1 ...6 7 8 10 11 12 ...155 — Então, vamos ou não vamos? — urrou tio Válter, reaparecendo à porta da sala de estar. — Pensei que estávamos em cima da hora!
— Claro... claro, estamos — respondeu Dédalo Diggle, que parara diante dessa troca de palavras com ar de estupefação, e agora parecia ter voltado ao normal. — Realmente precisamos ir, Harry...
O bruxo se adiantou aos tropeços e apertou a mão de Harry entre as suas.
— ... boa sorte. Espero que voltemos a nos encontrar. Você carrega nos ombros as esperanças do mundo bruxo.
— Ah, certo. Obrigado.
— Adeus, Harry — disse Héstia, também apertando sua mão. — Os nossos pensamentos o acompanharão.
— Espero que tudo corra bem — disse Harry, lançando um olhar a Petúnia e Duda.
— Ah, tenho certeza que vamos acabar nos tornando os melhores amigos — disse Diggle animado, acenando com a cartola ao sair da sala. Héstia acompanhou-o.
Duda se soltou gentilmente das garras da mãe e se adiantou para Harry, que precisou conter o impulso de ameaçá-lo com um feitiço. Então, o primo estendeu a manzorra rosada.
— Caramba, Duda — disse Harry, sobrepondo-se aos renovados soluços de tia Petúnia —, será que os dementadores sopraram para dentro de você uma nova personalidade?
— Sei lá — murmurou Duda. — A gente se vê, Harry.
— É — respondeu Harry, apertando a mão do primo e sacudindo-a. — Quem sabe. Se cuida, Dudão.
Duda quase sorriu e em seguida saiu, desajeitado, da sala. Harry ouviu seus passos pesados na entrada de saibro, então a porta de um carro bateu.
Tia Petúnia, cujo rosto estivera enfiado no lenço, olhou para os lados ao ouvir a batida. Pelo jeito, não esperava se ver sozinha com Harry. Guardando apressada o lenço molhado no bolso, disse:
— Bom... adeus. — E dirigiu-se resoluta à porta, sem olhar para o sobrinho.
— Adeus — respondeu Harry.
Ela parou e olhou para trás. Por um momento, Harry teve a estranhíssima sensação de que ela queria lhe dizer alguma coisa: a tia lhe lançou um olhar estranho e trêmulo que pareceu oscilar à beira da fala, então, com um movimento brusco da cabeça, saiu apressada da sala para se reunir ao marido e ao filho.
Harry voltou correndo ao seu quarto, chegando ainda em tempo de ver o carro dos Dursley se afastar rua acima. Avistou, ainda, a cartola de Dédalo Diggle entre Petúnia e Duda, no banco traseiro. O veículo virou à direita, no fim da rua dos Alfeneiros, suas janelas se avermelharam por um momento ao sol poente, e, então, desapareceu.
Harry apanhou a gaiola de Edwiges, a Firebolt e a mochila, lançou um último olhar ao quarto anormalmente arrumado e, então, desceu desajeitado para o hall, onde pousou a gaiola, a vassoura e a mochila próximos ao pé da escada. A claridade diminuía rapidamente, o hall enchia-se de sombras crepusculares. Parecia muito estranho ficar parado ali, naquele silêncio, sabendo que ia sair de casa pela última vez. Anos atrás, quando os Dursley o deixavam sozinho e iam se divertir, as horas de solidão tinham se constituído num presente raro: parando apenas para furtar alguma guloseima da geladeira, ele corria escada acima para brincar com o computador de Duda, ou ligar a televisão e trocar de canal à vontade. Dava-lhe um estranho vazio lembrar aqueles tempos: era como lembrar um irmão mais moço que tivesse perdido.
— Não quer dar uma última olhada na casa? — perguntou a Edwiges, que continuava aborrecida com a cabeça sob a asa. — Nunca mais viremos aqui. Você não quer lembrar os bons tempos? Isto é, olhe só para esse capacho. Que recordações... Duda vomitou aí depois que o salvei dos dementadores... Ele acabou me agradecendo, dá para acreditar?... E no verão passado, Dumbledore entrou por essa porta...
Harry perdeu por um instante o fio dos pensamentos, mas Edwiges não fez nada para ajudá-lo a retomar seu discurso e continuou parada na mesma posição. Harry virou as costas para a porta da frente.
— E aqui embaixo, Edwiges — Harry abriu uma porta sob a escada —, é onde eu costumava dormir! Você nem me conhecia na época... caramba, eu tinha esquecido como é apertado...
Harry correu o olhar pelos sapatos e guarda-chuvas empilhados, lembrando-se de que acordava toda manhã encarando o “avesso” dos degraus da escada, que muito freqüentemente estavam enfeitados com uma ou duas aranhas. Naquele tempo, desconhecia sua verdadeira identidade, e ainda não descobrira como os pais tinham morrido nem a razão de coisas tão estranhas sempre acontecerem ao seu redor. Harry ainda lembrava os sonhos que o perseguiam, mesmo naquela época: sonhos confusos que incluíam clarões verdes e, uma vez — tio Válter quase batera com o carro quando lhe contara um deles —, uma moto voadora...
Um ronco repentino e ensurdecedor ecoou perto dali. Harry se endireitou abruptamente e bateu com o cocuruto no portal baixo. Parando apenas para dizer alguns dos palavrões mais enfáticos aprendidos com o tio, saiu cambaleando até a cozinha com as mãos na cabeça e espiou o quintal pela janela.
A escuridão parecia estar ondulando, o ar estremecia. Então, uma a uma, as pessoas começaram a aparecer instantaneamente à medida que se desfaziam os Feitiços da Desilusão. Dominando a cena, ele viu Hagrid, de capacete e óculos de proteção, montando uma gigantesca motocicleta com um sidecar preto. A toda volta, outras pessoas desmontavam de vassouras e, em dois casos, de cavalos alados negros e esqueletais.
Abrindo com violência a porta dos fundos, Harry correu para o centro do círculo. Ergueu-se um grito de boas-vindas enquanto Hermione abria os braços para ele, Rony lhe dava um tapinha nas costas e Hagrid perguntava:
— Tudo bem, Harry? Pronto para o bota-fora?
— Com certeza — respondeu, incluindo todos em um grande sorriso. — Mas eu não estava esperando tanta gente!
— Mudança de planos — rosnou Olho-Tonto, que segurava duas sacas grandes e cheias e cujo olho mágico girava do céu do anoitecer para a casa e dali para o jardim, com estonteante rapidez. -Vamos entrar antes de lhe explicar tudo.
Harry conduziu-os à cozinha onde, rindo e tagarelando, eles se acomodaram em cadeiras, sentaram-se nas reluzentes bancadas da tia Petúnia ou se encostaram em seus imaculados eletrodomésticos: Rony, magro e comprido; Hermione com os cabelos bastos presos às costas em uma longa trança; Fred e Jorge, com sorrisos idênticos; Gui, cheio de cicatrizes e cabelos longos; o sr. Weasley, o rosto bondoso, os cabelos rareando, os óculos meio tortos; Olho-Tonto, cansado de guerra, perneta, o olho mágico azul girando na órbita; Tonks, cujos cabelos curtos estavam pintados no rosa berrante de que tanto gostava; Lupin, mais grisalho, mais enrugado; Fleur, esguia e linda com seus longos cabelos louros platinados; Kingsley, careca, negro, os ombros largos; Hagrid, de barba e cabelos sem trato, curvando-se para não bater a cabeça no teto; e Mundungo Fletcher, franzino, sujo e trapaceiro, com aqueles olhos caídos de basset hound e os cabelos empastados. O coração de Harry pareceu crescer e se iluminar ao vê-los; gostava incrivelmente de todos, até de Mundungo, que ele tentara estrangular da última vez que o encontrara.
— Kingsley, pensei que você estivesse cuidando do primeiro-ministro trouxa, não? — perguntou do lado oposto da cozinha.
— Ele pode passar sem mim por uma noite — respondeu. — Você é mais importante.
— Harry, adivinha? — falou Tonks, empoleirada sobre a máquina de lavar roupa, acenando os dedos da mão esquerda para ele; brilhava ali uma aliança.
— Você se casou? — gritou Harry, seu olhar correndo da auror para Lupin.
— Que pena que você não pôde assistir, Harry, foi superíntimo.
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