— Não.
Isso parecia eliminar uma possibilidade. Os construtores das cúpulas bem poderiam ser os mesmos construtores do robô, e poderiam ter incluído esse tabu nas instruções originais da máquina.
— Quando você recebeu a ordem? — perguntou Alvin.
— Quando pousei.
Alvin voltou-se para Hilvar, com a luz de uma nova esperança brilhando em seus olhos.
— Há inteligência aqui! Pode senti-la?
— Não — respondeu Hilvar. — O lugar me parece tão morto quanto o primeiro mundo que visitamos.
— Vou lá fora, reunir-me ao robô. Qualquer coisa que lhe tenha falado poderá falar comigo também.
Hilvar não discutiu a questão, embora não parecesse muito satisfeito. Levaram a nave a trinta metros de distância da cúpula, para perto do robô, e abriram a câmara pneumática.
Alvin sabia que a porta não se abriria a menos que o cérebro da nave já houvesse verificado que a atmosfera fosse respirável. Por um momento, supôs que o cérebro houvesse cometido um engano, pois o ar era tênue e quase não lhe enchia os pulmões. Então, inalando profundamente, descobriu que podia sugar oxigênio suficiente para sobreviver, embora julgasse que só poderia suportar, no máximo, alguns minutos ali.
Ofegando, caminharam até o robô e se aproximaram da parede curva da enigmática cúpula. Deram mais um passo — e então pararam, juntos, como se atingidos pelo mesmo golpe súbito. Em suas mentes, como se soasse um poderoso gongo, reverberara uma mensagem:
PERIGO. NÃO SE APROXIMEM MAIS.
Isso, e nada mais. A mensagem se transmitia não em palavras, mas em puro pensamento. Alvin teve a certeza de que qualquer criatura, qualquer que fosse seu nível de inteligência, receberia a mesma advertência, do mesmo modo inteiramente inequívoco — no recesso mais profundo da mente.
Era um aviso, não uma ameaça. De algum modo, entenderam que as palavras não eram contra eles, mas pretendiam protegê-los. Pareciam dizer que havia ali algo de intrinsecamente perigoso, e que os construtores daqueles hemisférios estavam ansiosos em garantir que ninguém sofresse por ignorância.
Alvin e Hilvar recuaram vários passos, olhando um para o outro, cada qual esperando que o amigo dissesse o que estava pensando. Hilvar foi o primeiro a resumir sua opinião.
— Eu estava certo, Alvin — disse. — Não há inteligência aqui. Essa advertência é automática… acionada por nossa presença quando nos aproximamos excessivamente.
Alvin assentiu com a cabeça.
— O que será que estão tentando proteger? — disse. — Poderia haver edifícios… qualquer coisa… debaixo dessas cúpulas.
— Não temos como descobrir, se todas elas nos avisarem que fiquemos a distância. É interessante… a diferença entre os três planetas que visitamos. Tiraram absolutamente tudo do primeiro… abandonaram o segundo sem darem a menor importância… mas tiveram muito trabalho aqui. Talvez esperassem voltar algum dia, e desejassem que tudo estivesse pronto quando regressassem.
— Mas nunca voltaram… e isso foi há muito tempo.
— Podem ter mudado de idéia.
Era curioso, pensou Alvin, a maneira como tanto ele como Hilvar haviam inconscientemente começado a usar a palavra «eles». Quem ou o que «eles» tivessem sido, sua presença fora forte naquele primeiro planeta — e ainda mais forte ali. Aquele era um mundo cuidadosamente embalado e guardado para qualquer época em que voltasse a ser necessário…
— Vamos voltar para a nave — disse Alvin, ofegante. — Não consigo respirar direito aqui.
Assim que a porta fechou-se atrás deles, relaxaram e começaram a debater o que fariam a seguir. Para realizarem uma investigação rigorosa, deveriam examinar um grande número de cúpulas, na esperança de poderem encontrar uma que não emitisse advertência e na qual pudessem entrar. Se isso não desse certo… mas Alvin não desejava enfrentar a possibilidade, até ser obrigado a isso.
Teve de enfrentá-la menos de uma hora depois, e de uma forma muito mais dramática do que teria sonhado. Haviam mandado o robô a meia dúzia de cúpulas, sempre com o mesmo resultado, quando deram com uma cena inteiramente despropositada naquele mundo limpo e bem arrumado.
Abaixo deles estendia-se um amplo vale, esparsamente salpicado com as cúpulas tantalizantes e impenetráveis. No centro, via-se a cicatriz inconfundível de uma grande explosão, que espalhara destroços por quilômetros em todas as direções e cavara uma rasa cratera.
Ao lado da cratera estava uma nave espacial em pedaços.
Pousaram perto do palco dessa antiga tragédia e caminharam lentamente, poupando o fôlego, em direção ao casco imenso e dilacerado. Da nave, restava apenas uma parte mínima, que seria da proa ou da popa, tudo o mais provavelmente fora destruído na explosão. Ao se aproximarem, um pensamento começou a formar-se no cérebro de Alvin, ganhando força até tornar-se verdadeira certeza.
— Hilvar — disse ele, encontrando dificuldade para caminhar e falar ao mesmo tempo —, acho que essa é a nave que pousou no primeiro planeta que visitamos.
Hilvar assentiu com a cabeça, preferindo poupar o fôlego. A mesma coisa já lhe ocorrera. Aquela era uma boa lição concreta, pensava ele, para visitantes incautos. Esperava que Alvin não deixasse de atentar para isso.
Chegaram até o casco, examinando o interior da nave. Era como olhar para dentro de um edifício gigantesco que tivesse sido quase rachado ao meio. Pisos, paredes e tetos, quebrados no ponto da explosão, proporcionavam uma visão distorcida da seção transversal da nave. Que estranhos seres. imaginou Alvin, ainda jaziam no lugar onde haviam encontrado a morte quando da tragédia de seu veículo?
— Não compreendo uma coisa — disse Hilvar, de repente. — Essa parte da nave está muito destruída, mas acha-se quase intacta. Onde está o resto? Teria ela se quebrado em duas partes no espaço e essa parte caiu aqui?
Só depois que mandaram o robô para outra excursão de investigação, e após eles mesmos terem examinado a área em torno do sinistro, foi que tiveram resposta. Não havia sombra de dúvida, quaisquer reservas desapareceram quando Alvin encontrou a série de montículos baixos, cada qual com três metros de comprimento, na pequena colina ao lado da nave.
— Quer dizer que eles pousaram aqui — conjecturou Hilvar — e não levaram o aviso em consideração. Eram curiosos, tal como você. Tentaram abrir aquela cúpula.
Hilvar apontou para o outro lado da cratera, em direção ao invólucro liso, ainda sem marcas, dentro do qual os governantes daquele mundo haviam lacrado seus tesouros. Mas não se tratava mais de uma cúpula — era agora uma esfera quase completa, pois o solo sobre o qual repousava havia sido arrancado pela explosão.
— Provocaram a destruição da nave, e muitos deles morreram. Ainda assim, conseguiram reparar o veículo e partir novamente, cortando fora esse pedaço e tirando dele tudo que fosse de valor. Que trabalho deve ter dado!
Alvin mal o escutava. Olhava para a curiosa estrela que o atraíra àquele lugar — a haste delgada circundada por um círculo horizontal a um terço da extremidade superior. Por exótica e desconhecida que fosse, ele era capaz de entender a mensagem muda que ela vinha transmitindo há eras sem fim.
Debaixo daquelas pedras, se se dispusesse a mexer nelas, estava a resposta para pelo menos uma pergunta. Essa pergunta poderia permanecer sem resposta, fossem o que fossem aquelas criaturas, haviam conquistado o direito ao repouso.
Hilvar não chegou a ouvir as palavras que Alvin murmurou enquanto lentamente caminhavam de volta para sua nave.
— Espero que tenham chegado aonde queriam ir — disse ele.
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