— Recebi a mensagem — disse ela, erguendo o seu galeão falso, e atravessou a sala para se sentar ao lado de Miguel Corner.
— Então, qual é o plano, Harry? — perguntou Jorge.
— Não há nenhum — respondeu Harry, ainda desorientado pela repentina aparição de tanta gente, incapaz de apreender tudo aquilo, enquanto sua cicatriz continuava a queimar barbaramente.
— Vai improvisar à medida que formos indo, é isso? É o que mais gosto — comentou Fred.
— Você tem que fazer isso parar! — disse Harry a Neville. — Para que chamou todos de volta? Isto é uma insanidade...
— Vamos lutar, não é? — perguntou Dino, tirando do bolso o galeão falso. — A mensagem dizia que Harry tinha voltado e que íamos lutar! Mas vou precisar de uma varinha...
— Você não tem varinha ...? — começou Simas.
Rony virou-se subitamente para Harry.
— Por que eles não podem ajudar? — Quê?
— Eles podem ajudar. — Ele baixou a voz para que ninguém mais pudesse ouvir, exceto Hermione, que estava entre os dois. — Não sabemos onde a coisa está. Precisamos encontrá-la depressa. Não temos que dizer a eles que é uma Horcrux.
Harry olhou de Rony para Hermione, que murmurou:
— Acho que Rony tem razão. Nem sabemos o que estamos procurando, precisamos deles. — E, ao ver que Harry parecia em dúvida: — Você não tem que fazer tudo sozinho.
O garoto pensou depressa, sua cicatriz ainda formigando, seu coração ameaçando rachar outra vez. Dumbledore o alertara para não falar sobre as Horcruxes a quem quer que fosse, exceto Rony e Hermione. “Segredos e mentiras, foi assim que fomos criados, e Alvo... tinha um pendor natural...” Estaria virando um Dumbledore, guardando os segredos só para si, com medo de confiar? Mas Dumbledore confiara em Snape, e a que isso levara? A morte no topo da torre mais alta...
— Está bem — disse, em voz baixa, para os dois. — O.k. — dirigiu-se aos que estavam na sala, e todo o barulho cessou. Fred e Jorge que contavam piadas para divertimento dos que estavam mais próximos se calaram, e todos olharam atentos, nervosos.
“Tem uma coisa que precisamos encontrar”, começou Harry. “Uma coisa... uma coisa que nos ajudará a derrubar Você-Sabe-Quem. Está aqui em Hogwarts, mas não sabemos onde. Talvez tenha pertencido a Ravenclaw. Alguém já ouviu falar de um objeto assim? Alguém já topou com algum objeto com uma águia gravada, por exemplo?”
Ele olhou esperançoso para o pequeno grupo de alunos da Corvinal, para Padma, Miguel, Terêncio e Cho, mas foi Luna quem respondeu, empoleirada no braço da poltrona de Gina.
— Bem, tem o diadema perdido. Falei dele para você, lembra, Harry? O diadema perdido de Ravenclaw? Papai está tentando duplicar.
— É, mas o diadema perdido — comentou Miguel Corner, virando os olhos para o teto — está perdido , Luna. Essa é justamente a questão.
— Quando foi perdido? — perguntou Harry.
— Dizem que há séculos — informou Cho, e Harry sentiu desânimo. — O professor Flitwick diz que o diadema desapareceu com a própria Ravenclaw. As pessoas têm procurado, mas — e ela apelou para os colegas da Casa — ninguém encontrou o menor vestígio, não foi? Todos sacudiram a cabeça confirmando.
— Desculpem, mas o que é um diadema? — perguntou Rony.
— É uma espécie de coroa — explicou Terêncio Boot. — Acreditava-se que o da Ravenclaw tinha propriedades mágicas, ampliava a sabedoria de quem o usava.
— Isso, os sifões dos zonzóbulos do papai... Mas Harry interrompeu Luna.
— E nenhum de vocês nunca viu nada parecido?
Todos tornaram a sacudir a cabeça. Harry olhou para Rony e Hermione e viu o próprio desapontamento espelhado no rosto deles. Um objeto que se perdera havia tanto tempo, e aparentemente sem deixar vestígio, não parecia um bom candidato a Horcrux escondida no castelo, porém, Cho retomou a palavra.
— Se você quiser ver que aparência acreditam ter o diadema, eu posso levá-lo à nossa sala comunal e lhe mostrar, Harry. Ravenclaw foi esculpida usando-o.
A cicatriz de Harry queimou outra vez: por um momento a Sala Precisa flutuou à sua frente, e em seu lugar ele viu a terra escura deslizando sob os pés e sentiu a enorme cobra enrolada em seus ombros. Voldemort estava voando outra vez, fosse para o lago subterrâneo fosse para ali, para o castelo, ele ignorava, mas tanto fazia, quase não restava tempo.
— Ele está viajando — disse, em voz baixa, para Rony e Hermione. Harry olhou para Cho e tornou a olhar para os amigos. — Escutem, sei que não é uma grande pista, mas vou dar uma espiada na estátua, para saber ao menos que aparência tem o diadema. Me esperem aqui e segurem, sabem... a outra... bem segura.
Cho se erguera, mas Gina disse meio agressiva.
— Não, Luna levará o Harry, fará isso, não, Luna?
— Aaah, claro, com todo prazer — respondeu ela, alegremente, e Cho tornou a se sentar, desapontada.
— Como saímos? — perguntou Harry a Neville.
— Por aqui.
Ele levou Harry e Luna para um canto, onde um pequeno armário se abria para uma escada íngreme.
— Surge a cada dia em um lugar diferente, por isso, nunca conseguiram encontrá-la. O único problema é que nós nunca sabemos exatamente onde vamos parar quando saímos. Cuidado, Harry, há sempre patrulhas nos corredores à noite.
— Tudo bem. Vemos vocês daqui a pouco.
Ele e Luna subiram correndo a escada, que era longa, iluminada por archotes e fazia curvas inesperadas. Por fim, chegaram ao que lhes pareceu uma parede maciça.
— Entre aqui embaixo — disse Harry a Luna, apanhando a Capa da Invisibilidade e atirando-a sobre os dois. Deu, então, um empurrãozinho na parede.
Ela se dissolveu ao seu toque e os dois saíram depressa: Harry olhou para trás e viu que a parede tornara a se fechar imediatamente. Achavam-se em um corredor escuro; Harry puxou Luna de volta às sombras, procurou na bolsa pendurada ao seu pescoço e encontrou o mapa do maroto. Segurando-o junto ao nariz, procurou e localizou os pontinhos dele e de Luna.
— Estamos no quinto andar — sussurrou, observando Filch se afastar deles, um corredor à frente. — Vamos, é por aqui.
Saíram, então, andando furtivamente.
Harry rondara à noite pelo castelo muitas vezes, mas nunca seu coração batera tão rápido, nunca tanta coisa dependera de passar ileso por esses corredores. Atravessando quadrados de luar no piso, passando por armaduras cujos elmos rangiam ao som dos seus passos abafados, dobrando quinas sem saber o que encontrariam do outro lado, Harry e Luna prosseguiram, verificando o mapa do maroto sempre que havia luz suficiente, parando duas vezes para deixar um fantasma passar sem atrair sua atenção para eles. Ele esperava encontrar um obstáculo a qualquer momento; seu maior receio era o Pirraça, e apurava os ouvidos a cada passo para identificar os primeiros sinais da aproximação do poltergeist.
— Por aqui, Harry — sussurrou Luna, puxando a manga dele em direção a uma escada circular.
Subiram em círculos apertados e estonteantes; Harry nunca estivera ali antes. Finalmente, chegaram a uma porta. Não tinha maçaneta nem fechadura: nada, exceto uma tábua lisa de madeira envelhecida e uma aldraba de bronze em forma de águia.
Luna esticou a mão pálida, que parecia a de um fantasma flutuando no ar, desligada de braço ou corpo. Ela bateu uma vez, e, no silêncio, a batida pareceu a Harry um tiro de canhão. Imediatamente o bico da águia se abriu, mas, em vez do grito do pássaro, uma voz suave e musical perguntou:
— O que veio primeiro, a fênix ou a chama?
— Humm... que acha, Harry? — perguntou Luna, pensativa.
— Quê? Não tem uma senha?
Читать дальше
Конец ознакомительного отрывка
Купить книгу