Melhor deve ser
Neste aventurar
Ver, e não guardar,
Que guardar e ver.
Ver e defender,
Muito bom sería,
Mas quem poderia?
– oOo —
MOTE
Irme quiero, madre,
Á aquella galera,
Con el marinero,
Á ser marinera.
Voltas
Madre, si me fuere,
Do quiera que vó,
No lo quiero yo,
Que el Amor lo quiere.
Aquel niño fiero,
Hace que me mueva
Por un marinero
Á ser marinera.
El que todo puede,
Madre, no podrá,
Pues el alma vá,
Que el cuerpo se quede.
Con él por que muero
Voy, porque no muera;
Que si es marinero,
Seré marinera.
Es tirana ley
Del niño Señor,
Que por un amor
Se deseche un Rey.
Pues desta manera
Quiero irme, quiero
Por un marinero
Á ser marinera.
Decid, ondas, cuando
Vistes vos doncella,
Siendo tierna y bella,
Andar navegando?
Mas qué no se espera
Daquel niño fiero?
Vea yo quien quiero,
Sea marinera.
– oOo —
MOTE
Saudade minha,
Quando vos veria?
Voltas
Este tempo vão,
Esta vida escassa,
Para todos passa,
Só para mi não.
Os dias se vão
Sem ver este dia,
Quando vos veria.
Vêde esta mudança
Se está bem perdida,
Em tão curta vida
Tão longa esperança.
Se este bem se alcança,
Tudo soffreria,
Quando vos veria.
Saudosa dor,
Eu bem vos entendo;
Mas não me defendo,
Porque offendo Amor.
Se fôsseis maior,
Em maior valia
Vos estimaria.
Minha saudade,
Charo penhor meu,
A quem direi eu
Tamanha verdade?
Na minha vontade
De noite e de dia
Sempre vos teria.
– oOo —
MOTE
Vida da minha alma,
Não vos posso ver:
Isto não he vida
Para se soffrer.
Voltas
Quando vos eu via,
Esse bem lograva,
A vida estimava,
Pois então vivia;
Porque vos servia
Só para vos ver.
Ja que vos não vejo
Para qu'he viver?
Vivo sem razão,
Porqu'em minha dor
Não a poz Amor;
Que inimigos são.
Mui grande traição
Me obriga a fazer
Que viva, Senhora,
Sem vos poder ver.
Não me atrevo ja,
Minha tão querida,
A chamar-vos vida,
Porque a tenho má.
Ninguem cuidará,
Que isto póde ser,
Sendo-me vós vida,
Não poder viver.
– oOo —
MOTE
Coifa de beirame
Namorou Joanne.
Voltas
Por cousa tão pouca
Andas namorado?
Amas o toucado,
E não quem o touca?
Ando cega e louca
Por ti, meu Joanne,
Tu pelo beirame.
Amas o vestido?
Es falso amador.
Tu não vês que Amor
Se pinta despido?
Cego e mui perdido
Andas por beirame,
E eu por ti, Joanne.
A todos encanta
Tua parvoice;
De tua doudice
Gonçalo s'espanta,
E zombando canta:
Coifa de beirame,
Namorou Joanne.
Eu não sei que viste
Neste meu toucado,
Que tão namorado
Delle te sentiste.
Não te veja triste;
Ama-me, Joanne,
E deixa o beirame.
Joanne gemia,
Maria chorava,
E assi lamentava
O mal que sentia:
(Os olhos feria,
E não o beirame,
Que matou Joanne)
Não sei do que vem
Amares vestido;
Que o mesmo Cupido
Vestido não tem.
Sabes de que vem
Amares beirame?
Vem de ser Joanne.
– oOo —
MOTE
Se Helena apartar
Do campo seus olhos,
Nascerão abrolhos.
Voltas
A verdura amena,
Gados, que pasceis,
Sabei que a deveis
Aos olhos d'Helena.
Os ventos serena,
Faz flores d'abrolhos
O ar de seus olhos.
Faz serras florídas,
Faz claras as fontes:
S'isto faz nos montes,
Que fara nas vidas?
Tra-las suspendidas,
Como hervas em mólhos,
Na luz de seus olhos.
Os corações prende
Com graça inhumana;
De cada pestana
Hum'alma lhe pende.
Amor se lhe rende,
E pôsto em giolhos,
Pasma nos seus olhos.
– oOo —
ALHEIO
Verdes são os campos
De côr de limão;
Assi são os olhos
Do meu coração.
Voltas
Campo, que t'estendes
Com verdura bella;
Ovelhas, que nella
Vosso pasto tendes;
D'hervas vos mantendes
Que traz o verão;
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados, que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendeis.
Isso que comeis,
Não são hervas, não;
São graça dos olhos
Do meu coração.
– oOo —
ALHEIO
Verdes são as hortas
Com rosas e flores:
Moças, que as régão,
Matão-me d'amores.
Voltas
Entre estes penedos
Que daqui parecem,
Verdes hervas crescem,
Altos arvoredos.
Vai destes rochedos
Ágoa, com que as flores
D'outras são regadas,
Que mátão d'amores.
Com ágoa, que cai
Daquella espessura,
Outra se mistura,
Que dos olhos sai:
Toda junta vai
Regar brancas flores;
Onde ha outros olhos,
Que mátão d'amores.
Celestes jardins,
As flores estrellas:
Hortelôas dellas
São huns seraphins.
Rosas e jasmins
De diversas côres,
Anjos, que as régão,
Mátão-me d'amores.
– oOo —
ALHEIO
Menina formosa,
Dizei de que vem
Serdes rigorosa
A quem vos quer bem?
Voltas
Não sei quem assella
Vossa formosura;
Que quem he tão dura
Não póde ser bella.
Vós sereis formosa;
Mas a razão tem
Que quem he irosa,
Não parece bem.
A mostra he de bella,
As obras são cruas:
Pois qual destas duas
Ficará na sella?
Se ficar irosa ,
Não vos está bem:
Fique antes formosa ,
Que mais fôrça tem.
O Amor formoso
Se pinta e se chama:
Se he amor, ama,
Se ama, he piedoso.
Diz agora a grosa
Que este texto tem,
Que quem he formosa
Ha de querer bem.
Havei dó, menina,
Dessa formosura;
Que se a terra he dura,
Secca-se a bonina.
Sêde piedosa;
Não veja ninguem
Que por rigorosa
Percais tanto bem.
– oOo —
ALHEIO
Tende-me mão nelle,
Que hum real me deve.
Voltas
C'hum real d'amor,
Dous de confiança,
E tres d'esperança,
Me foge o trédor.
Falso desamor
S'encerra naquelle
Que hum real me deve.
Pedio-mo emprestado,
Não lhe quiz penhor:
He mao pagador;
Tendo-mo afferrado.
C'hum cordel atado,
Ao Tronco se leve;
Que hum real me deve.
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