1 ...5 6 7 9 10 11 ...155 — Bom dia aos parentes de Harry Potter! — exclamou Dédalo, feliz, entrando na sala de estar. Os Dursley não pareceram nada felizes com a saudação; Harry chegou a pensar que mudariam mais uma vez de idéia. Duda se encolheu junto à mãe ao ver os bruxos.
“Vejo que já fizeram as malas e estão prontos. Excelente! O plano, como Harry deve ter-lhes dito, é simples”, prosseguiu Dédalo, puxando do colete um enorme relógio de bolso e consultando-o.
“Vamos sair antes de Harry. Devido ao perigo de se usar magia em sua casa, porque Harry ainda é menor de idade, e isto poderia dar ao Ministério uma desculpa para prendê-lo, seguiremos de carro, digamos, por uns dois quilômetros. Então, desaparataremos até o local seguro que escolhemos para os senhores. Imagino que saiba dirigir, não?”, perguntou o bruxo a tio Válter educadamente.
— Saiba...? Claro que sei dirigir muito bem! — respondeu ele bruscamente.
— É preciso muita inteligência, senhor, muita inteligência. Eu ficaria absolutamente abobalhado com todos aqueles botões e alavancas de puxar e empurrar — disse Dédalo. Sem dúvida, o bruxo pensava estar elogiando Válter Dursley, que visivelmente ia perdendo confiança no plano a cada palavra que Dédalo dizia.
— Nem ao menos sabe dirigir — resmungou, entre os dentes, ondulando o bigode de indignação, mas, por sorte, nem Dédalo nem Héstia pareceram ouvi-lo.
— Você, Harry — continuou Dédalo —, irá esperar aqui por sua guarda. Houve uma pequena mudança nos preparativos...
— Que quer dizer? — perguntou Harry, surpreso. — Pensei que Olho-Tonto viria para fazer comigo uma aparatação acompanhada, não?
— Inviável — respondeu Héstia, concisamente. — Olho-Tonto lhe explicará.
Os Dursley, que tinham escutado tudo com expressões de total incompreensão nos rostos, sobressaltaram-se ao ouvir um guincho alto: “ Apressem-se! ” Harry correu os olhos pela sala e se deu conta de que a voz saíra do relógio de bolso de Dédalo.
— Tem razão, estamos operando com um horário apertado -comentou o bruxo, assentindo para o relógio e tornando a enfiá-lo no bolso do colete. — Estamos tentando cronometrar sua saída da casa com a desaparatação de sua família, Harry; assim, o feitiço se desfaz no momento em que todos estiverem rumando para um destino seguro. — E, voltando-se para os Dursley: — Então, estamos com as malas feitas e prontos para partir?
Nenhum deles lhe respondeu: tio Válter ainda olhava espantado para o volume no bolso do colete de Dédalo.
— Talvez a gente devesse esperar lá fora no hall, Dédalo — murmurou Héstia: era evidente que considerava indelicado permanecerem na sala enquanto Harry e os Dursley, talvez às lágrimas, trocavam despedidas amorosas.
— Não precisa — murmurou Harry, mas tio Válter tornou qualquer explicação desnecessária ao dizer em voz alta:
— Então, adeus, moleque. — Ergueu o braço direito para apertar a mão do garoto, mas, no último instante, pareceu incapaz de fazê-lo, e simplesmente fechou a mão e começou a sacudi-la para frente e para trás como se fosse um metrônomo.
— Pronto, Duzinho? — perguntou tia Petúnia, verificando, atrapalhada, o fecho da bolsa de mão para evitar sequer olhar para Harry.
Duda não respondeu, mas ficou parado ali com a boca entreaberta, lembrando ligeiramente a Harry o gigante Grope.
— Vamos, então — disse o tio. Ele já alcançara a porta da sala quando Duda murmurou:
— Eu não estou entendendo.
— O que não está entendendo, fofinho? — perguntou tia Petúnia, erguendo a cabeça para o filho.
Duda estendeu a mão, que mais parecia um presunto, e apontou para Harry.
— Por que ele não está vindo com a gente?
Tio Válter e tia Petúnia congelaram onde estavam, como se o filho tivesse acabado de expressar o desejo de ser uma bailarina.
— Quê?! — exclamou tio Válter em voz alta.
— Por que ele não está vindo também? — repetiu Duda.
— Ora, ele... ele não quer — respondeu tio Válter, virando-se com um olhar feroz para o sobrinho e acrescentando: — Você não quer, não é mesmo?
— Nem pensar — confirmou Harry.
— Viu? — disse tio Válter ao filho. — Agora ande, estamos indo.
E saiu da sala; todos ouviram a porta da frente abrir, mas Duda não se mexeu e, após alguns poucos passos hesitantes, tia Petúnia parou também.
— Que foi agora? — vociferou tio Válter, reaparecendo à porta. Aparentemente, Duda lutava com conceitos demasiado difíceis para expressar em palavras. Passados vários segundos de um conflito interior visivelmente doloroso, ele perguntou:
— Mas aonde ele está indo?
Tia Petúnia e tio Válter se entreolharam. Era óbvio que Duda estava apavorando os pais. Héstia Jones rompeu o silêncio.
— Mas... certamente o senhor sabe aonde está indo o seu sobrinho, não? — perguntou, demonstrando perplexidade.
— Certamente que sabemos — retrucou Válter Dursley. — Está indo embora com uns tipos da sua laia, não é? Certo, Duda, vamos para o carro, você ouviu o que o homem disse, estamos com pressa.
Mais uma vez, Válter Dursley se dirigiu resolutamente à porta da frente, mas Duda não o acompanhou.
— Indo embora com uns tipos da nossa laia?
Héstia pareceu ultrajada. Harry já vira essa reação antes: bruxos se mostrarem perplexos ao constatar que os parentes vivos mais próximos tivessem tão pouco interesse no famoso Harry Potter.
— Tudo bem — Harry tranqüilizou-a. — Não faz diferença, sinceramente.
— Não faz diferença? — repetiu Héstia, sua voz se alteando ameaçadoramente. — Essas pessoas não entendem o que você tem sofrido? O perigo em que se encontra? A posição única que você ocupa no coração dos que militam no movimento anti-Voldemort?
— Ah... não, não entendem — respondeu Harry. — Na verdade, acham que sou um desperdício de espaço, mas estou acostumado...
— Eu não acho que você seja um desperdício de espaço.
Se Harry não tivesse visto a boca do garoto mexer, talvez não tivesse acreditado. Tendo visto, entretanto, ficou olhando para Duda durante vários segundos antes de aceitar, por um detalhe, que devia ter sido o primo quem falara: seu rosto avermelhara. E Harry estava, ele próprio, sem graça e pasmo.
— Ãh... obrigado, Duda.
Novamente, Duda pareceu lutar com pensamentos demasiado difíceis, antes de murmurar:
— Você salvou a minha vida.
— Não foi bem assim. Era a sua alma que o dementador queria... Harry olhou com curiosidade para o primo. Eles virtualmente não tinham tido contato durante este verão ou o anterior, porque ele voltara à rua dos Alfeneiros por poucos dias e ficara em seu quarto a maior parte do tempo. Ocorria-lhe agora, porém, que a xícara de chá em que pisara aquela manhã talvez não tivesse sido uma armadilha. Embora bastante comovido, sentiu-se aliviado ao constatar que Duda aparentemente esgotara sua capacidade de expressar sentimentos. Depois de abrir a boca mais uma ou duas vezes, o primo mergulhou em ruborizado silêncio.
Tia Petúnia rompeu em lágrimas. Héstia Jones lhe lançou um olhar de aprovação que se transformou em revolta quando a mulher se adiantou rapidamente e abraçou Duda em vez de Harry.
— Que amor, Dudoca... — soluçou ela encostada no largo peito do filho —, q-que beleza de g-garoto... ag-gradecendo...
— Mas ele não agradeceu! — exclamou Héstia, indignada. — Ele só disse que não achava que Harry fosse um desperdício de espaço!
— É, mas, vindo de Duda, isto equivale a dizer “eu te amo” -explicou Harry, dividido entre a contrariedade e a vontade de rir, quando tia Petúnia continuou agarrada a Duda como se ele tivesse acabado de salvar Harry de um prédio em chamas.
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