Seu desenho e construção tornou-se possível por sugestões valiosas nas memórias de Mallansohn. Venha comigo.
A sala de controle era um canto isolado da grande sala. Harlan entrou e fitou sombriamente imensas barras coletivas.
— Pode ouvir-me rapaz? — disse Twissell.
Harlan sobressaltou-se e olhou em volta. Não havia notado que Twissell ficara para fora. Caminhou automaticamente até a janela e Twissell acenou para ele. — Posso ouvi-lo, senhor — respondeu Harlan. — Quer que eu saia?
— De forma alguma. Você está preso.
Harlan saltou para a porta, e seu estômago revirou-se numa série de nós frios e úmidos. Twissell tinha razão, e o que no Tempo estava acontecendo?
— Você ficará aliviado por saber, rapaz — disse Twissell — que sua responsabilidade acabou. Você estava preocupado por causa da responsabilidade; você fez perguntas perscrutadoras a respeito; e acho que sei o que você queria dizer. Isso não devia ser de sua responsabilidade. É só minha. Infelizmente, devemos deixar você na sala de controles, desde que está escrito que você estava aí e manejou os controles. Isto está registrado nas memórias de Mallansohn. Cooper vê-lo-á pela janela e cuidará disso.
— Além disso, pedir-lhe-ei para fazer o contato final de acordo com instruções que lhe darei. Se você acha que isso também é uma responsabilidade muito grande, pode ficar descansado. Outro contato paralelo ao seu está a cargo de outro homem. Se, por qualquer razão, você for incapaz de operar o contato, ele o fará.
Além disso, interromperei a transmissão de rádio de dentro da sala de controle. Você poderá ouvir-nos, mas não poderá falar conosco. Não precisa temer, conseqüentemente, que alguma exclamação involuntária de sua parte quebre o círculo.
Harlan olhou para fora em desamparo.
Twissell continuou. — Cooper estará aqui dentro de momentos e sua viagem ao Primitivo terá lugar dentro de duas fisio-horas. Depois disso, rapaz, o projeto estará concluído e você e eu estaremos livres.
Harlan estava mergulhando chocadamente no vórtice de um pesadelo vigilante. Twissell o teria enganado? Tudo que ele havia feito teria sido destinado somente a colocar Harlan calmamente numa sala de controle trancada? Tendo descoberto que Harlan conhecia sua própria importância, teria ele improvisado com inteligência diabólica, conservando-o absorvido em conversa, entorpecendo suas emoções com palavras, levando-o para cá, levando-o para lá, até que fosse o momento oportuno de prendê-lo?
Aquela rendição rápida e fácil quanto a Noys. Não farão mal a ela, havia dito Twissell. Tudo estará bem.
Como pôde acreditar nisso! Se não iam fazer mal a ela ou tocá-la, por que a barreira temporal nas colunas de caldeira do século 100.000? Isso somente deveria ter traído Twissell por completo.
Mas porque ele (idiota!) quis acreditar, deixou-se conduzir às cegas durante aquelas últimas fisio-horas, ser colocado numa sala trancada, onde ele não mais era necessário, nem mesmo para operar o contato final.
De um só golpe havia sido despojado de sua essencialidade. As cartas de sua mão haviam sido habilmente transformadas em derrota, e Noys estava fora de seu alcance para sempre. Não lhe importava que punição o poderia estar esperando. Noys estava fora de seu alcance para sempre.
Nunca lhe ocorrera que o projeto estivesse tão próximo do fim. Isso, naturalmente, era o que realmente havia tornado possível a sua derrota.
A voz de Twissell soou indistinta. — O rádio será interrompido agora, rapaz.
Harlan estava sozinho, indefeso, inútil…
13. ALÉM DO TÉRMINO DA ESCALA DESCENDENTE
Brinel d'água d'águaey Cooper entrou. A excitação brotou em seu rosto magro, tornando-o quase juvenil, apesar do espesso bigode de Mallansohn que cobria seu lábio superior.
(Harlan podia vê-lo pela janela e ouvi-lo claramente pelo rádio da sala. Um bigode de Mallansohn!, pensou ele amargamente. É claro!)
Cooper dirigiu-se a Twissell. — Eles não me deixaram entrar até agora, Computador.
— Muito certo — disse Twissell. — Eles tinham suas instruções.
— É agora a hora, então? Serei enviado?
— Quase a hora.
— E serei trazido de volta? Verei a Eternidade novamente?
Apesar da segurança com que Cooper deu as costas, havia uma ponta de incerteza em sua voz.
(Dentro da sala de controle Harlan bateu as mão fechadas penosamente contra o vidro reforçado da janela, desejando rompê-lo de alguma forma, para gritar: “Parem!
Aceitem minhas condições, ou eu…” De que adiantava?)
Cooper olhou ao redor na sala, sem notar que Twissell havia deixado de responder sua pergunta. Seu olhar caiu em Harlan, na janela da sala de controle.
Ele acenou excitadamente com a mão. — Técnico Harlan! Saia. Quero apertar-lhe a mão antes de ir.
Twissell interferiu. — Agora não, rapaz, agora não. Ele está nos controles.
— Oh! Sabe — disse Cooper — ele não parece estar bem.
— Contei a ele a verdadeira natureza do projeto — disse Twissell. — Temo que isso seja o suficiente para deixar qualquer um nervoso.
— Grande Tempo! Sim! — concordou Cooper. Eu soube disso durante semanas e ainda não me acostumei — houve um traço de quase histeria em sua risada. — Ainda não meti na minha cabeça dura que esta é realmente a minha oportunidade. Eu… eu estou com um pouco de medo.
— Não o censuro por isso.
— É meu estômago, principalmente, sabe. É a minha parte menos feliz.
— Bem, isso é muito natural e passará — disse Twissell. — Entrementes, sua hora de partida em Intertemporal Padrão foi fixada e você ainda tem de passar por uma certa porção de orientação. Por exemplo, você ainda não viu realmente a caldeira que vai usar.
Nas duas horas que se passaram Harlan ouviu tudo, estando eles à vista ou não. Twissell conferenciava com Cooper de maneira formal, e Harlan sabia o motivo. Cooper estava sendo informado somente das coisas que iria mencionar nas memórias de Mallansohn.
(Círculo completo. Círculo completo. E nenhuma maneira de Harlan romper o círculo com uma última destruição do templo de Sansão. O círculo gira e gira; ele gira e gira.)
— As caldeiras comuns — ele ouviu Twissell dizer — são empurradas e puxadas, se podemos usar tais termos num caso de forças Intertemporais. Ao se viajar do século X ao século Y dentro da Eternidade, há um ponto inicial de propulsão e um ponto final de repulsão.
— O que temos aqui é uma caldeira com um ponto inicial de propulsão mas sem um ponto de repulsão limitado. Ela somente pode ser enpurrada, mas não puxada. Por esta razão, ela deve utilizar energia num índice mais alto do que o usado por caldeiras normais. Unidades especiais de transferência de energia tiveram de ser assentadas ao longo das colunas de caldeira para canalizar concentrações de energia suficientes da Nova Sol.
— Esta caldeira especial, seus controles e suprimento de energia, é uma estrutura composta. Durante fisiodécadas, as Realidades passageiras foram vasculhadas em busca de ligas e técnicas especiais. A 13.” Realidade do século 222 foi a chave. Ela desenvolveu o Constritor Temporal, e sem isso, esta caldeira não poderia ter sido construída. A 13.a Realidade do século 222.
Ele pronunciou isso com esmerada clareza.
(Lembre-se disso, Cooper!, pensou Harlan. Lembre-se da 13.a Realidade do século 222 para que você possa citá-la na autobiografia de Mallansohn, para que os Eternos saibam onde procurar e possam contar a você, para que você possa citá-la… O círculo gira e gira…)
— A caldeira não foi testada além do término da escala descendente, é claro — disse Twissell — mas fez numerosas viagens dentro da Eternidade. Estamos convencidos de que não haverá efeitos desfavoráveis.
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