— Não pode haver, pode? — perguntou Cooper. — Quero dizer que eu chego lá, ou Mallansohn não teria tido êxito na construção do campo, e ele teve.
— Exatamente — disse Twissell. — Você se encontrará num ponto protegido e isolado de uma área pouco populosa do sudoeste dos Estados Unidos da Amélica…
— América — corrigiu Cooper.
— América, então. O século será o 24; ou, para se dizer em centésimos mais aproximados, o século 23,17. Suponho que até podemos chamá-lo de ano de 2317, se quisermos.
A caldeira, como viu, é grande, muito maior que o necessário para você. Está sendo provida com alimento, água e com os meios de proteção e defesa. Você receberá instruções detalhadas que serão, evidentemente, insignificantes para qualquer pessoa que não você. Agora devo insistir com você que sua primeira tarefa será certificar-se de que nenhum dos habitantes nativos o descubra antes que você esteja pronto para eles. Você terá escavadores com os quais será capaz de escavar uma toca numa montanha para fazer um esconderijo. Você terá de remover rapidamente o conteúdo da caldeira. Este será empilhado de maneira a facilitar tal movimento.
(Repita! Repita!, pensou Harlan. Tudo isto deve ter sido dito a ele antes, mas repita o que deve constar na autobiografia. Gira e gira…)
— Você terá de descarregar em quinze minutos — disse Twissell. — Depois disso a caldeira voltará automaticamente ao ponto de partida, trazendo com ela todos os apetrechos que forem avançados demais para o século. Você terá uma lista destes. Após o retorno da caldeira, você agirá por conta própria.
— A caldeira deve retornar tão rapidamente? — perguntou Cooper.
— Um retorno rápido aumenta as probabilidades de sucesso — respondeu Twissell.
(Harlan pensou: A caldeira deve retornar em quinze minutos porque ela retornou em quinze minutos. Gira e…)
Twissell continuou apressadamente. — Não podemos tentar falsificar a média de valor de qualquer papel-moeda negociável deles. Você terá ouro em forma de pequenas pepitas. Você será capaz de explicar o fato de possuí-las de acordo com suas instruções detalhadas. Você terá vestuário nativo para usar ou, pelo menos, vestuário que passe por nativo.
— Certo — disse Cooper.
— Agora lembre-se. Movimente-se lentamente. Leve semanas, se necessário. Force entrada na época espiritualmente. As instruções do Técnico Harlan são uma boa base, mas não são suficientes. Você terá um receptor sem fio construído de acordo com os princípios do século 24, que lhe permitirá inteirar-se dos eventos correntes e, mais importante, aprender a pronúncia correta e a entonação da linguagem da época. Faça isso completamente. Estou certo de que o conhecimento de inglês de Harlan é excelente, mas nada pode substituir a pronúncia nativa do local.
— O que acontecerá se eu não parar no ponto certo? — perguntou Cooper. — Quero dizer, não no ano de 2317?
— Verifique isso com muito cuidado, é claro. Mas estará certo. Estará certo.
(Harlan pensou: Estará certo porque esteve certo. Gira…)
Cooper deve ter demonstrado não estar convencido, entretanto, pois Twissell disse: — A exatidão de foco foi cuidadosamente determinada. Eu tinha a intenção de explicar-lhe nossos métodos, e esta é uma boa ocasião. Por uma coisa, isso ajudará Harlan a entender os controles.
(Subitamente Harlan deu as costas para as janelas e fixou o olhar nos controles. Uma ponta da cortina de desespero levantou-se. O que aconteceria se…)
Twissell ainda conferenciava com Cooper no tom ansioso e superpreciso de professor, e, com parte de sua atenção, Harlan ainda ouvia.
— Obviamente — disse Twissell — um problema sério é o de se determinar a que distância no Primitivo um objeto é mandado após a aplicação de um dado impulso energético.
O método mais direto teria sido mandar um homem para o passado por esta caldeira, usando-se níveis de impulso cuidadosamente graduados. Fazer isso, contudo, teria signifi cado um certo lapso de tempo em cada caso, enquanto o homem determinasse o século em centésimos mais aproximados, através de observação astronômica ou obtendo informações apropriadas pelo receptor sem fio. Isso seria lento e também perigoso, pois o homem poderia ser descoberto pelos habitantes nativos, provavelmente com efeitos catastróficos em nosso projeto.
— Então, ao invés disso, o que fizemos foi o seguinte: mandamos ao passado uma massa conhecida do isótopo radioativo, nióbio-94, que se decompõe a isótopoo estável, molibdênio-94, por emissão de partícula beta. O processo tem meia duração de quase quinhentos séculos. À intensidade de radiação original da massa era conhecida.
Essa intensidade diminui com o tempo, de acordo com a simples relação envolvida em cinética de primeira ordem e, naturalmente, a intensidade pode ser medida com grande precisão.
— Quando a caldeira alcança seu destino em tempos Primitivos, a ampola contendo o isótopo é descarregada nas montanhas e então a caldeira retorna à Eternidade.
No momento, em fisiotempo, em que a ampola é descarregada, ela aparece simultaneamente em todos os Tempos futuros, tornando-se progressivamente mais velha. No lugar de descarga, no século 575 (no Tempo, realmente, e não na Eternidade), um Técnico detecta a ampola por suas radiações e a recobra.
— A intensidade de radiação é medida, o tempo que ela permaneceu nas montanhas é então conhecido e o século para o qual a caldeira viajou é também conhecido com duas casas decimais. Assim, dúzias de ampolas foram mandadas ao passado a vários níveis de impulso, e uma curvatura de calibragem foi estabelecida. A curva era um controle sobre as ampolas mandadas não constantemente ao Primitivo, mas aos primeiros séculos da Eternidade, onde também podiam ser feitas observações diretas.
— Houve falhas, naturalmente. As primeiras ampolas foram perdidas, até que aprendemos a considerar as mudanças geológicas não muito maiores entre o Primitivo e o século 575. Então, três das ampolas, mais tarde, nunca apareceram no século 575. Presumivelmente, algo saiu errado com o mecanismo de descarga e elas foram enterradas profundas demais na montanha para serem detectadas. Nós paramos com nossas experiências quando o nível de radiação ficou tão alto que nós tememos que algum dos habitantes do Primitivo pudesse detectá-lo e imaginar o que estariam fazendo artefatos radioativos na região. Mas tivemos o suficiente para nossos propósitos e estamos certos de que podemos mandar um homem a qualquer centésimo de um século do Primitivo que seja desejado.
— Você compreende tudo isso, Cooper, não é?
— Perfeitamente, Computador Twissell — respondeu Cooper. — Eu vi a curva de calibragem sem entender o propósito, na ocasião. Está bem claro, agora.
Mas Harlan estava muitíssimo interessado, agora. Fitou o arco uniforme representado em séculos. O arco brilhante era porcelana sobre metal, e as linhas finas dividiam-no em Séculos, Deciséculos e Centiséculos. Metal prateado aparecia escassamente através das linhas de porcelana, marcando-as claramente. Os algarismos eram feitos com perfeição e, inclinando-se para mais perto, Harlan pôde distinguir os séculos, do 17 ao 27. A linha-ponteiro estava fixada na marca do século 23,17.
Ele havia visto medidores de tempo similares, e quase imediatamente lançou-se à alavanca de controle de pressão. Ela não cedeu à sua força. A agulha permaneceu no lugar.
Ele quase pulou quando a voz de Twissell dirigiu-se subitamente a ele.
— Técnico Harlan!
— Sim, Computador — gritou ele, e então lembrou-se de que não podia ser ouvido. Caminhou até a janela e acenou.
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