa gente está tentando capturar você para matá-lo! Pelo menos estupore, se não está preparado para matar!
— Estávamos à grande altitude! Lalau não estava normal, e se fosse estuporado teria caído e morrido como se eu tivesse usado o Avada Kedavra ! O Expelliarmus me salvou de Voldemort dois anos atrás — acrescentou Harry, em tom de desafio. Lupin estava lhe lembrando o desdenhoso Zacarias Smith da Lufa-Lufa, que debochara de Harry por ter querido ensinar a Armada de Dumbledore a desarmar.
— É verdade, Harry — disse Lupin, contendo-se a custo. — E um grande número de Comensais da Morte presenciaram o acontecido. Perdoe-me, mas foi uma tática muito insólita para alguém usar sob iminente risco de vida. Repeti-la hoje à noite, diante de Comensais da Morte, que ou presenciaram ou ouviram contar sobre aquela primeira ocasião, foi quase suicídio!
— Então você acha que eu devia ter matado Lalau Shunpike? -indagou Harry enraivecido.
— Claro que não, mas os Comensais, e francamente a maior parte das pessoas, esperariam que você contra-atacasse. Expelliarmus é um feitiço útil, Harry, mas os Comensais da Morte começam a achar que tem a sua assinatura, e insisto que você não deixe isso se confirmar!
Lupin estava fazendo Harry se sentir idiota, contudo, ainda restava no garoto certa vontade de desafiar.
— Não vou eliminar as pessoas só porque estão no meu caminho. Esse é o ofício de Voldemort.
A resposta de Lupin se perdeu. Tendo finalmente conseguido se espremer pela porta, Hagrid cambaleou até uma cadeira, que desabou sob seu peso. Sem dar atenção aos seus xingamentos e pedidos de desculpas, Harry tornou a se dirigir a Lupin.
— Jorge vai ficar bom?
Toda a frustração de Lupin com relação a Harry pareceu se esgotar ao ouvir a pergunta.
— Acho que sim, embora não haja possibilidade de se recompor a orelha, não quando foi decepada com um feitiço.
Ouviram passos do lado de fora. Lupin precipitou-se para a porta; Harry pulou por cima das pernas de Hagrid e correu para o quintal.
Dois vultos tinham se materializado ali, e ao correr ao seu encontro, Harry percebeu que eram Hermione, agora retomando sua aparência normal, e Kingsley, ambos agarrados a um cabide de casacos, amassado. Hermione atirou-se nos braços de Harry, mas Kingsley não demonstrou prazer algum ao vê-los. Por cima do ombro de Hermione, Harry o viu erguer a varinha e apontá-la para o peito de Lupin.
— Quais foram as últimas palavras de Alvo Dumbledore para nós dois?
— “Harry é a melhor esperança que temos. Confie nele” — respondeu Lupin calmamente.
Kingsley apontou a varinha para Harry, mas Lupin disse:
— É ele mesmo, já verifiquei.
— Tudo bem, tudo bem! — concluiu Kingsley, guardando a varinha sob a capa. — Mas alguém nos traiu! Eles sabiam, sabiam que era hoje à noite!
— É o que parece — replicou Lupin —, mas aparentemente não sabiam que haveria sete Harrys.
— Grande consolo! — rosnou Kingsley — Quem mais voltou?
— Só Harry, Hagrid, Jorge e eu. Hermione abafou um gemido com a mão.
— Que aconteceu com você? — Lupin perguntou a Kingsley.
— Fui seguido por cinco, feri dois, talvez tenha matado um -enumerou o auror. — E vimos Você-Sabe-Quem, ele se juntou aos Comensais mais ou menos no meio da perseguição, mas desapareceu em seguida. Remo, ele é capaz de...
— Voar — completou Harry. — Eu o vi também, veio atrás de mim e Hagrid.
— Então foi por isso que sumiu: para seguir você! — concluiu Kingsley. — Não consegui entender por que tinha desistido. Mas o que o levou a mudar de alvo?
— Harry foi bondoso demais com Lalau Shunpike — disse Lupin.
— Lalau? — repetiu Hermione. — Pensei que ele estava em Azkaban, não?
Kingsley deu uma risada sem graça.
— Obviamente, Hermione, houve uma fuga em massa que o Ministério abafou. O capuz de Travers caiu quando eu o amaldiçoei, ele deveria estar preso também. Mas que aconteceu com você, Remo? Onde está Jorge?
— Perdeu uma orelha — informou-o Lupin.
— Perdeu uma...? — repetiu Hermione com a voz esganiçada.
— Obra de Snape — disse Lupin.
— Snape ? — gritou Harry. — Você não disse...
— Ele perdeu o capuz durante a perseguição. O Sectumsempra sempre foi uma especialidade de Snape. Eu gostaria de poder dizer que lhe paguei na mesma moeda, mas pude apenas manter Jorge montado na vassoura depois que foi ferido, estava perdendo muito sangue.
O silêncio se abateu sobre os quatro ao erguerem os olhos para o céu. Não havia sinal de movimento; as estrelas retribuíram seu olhar, sem piscar, indiferentes, sem sombra de amigos em vôo. Onde estava Rony? Onde estavam Fred e o sr. Weasley? Onde estavam Gui, Fleur, Tonks, Olho-Tonto e Mundungo?
— Harry, me ajuda aqui! — chamou Hagrid, rouco, da porta na qual tornara a se entalar. Feliz de ter o que fazer, Harry empurrou-o e depois atravessou a cozinha para voltar à sala de visitas, onde a sra. Weasley e Gina ainda cuidavam de Jorge. A sra. Weasley estancara a hemorragia e, à luz do candeeiro, Harry viu um buraco aberto onde antes havia uma orelha.
— Como está ele?
A sra. Weasley se virou para responder:
— Não posso recompor uma orelha que foi decepada por Artes das Trevas. Mas poderia ter sido muito pior... ele está vivo.
— Graças a Deus — disse Harry.
— Ouvi a voz de mais alguém no quintal? — perguntou Gina.
— Hermione e Kingsley.
— Felizmente — sussurrou Gina. Os dois se entreolharam; Harry teve vontade de abraçá-la, não largá-la mais; nem se importava que a sra. Weasley estivesse presente, mas, antes que pudesse dar vazão a esse impulso, ouviram um grande estrondo na cozinha.
— Vou provar quem sou, Kingsley, depois que vir o meu filho, agora saia da frente se sabe o que é bom para você!
Harry nunca ouvira o sr. Weasley gritar assim. O bruxo irrompeu na sala, a careca brilhando de suor, os óculos tortos, Fred em seus calcanhares, os dois pálidos e ilesos.
— Arthur! — soluçou a sra. Weasley. — Graças aos céus!
— Como é que ele está?
O sr. Weasley ajoelhou-se ao lado de Jorge. Pela primeira vez desde que Harry o conhecia, Fred parecia não saber o que dizer. De pé, atrás do sofá, olhava boquiaberto para o ferimento do irmão gêmeo como se não conseguisse acreditar no que via.
Despertado talvez pelo barulho da chegada de Fred e do pai, Jorge se mexeu.
— Como está se sentindo, Jorginho? — sussurrou a sra. Weasley. O rapaz levou os dedos ao lado da cabeça.
— Mouco — murmurou.
— Que é que ele tem? — perguntou Fred lugubremente, com um ar aterrorizado. — A perda afetou o cérebro dele?
— Mouco — repetiu Jorge, abrindo os olhos e erguendo-os para o irmão. — Entende... Surdo e oco, Fred, sacou?
A sra. Weasley soluçou mais forte que nunca. A cor inundou o rosto pálido de Fred.
— Patético — respondeu Fred ao irmão. — Patético! Com um mundo de piadas sobre ouvidos para escolher, você me sai com “mouco”?
— Ah, bem — disse Jorge, sorrindo para a mãe debulhada em lágrimas. — Agora você vai poder distinguir quem é quem, mamãe.
Ele olhou para os lados.
— Oi Harry... você é o Harry, certo?
— Sou — respondeu Harry, aproximando-se do sofá.
— Bom, pelo menos você voltou inteiro — comentou Jorge. — Por que Rony e Gui não estão rodeando o meu leito de enfermo?
— Ainda não voltaram, Jorge — disse a sra. Weasley. O sorriso de Jorge desapareceu. Harry olhou para Gina e fez sinal para que o acompanhasse ao quintal. Ao passarem pela cozinha, a garota comentou em voz baixa:
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