Sem dúvida, mas quando regressar contigo a Selongey gostaria que tivesses, nesse belo corpo, uma pequenina chama. Qual é o homem apaixonado que não deseja fundir-se com a mulher amada para dar à luz uma criança? E nunca mulher alguma foi amada como eu te amo... Meu amor, minha doce, minha bela, quando estiver longe de ti ser-me-á tão doce...
Aquelas últimas palavras fundiram-se num beijo ardente que Philippe prolongou ao longo do pescoço de Fiora, ao mesmo tempo que a sua mão lhe afastava docemente as pernas. Mas uma espécie de sinal de alarme acabava de se acender no espírito da jovem e, deslizando para fora do abraço que a prendia, afastou-se um pouco e ficou sentada aos pés da cama, de pernas dobradas, olhando para o grande corpo deitado marcado por novas cicatrizes.
Quando estiveres longe de mim? O que é que isso quer dizer? Tens intenção de me deixar, agora que acabamos de nos reencontrar?
Vai ser preciso, meu amor suspirou ele. O duque morreu, mas a Borgonha continua viva. E tem um nome: a princesa Maria, que a cidade de Gan mantém cativa com a duquesa Marguerite. É dever daqueles que foram companheiros do seu pai irem oferecer-lhe os seus braços e as suas espadas...
A princesa Maria? Mas ela não precisa de ninguém! Não está noiva do filho do imperador Frederico? Creio que ele já é suficientemente grande para velar pelos interesses da sua futura mulher?
Depois do que acaba de se passar, não tenho a certeza que Frederico continue a considerar esta aliança muito proveitosa. A Borgonha está exangue... e as filhas do Rei de França são muito ricas. Não te zangues, Fiora e volta para os meus braços! Eu tenho um dever a cumprir e a minha mulher deve compreender.
Ele tentou puxá-la para si, mas ela bateu nas mãos estendidas e saltou da cama...
Não, Philippe. Não contes com a minha compreensão. Durante este tempo todo em que estivemos afastados um do outro, sofri demasiado, para aceitar agora uma nova separação... Tu és, decididamente, o homem dos amores breves! Quando casaste comigo só querias de mim uma noite de amor e agora, após unicamente três noites, só pensas em partir? Quero lá saber da princesa! Ela tem palácios, guardas, uma herança enorme e um noivo imperial. E eu tenho que ir enterrar-me num castelo perdido na companhia de uma cunhada que me detestará, sem dúvida, enquanto tu cavalgas pela Flandres e brincas aos cavaleiros andantes socorrendo viúvas e órfãs? Não contes com isso!...
Fiora exclamou Philippe tu não compreendes. O meu amor por ti, ardente e profundo, não está em jogo. Sabes muito bem que só tu contas para mim...
Depois da princesa Maria!
Não, muito antes, mas devemos à memória do seu pai tudo o que pudermos fazer para a salvar dos perigos que a ameaçam. Eu não vou partir já amanhã. Dentro de alguns dias iremos a Selongey, onde te instalarei como senhora soberana. E pode ser que não esteja ausente muito tempo. Voltarei...
Para o nascimento do teu primeiro filho? Não, não estou de acordo. Leva-me contigo!...
É impossível. Ainda não estás farta de guerra?
Mais do que farta, porque não ignoro que ela faz mais viúvas do que heróis. Ou ficas comigo... ou eu vou-me embora!
Ele levantou-se de um salto, correu para ela e quis prendê-la nos braços.
Louca disse ele ternamente para onde irias?
Para minha casa. Agnolo Nardi, que gere os interesses franceses do banco Beltrami, queria comprar-me um domínio. Melhor ainda, o Rei Luís deu-me de presente um castelo perto de Plessis-lez-Tours. É para lá que vou, Philippe... e será lá que tu me irás procurar quando decidires ser para mim um marido, um amante... enfim, outra coisa que não uma corrente de ar...
Fiora! As tuas condições são inaceitáveis. Eu sou borgonhês e não tenho nada que fazer em França. Nunca irei!...
Nem para me ir buscar?
Nem para te ir buscar...
Nesse caso, adeus... porque essa é a única prova de amor que quero de ti.
Ele empalidecera, mas os seus olhos dourados chamejavam de cólera:
Não tens o direito de fazer isso. És minha mulher e deves obedecer-me...
Ela olhou para ele por um instante, lutando contra a vontade de pôr termo àquela disputa, de se refugiar nos seus braços e recomeçar o terno duo interrompido, mas ele tinha pronunciado a palavra que não devia: obedecer!
O meu próprio pai, que tinha todo o direito, nunca me exigiu obediência. Se ser tua mulher só significa isso para ti, mais vale separarmo-nos. Um casamento pode anular-se, sei-o muito bem e, nem que tenha de ir a Roma, anularei o nosso... a menos que venhas comigo!
Arrancando um cobertor da cama, Fiora cobriu a sua nudez e saiu do quarto quente reprimindo ferozmente os soluços que lhe subiam à garganta.
Saint-Mandé, 12 de Agosto de 1988.