José Eça de Queirós - A Relíquia

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Atordoado, enfileirei-me numa procissão penitente — onde eu julgara entrever, brancas, altivas, entre véus pretos de arrependimento, as duas penas de gaivota. Uma carmelita, à frente, resmungava a ladainha, detendo-nos a cada passo, arrebanhados num assombro devoto, à porta de capelas cavernosas, dedicadas à paixão — a do Impropério, onde o Senhor foi flagelado, a da Túnica, onde o Senhor foi despido. Depois subimos, de tochas na mão, uma escadaria tenebrosa, escavada na rocha... — E subitamente todo o tropel devoto se atirou de rojo, ululando, carpindo, gemendo, flagelando os peitos, clamando pelo Senhor, lúgubre e delirante. Estávamos sobre a pedra do Calvário.

Em torno, a capela que a abriga, resplandecia com um luxo sensual e pagão. No teto azul-ferrete brilhavam sóis de prata, signos do zodíaco, estrelas, asas de anjos, flores de púrpura; e, dentre este fausto sideral, pendiam de correntes de pérolas os velhos símbolos da fecundidade, os ovos de avestruz, ovos sacros de Astarté e de Baco de ouro. Sobre o altar elevava-se uma cruz vermelha com um Cristo tosco pintado a ouro, que parecia vibrar, viver através do fulgor difuso dos molhos de lumes, da faiscação das alfaias, do fumo dos aromáticos ardendo em taças de bronze. Globos espelhados, pousando sobre peanhas de ébano, refletiam as jóias dos retábulos, a refulgência das paredes revestidas de jaspe, de nácar e de ágata. E no chão, em meio deste clarão precioso de pedraria e luz, emergindo dentre as lajes de mármore branco, destacava um bocado de rocha bruta e brava, com uma fenda alargada e polida por longos séculos de beijos e de afagos beatos. Um arquidiácono grego, de barbas esquálidas, gritou: «Nesta rocha foi cravada a cruz! A cruz! A cruz! Miserere! Kyrie Eleison! Cristo! Cristo!» As rezas precipitaram-se, mais ardentes, entre soluços. Um cântico dolente balançava-se, ao ranger dos incensadores. Kyrie Eleison! Kyrie Eleison! E os diáconos perpassavam rapidamente, sofregamente, com vastos sacos de veludo, onde tilintavam, se afundavam, se sumiam as oferendas dos simples.

Fugi, aturdido e confuso. O sábio historiador dos Herodes passeava no adro, sob o seu guarda-chuva, respirando o ar úmido. De novo nos acometeu o bando esfaimado dos vendilhões de relíquias. Repeli-os rudemente; e saí do santo lugar como entrara — em pecado e praguejando.

No hotel, Topsius recolheu logo ao quarto a registrar as suas impressões do sepulcro de Jesus; eu fiquei no pátio cervejando e cachimbando com o aprazível Pote. Quando subi, tarde, o meu esclarecido amigo já ressonava, com a vela acesa — e com um livro aberto sobre o leito, um livro meu, trazido de Lisboa para me recrear no país do Evangelho, o Homem dos Três Calções. Descalçando os botins, sujos da lama venerável da Via-Dolorosa — eu pensava na minha Cibele. Em que sacratíssimas ruínas, sob que árvores divinizadas por terem dado sombra ao Senhor, passara ela essa tarde nevoenta de Jerusalém? Fora ao Vale do Cédron? Fora ao branco túmulo de Raquel?...

Suspirei, amoroso e moído; e abria os lençóis bocejando — quando distintamente, através do tabique fino, senti um ruído de água despejada numa banheira. Escutei, alvoroçado; e logo nesse silêncio negro e magoado que sempre envolve Jerusalém, me chegou, perceptível, o som leve de uma esponja arremessada na água. Corri, colei a face contra o papel de ramagens azuis. Passos brandos e nus pisavam a esteira que recobria o ladrilho de tijolo; e a água rumorejou, como agitada por um doce braço despido que lhe experimentava o calor. Então, abrasado, fui ouvindo todos os rumores íntimos de um longo, lento, lânguido banho; o espremer da esponja; o fofo esfregar da mão cheia de espuma de sabão; o suspiro lasso e consolado do corpo que se estira sob a carícia da água tépida, tocada de uma gota de perfume... A testa, túmida de sangue, latejava-me; e percorria desesperadamente o tabique, procurando um buraco, uma fenda. Tentei verrumá-lo com a tesoura; as pontas finas quebraram-se na espessura da caliça... Outra vez a água cantou, escoando da esponja; e eu, tremendo todo, julgava ver as gotas vagarosas a escorrer entre o rego desses seios duros e brancos que faziam estalar o vestido de sarja...

Não resisti; descalço, em ceroulas, saí ao corredor adormecido; e cravei à fechadura da sua porta um olho tão esbugalhado, tão ardente — que quase receava feri-la com a devorante chama do seu raio sangüíneo... Enxerguei num círculo de claridade uma toalha caída na esteira, um roupão vermelho, uma nesga do alvo cortinado do seu leito. E assim agachado, com bagas de suor no pescoço, esperava que ela atravessasse, nua e esplêndida, nesse disco escasso de luz, quando senti de repente, por trás, uma porta ranger, um clarão banhar a parede. Era o barbaças, em mangas de camisa, com o seu castiçal na mão! E eu, misérrimo Raposo, não podia escapar. De um lado estava ele, enorme. Do outro, o topo do corredor, maciço.

Vagarosamente, calado, com método, o Hércules pousou a vela no chão, ergueu a sua rude bota de duas solas, e desmantelou-me as ilhargas... Eu rugi: «bruto!» Ele ciciou: «silêncio!» E outra vez, tendo-me ali acercado contra o muro, a sua bota bestial e de bronze me malhou tremendamente quadris, nádegas, canelas, a minha carne toda, bem cuidada e preciosa! Depois, tranqüilamente, apanhou o seu castiçal. Então eu, lívido, em ceroulas, disse-lhe com imensa dignidade:

— Sabe o que lhe vale, seu bife? E estarmos aqui ao pé do túmulo do Senhor, e eu não querer dar escândalos por causa da minha tia... Mas se estivéssemos em Lisboa, fora de portas, num sitio que eu cá sei, comia-lhe os fígados! Nem você sabe de que se livrou. Vá com esta; comia-lhe os fígados!

E muito digno, coxeando, voltei ao quarto a fazer pacientes fricções de arnica. Assim eu passei a minha primeira noite em Sião.

Ao outro dia cedo o profundo Topsius foi peregrinar ao Monte das Oliveiras, à fonte clara de Siloé. Eu, dorido, não podendo montar a cavalo, fiquei no sofá de riscadinho com o Homem dos Três Calções. E até para evitar o afrontoso barbaças não desci ao refeitório, pretextando tristeza e langor. Mas ao mergulhar o sol no Mar de Tiro — estava restabelecido e vivaz. Pote preparara para essa noite uma festividade sensual em casa de Fatmé, matrona bem acolhedora, que tinha no bairro dos Armênios um doce pombal de pombas; e nós íamos lá contemplar a gloriosa bailadeira da Palestina, a Flor de Jericó, a saracotear essa dança da Abelha, que esbraseia os mais frios e deprava os mais puros...

A recatada portinha da Fatmé, ornada de um pé de vinha seca, abria-se ao canto de um muro negro junto à Torre de Davi. Fatmé esperava-nos, majestosa e obesa, envolta em véus brancos, com fios de corais entre as tranças, os braços nus, tendo cada um a cicatriz escura de um bubão de peste. Tomou-me submissamente a mão, levou-a à testa oleosa, levou-a aos lábios empastados de escarlate, e conduziu-me em cerimônia defronte de uma cortina preta, franjada de ouro como o pano de um esquife. E eu estremeci, ao penetrar enfim nos segredos deslumbradores de um serralho mudo e cheirando a rosa.

Era uma sala caiada de fresco, com sanefas de algodão vermelho encimando a gelosia; e ao longo das paredes corria um divã amassado, revestido de seda amarela, com remendos de seda mais clara. Num bocado de tapete da Pérsia pousava um braseiro de latão, apagado, sob o montão de cinzas; aí ficara esquecido um pantufo de veludo estrelado de lentejoulas. Do teto de madeira alvadia, onde se alastrava uma nódoa de umidade, pendia, de duas correntes enfeitadas de borlas, um candeeiro de petrolina. Um bandolim dormia a um canto, entre almofadas. No ar morno errava um cheiro adocicado e mole a mofo e a benjoim. Pelos ladrilhos, por baixo dos poiais da gelosia, corriam carochas.

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