Henri-Louis Duhamel du Monceau
Descripçaõ sobre a cultura do Canamo ou Canave
§ I.
Qual he o temperamento do ar, que convem milhor ao Canamo
O Canamo naõ cresce tambem nos paizes quentes, como nos climas temperados, e se cria muito melhor nos Paizes frigidissimos, como o Canada, Riga, &c.: os quaes produzem abundancia de Linho, que he o melhor. Se emprega todos os annos huma grande quantidade do Canamo de Riga, em França, em Inglaterra, e principalmente em Hollanda.
§ II.
Qual he a terra, mais propria para o Canamo
He preciso para o Canamo huma terra branda, facil de lavrar, e hum pouco ligeira: porém fertil, e bem estercada. Os terrenos seccos naõ saõ proprios para semear o Canamo: porque naõ cresce muito nelles: antes pelo contrario he sempre baixo, e o linho, que produz, he ordinariamente lenhoso, o que o faz duro, e elastico: todos estes defeitos saõ consideraveis, principalmente para fazer as maiores cordagens, como veremos adiante.
Com tudo nos annos chuvosos he melhor semeallo nos terrenos seccos, do que nos terrenos humidos: porém estes annos saõ raros, assim se deve semear ordinariamente á borda d'hum regato, ou d'algum souto, cheio d'agua, de sorte, que a agua esteja muito perto, sem que produza innundaçaõ; estas terras saõ muito procuradas.
§ III.
Dos Estrumes proprios para temperar a terra dos Linhos
Todos os adubos, que fazem a terra leve saõ proprios para a producçaõ do Canamo: por conseguinte, o estrume de cavallo, d'ovelha, de pombo, o lodo das capoeiras se devem preferir ao estrume de boi, e de vacca, e naõ sei se por acaso se deve usar também, para estrumar os Linhaes de barro, chamado marne.
He preciso estrumar todos os annos os linhaes, antes da lavoura do Inverno, para que o estrume tenha tempo de se consumir, durante esta estaçaõ, e para que se misture mais intimamente com a terra, quando se fazem as lavouras da Primavera.
O estrume dos pombos he o unico, que se espalha nas ultimas lavouras, para se tirar delle melhor proveito: com tudo quando a Primavera he secca, se deve temer, que o estrume venha a queimar a semente, o que naõ succederá, se se espalhar no Inverno; porém neste caso he melhor deitar mais estrume, porque, fazendo o contrario, resultaria menos proveito.
§ IV.
Das Lavouras, que se devem dar aos Linhaes
A Primeira, e a mais consideravel destas Lavouras, se deve dar nos mezes de Dezembro, e Janeiro: ha Pessoas, que costumaõ fazella com a charrua, lavrando a terra por traços, ou regos, outros a costumaõ fazer com a enchada, formando com ella regos, para que as geadas do Inverno amoleçaõ melhor a terra; ha tambem outros, que a fazem com a pá de ferro, com a qual se fazem os valados; este modo he sem contradicçaõ melhor, que os outros; porém he mais dilatado, e mais trabalhoso; pelo contrario a Lavoura da charrua he a mais expedita; porém menos proveitosa.
Na primeira se deve preparar a terra para effeito de receber a semente, lavrando-a duas, ou tres vezes, de quinze em quinze dias, ou de tres em tres semanas, e depois disto, se deve alizar o terreno.
Deve-se observar, que estas Lavouras se devem, ou se podem fazer como aquella, que se faz no Inverno com a charrua, enchada, ou com a sobredita pá.
Finalmente, quando estas Lavouras saõ feitas, e que ficaõ alguns torrões, se devem pilar com huns malhos; porque he preciso, que todo o terreno do Linhal esteja taõ unido, e taõ movel, como o canteiro d'hum Jardim.
§ V.
Do tempo, e da maneira de semear a Linhaça
Costuma-se semear a Linhaça no mez de Abril, alguns a semeaõ quinze dias mais cedo, que os outros, e todos correm differentes perigos; porque aquelles, que a semeaõ muito cedo, devem summamente temer as geadas da Primavera, que causaõ grande prejuizo ao Canamo, novamente nascido; e aquelles que semeaõ muito tarde, devem temer as seccuras, que impedem algumas vezes o nascimento do Canamo.
A Linhaça se deve semear espessa, porque, sendo semeada ralla, viria a ser o Canamo muito grosso, a casca muito lenhosa, e a fibra muito dura, o que he hum grande defeito; com tudo quando a linhaça se semea muito espessa, ficaõ muitos pés pequenos, e abaffados pelos outros, o que he tambem hum inconveniente; he preciso pois observar hum meio, e ordinariamente os Linhaes naõ saõ rallos, senaõ quando perece huma parte da linhaça por causa das geadas, da seccura, ou quaesquer outros accidentes.
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