Gritos, clarões verdes para todo lado: Hagrid soltou um berro e a moto virou de cabeça para baixo. Harry perdeu a noção de onde estavam: lampiões de rua no alto, berros à sua volta, ele agarrado ao sidecar, como se disso dependesse sua vida. A gaiola de Edwiges, a Firebolt e a mochila escorregaram de baixo dos seus joelhos...
-Não...! EDWIGES!
A vassoura girou em direção ao solo, mas ele conseguiu, por um triz, agarrar a alça da mochila e a gaiola quando a moto voltou à posição normal. Um segundo de alívio e outro clarão verde. A coruja soltou um grito agudo e tombou no chão da gaiola. — Não... NÃO!
A moto avançava veloz; de relance, Harry viu Comensais da Morte encapuzados se dispersarem quando Hagrid rompeu o seu círculo.
— Edwiges... Edwiges ...
A coruja, porém, continuou no chão da gaiola, imóvel e patética como um brinquedo. Harry não conseguia acreditar, e sentiu um supremo terror pelos companheiros. Espiou rapidamente por cima do ombro e viu uma massa de gente se deslocando, clarões verdes, dois pares montados em vassouras se distanciavam, mas não sabia dizer quem eram...
— Hagrid, temos que voltar, temos que voltar! — berrou para sobrepor a voz ao ronco atroante do motor, empunhou a varinha, empurrou a gaiola de Edwiges para o chão, se recusando a aceitar que estivesse morta. — Hagrid, DÊ MEIA-VOLTA!
— Minha obrigação é levar você em segurança, Harry! — berrou Hagrid, acelerando.
— Pare... PARE! — gritou Harry. Quando tornou a olhar para trás, dois jorros de luz verde passaram voando por sua orelha esquerda: quatro Comensais da Morte tinham deixado o círculo e vinham em sua perseguição, fazendo pontaria nas largas costas de Hagrid. O bruxo se desviou, mas os Comensais emparelharam com a moto; lançaram mais feitiços contra eles, e Harry teve que se abaixar para evitá-los. Torcendo-se para trás, ordenou “ Estupefaça !”, e um raio de luz vermelha partiu de sua varinha, abrindo uma brecha entre os quatro perseguidores, ao se dispersarem para evitar ser atingidos.
— Segure-se, Harry, isso acabará com eles — rugiu Hagrid, e Harry ergueu os olhos bem em tempo de ver o amigo meter o dedo grosso em um botão verde ao lado do medidor de gasolina.
Uma parede, uma parede maciça de tijolos irrompeu do cano de escape. Espichando o pescoço, Harry a viu expandir-se no ar. Três dos Comensais da Morte se desviaram para evitá-la, mas o quarto não teve tanta sorte: desapareceu e em seguida despencou como uma pedra por trás da parede, sua vassoura despedaçada. Um dos companheiros diminuiu a velocidade para socorrê-lo, mas eles e a parede voadora foram engolidos pela escuridão quando Hagrid se inclinou por cima do guidão e acelerou.
Mais Maldições da Morte lançadas pelos dois Comensais sobreviventes voaram pelos lados da cabeça de Harry, mirando Hagrid. Harry respondeu com Feitiços Estuporantes; vermelho e verde colidiam no ar produzindo uma chuva de faíscas multicoloridas, e o garoto pensou intempestivamente em fogos de artifício, e nos trouxas lá embaixo que não fariam idéia do que estava acontecendo...
— Lá vamos nós outra vez, Harry, segure-se — berrou Hagrid, apertando um segundo botão. Desta vez saiu uma rede pelo escape, mas os Comensais da Morte estavam preparados. Não só se desviaram, como o que havia desacelerado para salvar o amigo inconsciente os alcançou: brotou inesperadamente da escuridão e agora três deles vinham em perseguição da moto, todos disparando feitiços.
— Isso vai resolver, Harry, segure firme! — berrou Hagrid, e o garoto o viu bater com a mão espalmada no botão roxo ao lado do velocímetro.
Com um urro inconfundível, o fogo de dragão, incandescente e azul, jorrou pelo escape e a moto arrancou com a velocidade de uma bala produzindo um som metálico. Harry viu os Comensais da Morte desaparecerem para evitar a trilha mortífera de chamas e ao mesmo tempo sentiu o sidecar sacudir sinistramente: as ligações metálicas que o prendiam à moto racharam com a violência da aceleração.
— Tudo bem, Harry! — berrou Hagrid, empurrado para trás pelo ímpeto da moto; ninguém controlava agora, e o sidecar começou a se retorcer violentamente no jato de ar que a moto deslocava.
“Estou alerta, Harry, não se preocupe!”, berrou Hagrid, e, do bolso do blusão, ele tirou o guarda-chuva cor-de-rosa e florido.
— Hagrid! Não! Deixa comigo!
— REPARO!
Ouviu-se um estampido ensurdecedor e o sidecar se soltou completamente: Harry disparou para a frente, impulsionado pela velocidade da moto, então o sidecar começou a perder altura...
Desesperado, Harry apontou a varinha para o carro e gritou:
— Wingardium Leviosa !
O sidecar subiu como uma rolha, desgovernada, mas, pelo menos, no ar. Seu alívio, porém, durou apenas segundos: mais feitiços passaram por ele como raios, os três Comensais da Morte agora mais próximos.
— Estou chegando, Harry! — gritou Hagrid da escuridão, mas o garoto sentiu o sidecar recomeçar a afundar: agachando-se o mais baixo que podia, apontou para os vultos que se aproximavam e berrou: — Impedimenta !
O feitiço atingiu no peito o Comensal do centro. Por um instante, o homem abriu absurdamente braços e pernas no ar, como se tivesse batido contra uma barreira invisível: um dos seus companheiros quase se chocou com ele...
Então o sidecar começou de fato a cair e um dos Comensais disparou um feitiço tão perto de Harry que ele precisou se encolher abaixo da borda do sidecar , e perdeu um dente ao bater contra o assento...
— Estou indo, Harry, estou indo!
Uma mão descomunal agarrou as vestes do garoto pelas costas e guindou-o para fora do sidecar em mergulho irreversível; Harry puxou para si a mochila ao se arrastar para o assento da moto e se viu sentado de costas para Hagrid. Ao ganharem altitude, afastando-se dos dois Comensais da Morte restantes, o garoto cuspiu o sangue da boca, e, apontando a varinha para o sidecar que caía, gritou:
— Confringo!
Sentiu uma dor terrível como se lhe arrancassem as entranhas quando Edwiges explodiu; o Comensal mais próximo foi arrancado da vassoura e saiu do campo de visão de Harry; o companheiro recuou e desapareceu.
— Harry, me desculpe, me desculpe — gemeu Hagrid. — Eu devia ter tentado consertar o sidecar ... você ficou sem espaço...
— Isto não é problema, continue voando! — gritou Harry em resposta, no momento em que mais dois Comensais da Morte emergiam da escuridão e vinham em sua direção.
Quando os feitiços cortaram o espaço entre eles, Hagrid se desviou e ziguezagueou; Harry sabia que o amigo não ousaria usar novamente o botão do fogo de dragão, com ele sentado sem a menor segurança. Disparou um Feitiço Estuporante atrás do outro contra os perseguidores, mal conseguindo mantê-los a distância. Disparou outro feitiço para detê-los: o Comensal mais próximo desviou-se e seu capuz caiu, e, à luz vermelha do Feitiço Estuporante seguinte, Harry reconheceu o estranho rosto vidrado de Stanislau Shunpike, o Lalau...
— Expelliarmus ! — berrou Harry.
— É ele, é ele, o verdadeiro!
O grito do Comensal encapuzado chegou aos ouvidos de Harry apesar do ronco da moto: no momento seguinte, mais dois perseguidores tinham recuado e desaparecido de vista.
— Harry, que aconteceu? — berrou Hagrid. — Onde eles se meteram?
— Não sei!
Harry, porém, teve medo: o Comensal encapuzado gritara “é o verdadeiro”; como soubera? Correu os olhos pela escuridão aparentemente vazia e sentiu o perigo. Onde estavam? Ele se virou no assento para ficar de frente e se agarrou nas costas do blusão de Hagrid.
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