— Hagrid, use o fogo do dragão outra vez, vamos dar o fora daqui.
— Segure-se bem, então, Harry!
Ouviu-se uma trovoada metálica e ensurdecedora e o fogo branco-azulado jorrou do escape: o garoto sentiu que estava escorregando para trás no pouco assento que lhe cabia, Hagrid foi atirado para cima dele, mal conseguindo manter as mãos no guidão...
— Acho que despistamos eles, Harry, acho que conseguimos! -berrou Hagrid.
Harry, contudo, não se convenceu: o medo o envolvia enquanto olhava à direita e à esquerda, à procura dos perseguidores e seguro de que viriam... Por que teriam recuado? Um deles ainda segurava a varinha... “ É ele, é ele, o verdadeiro ”... tinham exclamado logo depois que ele tentara desarmar Lalau...
— Estamos quase chegando, Harry, estamos quase conseguindo! — gritou Hagrid.
Harry sentiu a moto perder um pouco de altitude, embora as luzes em terra ainda parecessem estrelas remotas.
Então a cicatriz em sua testa ardeu em brasa: dois Comensais apareceram dos lados da moto, duas Maldições da Morte lançadas por trás passaram a milímetros do garoto...
Então Harry o viu. Voldemort vinha voando como fumaça ao vento, sem vassoura nem testrálio para sustentá-lo, seu rosto ofídico brilhando na escuridão, seus dedos brancos erguendo mais uma vez a varinha... Hagrid soltou um urro amedrontado e mergulhou a moto verticalmente. Segurando-se como se a vida dependesse disso, Harry disparou Feitiços Estuporantes a esmo para a noite vertiginosa. Viu um corpo passar por ele e soube que tinha atingido alguém, mas, em seguida, ouviu um estampido e viu saírem faíscas do motor; a moto entrou em uma espiral descendente, completamente descontrolada...
Jatos de luz verde tornaram a passar por eles. Harry estava totalmente desorientado: sua cicatriz continuava a queimar; esperou morrer a qualquer segundo. Uma figura encapuzada em uma vassoura vinha a centímetros dele, o garoto viu-a erguer o braço...
— NÃO!
Com um grito de fúria, Hagrid se atirou da moto contra o Comensal da Morte; para seu horror, Harry viu os dois bruxos caírem e desaparecer, seus pesos somados excessivos para a vassoura...
Mal se segurando na moto com os joelhos, Harry ouviu Voldemort gritar:
— Meu!
Era o fim: ele não ouvia nem via onde Voldemort estava; de relance, percebeu outro Comensal da Morte fazer uma curva para se afastar do caminho e ouviu: — Avada...
Quando a dor forçou-o a fechar os olhos, sua varinha agiu por vontade própria. Sentiu-a arrastar seu braço como um enorme magneto, pelas pálpebras entreabertas viu um jorro de fogo dourado, ouviu um estalido e um grito de fúria. O Comensal da Morte restante urrou; Voldemort berrou:
— NÃO!
De algum modo, Harry se deu conta de que estava com o nariz a dois centímetros do botão do fogo de dragão; socou-o com a mão livre e a moto disparou mais chamas no ar, precipitando-se para o solo.
— Hagrid! — chamou Harry, se segurando com força à moto. -Hagrid... Accio Hagrid !
A moto acelerou, puxada para a terra. Com o rosto ao nível do guidão, Harry nada via exceto luzes distantes que se aproximavam sem parar: ele ia bater e não havia nada que pudesse fazer. Atrás dele, outro grito...
— Sua varinha, Selwyn, me dê sua varinha!
Harry sentiu Voldemort antes de vê-lo. Olhando de esguelha, ele deparou com os olhos vermelhos e teve certeza de que seria a última coisa que veria na vida: Voldemort preparando-se para amaldiçoá-lo.
Então o lorde sumiu. Harry olhou para baixo e viu Hagrid de pernas e braços abertos no chão: puxou com força o guidão para evitar bater nele, tateou à procura do freio, mas, com um estrondo de furar os tímpanos e uma colisão de fazer o chão tremer, a moto bateu com grande impacto em um laguinho lamacento.
— Hagrid?
Harry lutou para levantar-se dos destroços de metal e couro que o cercavam; suas mãos afundaram em centímetros de água lamacenta quando tentou ficar de pé. Não conseguia entender aonde fora Voldemort, e esperava, a qualquer momento, vê-lo descer da escuridão. Alguma coisa quente e molhada escorria-lhe do queixo e da testa. Ele se arrastou para fora do laguinho e cambaleou até a grande massa escura no chão, que era Hagrid.
— Hagrid? Hagrid, fala comigo... Mas a massa escura não se mexeu.
— Quem está aí? É o Potter? Você é Harry Potter?
Harry não reconheceu a voz do homem. Então uma mulher gritou:
— Eles sofreram um acidente, Ted! Caíram no jardim! A cabeça de Harry estava rodando.
— Hagrid — repetiu, abobado, e seus joelhos cederam. Quando voltou a si, estava deitado de costas no que lhe pareciam almofadas, com uma sensação de queimação nas costelas e no braço direito. Seu dente partido rebrotara. A cicatriz na testa ainda latejava.
— Hagrid?
Harry abriu os olhos e viu que estava deitado em um sofá, em uma sala iluminada e desconhecida. Sua mochila estava no chão a uma pequena distância, molhada e suja de lama. Um homem louro, barrigudo, observava-o com ansiedade.
— Hagrid está bem, filho — disse o homem. — Minha mulher está cuidando dele agora. Como está se sentindo? Mais alguma coisa quebrada? Consertei suas costelas, seu dente e seu braço. A propósito, sou Ted, Ted Tonks, o pai de Dora.
Harry se sentou depressa demais: as luzes piscaram diante dos seus olhos e ele se sentiu enjoado e tonto.
— Voldemort...
— Tenha calma — disse Ted Tonks, apoiando a mão no seu ombro e empurrando-o contra as almofadas. — Você acabou de sofrer um acidente sério. Afinal, que aconteceu? Alguma coisa enguiçou na moto? Arthur Weasley exagerou outra vez, ele e suas geringonças de trouxas?
— Não — respondeu Harry, sentindo a cicatriz latejar como uma ferida aberta. — Comensais, montes deles... fomos perseguidos...
— Comensais? — interrompeu-o Ted. — Você quer dizer, Comensais da Morte? Pensei que não soubessem que você ia ser transferido hoje à noite, pensei...
— Eles sabiam.
Ted Tonks olhou para o teto como se pudesse ver o céu lá fora.
— Ora, então sabemos que os nossos feitiços de proteção funcionam, não? Não deveriam poder chegar a novecentos metros deste lugar em qualquer direção.
Harry compreendeu, então, por que Voldemort desaparecera; tinha sido no ponto em que a moto cruzou a barreira de feitiços da Ordem. Sua esperança era que continuassem a funcionar: ele imaginou o lorde a novecentos metros de altura, enquanto conversavam, procurando um modo de penetrar o que Harry visualizou como uma imensa bolha transparente.
O garoto pôs as pernas para fora do sofá; precisava ver Hagrid com seus próprios olhos para acreditar que o amigo continuava vivo. Mal se levantara, porém, a porta se abriu e Hagrid se espremeu por ela, o rosto coberto de lama e sangue, mancando um pouco, mas milagrosamente vivo.
— Harry!
Derrubando duas frágeis mesas e uma aspidistra, o gigante cobriu a distância que os separava em dois passos e puxou o garoto para um abraço que quase partiu suas costelas recém-emendadas.
— Caramba, Harry, como foi que você se safou? Pensei que nós dois estávamos ferrados.
— Eu também. Nem acredito...
Harry se calou: acabava de notar a mulher que entrara na sala depois de Hagrid.
— Você! — gritou ele, enfiando a mão no bolso, mas encontrou-o vazio.
— Sua varinha está aqui, filho — disse Ted, batendo de leve era seu braço com o objeto. — Caiu bem do seu lado, e eu a recolhi. E essa com quem você está gritando é a minha mulher.
— Ah, me... me desculpe.
Quando a bruxa se adiantou, a semelhança da sra. Tonks com a irmã, Belatriz, se tornou menos acentuada: o castanho dos seus cabelos era suave e claro, e seus olhos maiores e mais bondosos. Contudo, ela pareceu um pouco arrogante ao ouvir a exclamação de Harry.
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