— Onde estamos?
— Na Sala Precisa, é claro! — respondeu Neville. — Desta vez ela foi demais, não? Os Carrow estavam me perseguindo, e eu sabia que só tinha um esconderijo possível: consegui passar pela porta e foi isso que encontrei! Bem, não estava exatamente assim quando cheguei, era bem menor, só tinha uma rede e tapeçarias da Grifinória. Mas se expandiu à medida que mais gente da Armada de Dumbledore foi chegando.
— E os Carrow não podem entrar? — perguntou Harry, olhando ao redor à procura da porta.
— Não — respondeu Simas Finnigan, que Harry não reconhecera até ouvir sua voz: o rosto do colega estava inchado e roxo. — É um esconderijo de verdade, desde que um de nós esteja sempre presente, eles não podem nos surpreender, a porta não se abrirá. É tudo obra do Neville. Ele realmente saca essa sala. Você tem que pedir exatamente o que precisa... tipo “Não quero que nenhum seguidor dos Carrow possa entrar”, e a sala fará isso! Você só tem que garantir que não deixou nenhum furo! Neville é o cara!
— Na realidade, não tem mistério — disse Neville, modestamente. — Eu já estava aqui fazia um dia e meio, louco de fome, desejei arranjar o que comer e a passagem para o Cabeça de Javali se abriu. Entrei por ela e deparei com Aberforth. Ele tem nos fornecido comida, porque, por alguma razão, essa é a única coisa que a sala não faz.
— É, bem, comida é uma das cinco exceções da Lei de Gamp sobre a Transfiguração Elementar — afirmou Rony, para surpresa geral.
— E assim estamos nos escondendo aqui há quase duas semanas — informou Simas —, e a sala acrescenta mais redes toda vez que precisamos, e até fez brotar um banheiro muito bom quando as garotas começaram a chegar...
— ... foi quando desejaram muito poder se lavar — acrescentou Lilá Brown, que Harry não havia notado até aquele momento. Agora que reparava melhor o ambiente, reconheceu os rostos de muitos colegas. As gêmeas Patil estavam ali, bem como Terêncio Boot, Ernesto Macmillan, Antônio Goldstein e Miguel Corner.
— Mas contem o que vocês andaram fazendo — pediu Ernesto -; são muitos os boatos que correm e temos procurado nos manter informados sobre vocês pelo Observatório Potter . — Ele apontou para o rádio. — Vocês não arrombaram o Gringotes?
— Arrombaram! — confirmou Neville. — E o dragão também é verdade!
Ouviram-se breves aplausos e alguns gritos; Rony fez uma reverência.
— Que estavam procurando? — perguntou Simas, ansioso. Antes que alguém pudesse desviar a pergunta com outra, Harry sentiu uma dor terrível e causticante na cicatriz. Ao se virar rapidamente de costas para os rostos curiosos e extasiados, a Sala Precisa desapareceu, e ele se viu parado no interior de um casebre de pedra, em ruínas, as tábuas podres do soalho arrancadas aos seus pés, uma caixa de ouro desenterrada aberta e vazia ao lado de um buraco, e o berro de fúria de Voldemort vibrou em sua cabeça.
Com enorme esforço, ele se retirou da mente de Voldemort e voltou ao lugar em que estava, na Sala Precisa, oscilando, o suor porejando em seu rosto e Rony sustentando-o em pé.
— Você está bem, Harry? — Ele ouviu Neville perguntar. — Quer se sentar? Imagino que esteja cansado, não...?
— Não — respondeu Harry. Ele olhou para Rony e Hermione, tentando lhes comunicar, mudamente, que Voldemort acabara de descobrir a perda de uma de suas Horcruxes. O tempo estava se esgotando depressa: se Voldemort decidisse visitar Hogwarts em seguida, eles perderiam sua oportunidade.
“Temos que ir andando”, falou, e as expressões dos colegas revelaram compreensão.
— Que vamos fazer, então, Harry? — perguntou Simas. — Qual é o plano?
— Plano? — repetiu Harry. Ele estava exercendo toda a sua força de vontade para não se deixar sucumbir à fúria de Voldemort: sua cicatriz continuava a queimar. — Bem, tem uma coisa que nós, Rony, Hermione e eu, precisamos fazer, e depois temos que sair daqui.
Ninguém mais estava rindo nem aplaudindo. Neville pareceu aturdido.
— Como assim “sair daqui”?
— Não viemos para ficar — respondeu Harry, esfregando a cicatriz, tentando suavizar a dor. — Tem uma coisa importante que precisamos fazer...
— Que é?
— Eu... eu não posso dizer.
Seguiram-se murmúrios de desagrado a essa notícia: as sobrancelhas de Neville se contraíram.
— Por que não pode nos dizer? É alguma coisa ligada à luta contra Você-Sabe-Quem, certo?
— Bem, é...
— Então nós o ajudaremos.
Os outros membros da Armada de Dumbledore assentiram, alguns entusiasticamente, outros solenemente. Uns dois se levantaram de suas cadeiras para demonstrar sua disposição de agir imediatamente.
— Você não está entendendo. — Pareceu-lhe ter repetido aquilo muitas vezes nas últimas horas. — Nós... nós não podemos dizer. Temos que fazer isso... sozinhos.
— Por quê? — perguntou Neville.
— Porque... — Em seu desespero para começar a procurar a Horcrux restante, ou, pelo menos, ter uma conversa particular com Rony e Hermione para decidir por onde começar a busca, Harry teve dificuldade em pensar. Sua cicatriz ainda queimava. — Dumbledore nos encarregou de uma tarefa, que não devíamos comentar... quer dizer, ele queria que a fizéssemos, só nós três.
— Nós somos a Armada dele — insistiu Neville. — A Armada de Dumbledore. Estivemos todos unidos nisso, temos continuado a resistir enquanto vocês três estiveram lá fora sozinhos...
— Não tem sido exatamente um piquenique, colega — disse Rony.
— Eu nunca disse que foi, mas não vejo por que não podem confiar na gente. Todos nesta Sala estiveram lutando e acabaram aqui porque estavam sendo caçados pelos Carrow. Todos aqui provaram sua lealdade a Dumbledore, lealdade a você.
— Escute — começou Harry, sem saber o que ia dizer, mas não importava: a porta do túnel acabara de abrir às suas costas.
— Recebemos sua mensagem, Neville! Olá, vocês três, achamos que deviam estar aqui!
Eram Luna e Dino. Simas deu um urro de prazer e correu a abraçar o seu melhor amigo.
— Oi, pessoal! — cumprimentou Luna, feliz. — Ah, que ótimo estar aqui de novo!
— Luna — disse Harry, perturbado —, que está fazendo aqui? Como foi...?
— Pedi a ela para vir — respondeu Neville, mostrando o galeão falso. — Prometi a ela e a Gina que, se você voltasse, eu avisaria. Todos pensamos que a sua volta significaria realmente uma revolução. Que íamos derrubar Snape e os Carrow.
— Claro que é isso que significa — confirmou Luna, animada. -Não é, Harry? Vamos expulsá-los de Hogwarts à força?
— Escutem — disse Harry, com uma crescente sensação de pânico. — Sinto muito, mas não foi para isso que voltamos. Tem uma coisa que precisamos fazer e depois...
— Vocês vão nos deixar nessa confusão? — quis saber Miguel Corner.
— Não! — protestou Rony. — O que estamos fazendo vai acabar beneficiando todo mundo, estamos tentando nos livrar de Você-Sabe-Quem...
— Então nos deixe ajudar! — exclamou Neville, irritado. -Queremos participar!
Houve novo ruído atrás deles, e Harry se virou. Seu coração pareceu parar: Gina vinha agora passando pelo buraco na parede, seguida de perto por Fred, Jorge e Lino Jordan. Gina deu a Harry um sorriso radiante: ele tinha esquecido ou, então, nunca apreciara realmente como era bonita, mas nunca sentira menos satisfação em vê-la.
— Aberforth está ficando meio rabugento — comentou Fred, acenando em resposta aos vários gritos de saudação. — Ele quer dormir, e aquilo virou uma estação de trem.
O queixo de Harry caiu. Logo atrás de Lino Jordan vinha sua antiga namorada, Cho Chang. Ela sorriu.
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