José Saramago - As Intermitências da Morte

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levado à morada do destinatário e que, ao chocar contra ele, a carta

fazia ricochete e voltava para trás. No primeiro caso, dado que o retorno

se havia verificado no dia seguinte ao do envio, ainda se podia

considerar a hipótese de que o carteiro, não tendo encontrado a pessoa

a quem a carta deveria ser entregue, em lugar de a meter na caixa do

correio ou debaixo da porta, a fizera regressar ao remetente esque-

cendo-se de mencionar o motivo da devolução. seriam demasiados

condicionais, mas poderia ser uma boa explicação para o sucedido.

Agora o caso mudara de figura. Entre ir e vir, a carta não havia

demorado mais que meia hora, provavelmente muito menos, dado que

já se encontrava em cima da mesa quando a morte levantou a cabeça do

duro amparo dos antebraços, isto é, do cúbito e do rádio, que para isso

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mesmo é que são entrelaçados. uma força alheia, misteriosa,

incompreensível, parecia opor-se à morte da pessoa, apesar de a data da

sua defunção estar fixada, como para toda a gente, desde o próprio dia

do nascimento. É impossível, disse a morte à gadanha silenciosa,

ninguém no mundo ou fora dele teve alguma vez mais poder do que eu.

eu sou a morte, o resto é nada. Levantou-se da cadeira e foi ao ficheiro,

donde voltou com o verbete suspeito. Não havia qualquer dúvida, o

nome conferia com o do sobrescrito, a morada também, a profissão era a

de violoncelista, o estado civil em branco, sinal de que não era casado,

nem viúvo, nem divorciado, porque nos ficheiros da morte nunca

consta o estado de solteiro, baste pensar-se no estúpido que seria nascer

uma criança, fazer-se-lhe a ficha e escrever, não a profissão, porque ela

ainda não saberá qual vai ser a sua vocação, mas que o estado civil do

recém-nascido é o de solteiro. Quanto à idade inscrita no verbete que a

morte tem na mão, vê-se que o violoncelista tem quarenta e nove anos.

ora, se ainda é necessária uma prova do funcionamento impecável dos

arquivos da morte, agora mesmo a vamos ter, quando, numa décima de

segundo, ou ainda menos, perante os nossos olhos incrédulos, o

número quarenta e nove for substituído por cinquenta. Hoje é o dia do

aniversário do violoncelista titular do verbete, flores lhe deveriam ter

sido enviadas em vez de um anúncio de falecimento daqui a oito dias.

A morte levantou-se novamente, deu umas quantas voltas à sala, por

duas vezes parou onde se encontrava a gadanha, abriu a boca como

para falar com ela, pedir-lhe uma opinião, dar-lhe uma ordem, ou

simplesmente dizer que se sentia confusa, desconcertada, o que,

recordemo-lo, não é nada de estranhar se pensarmos no tempo que já

leva neste ofício sem haver sofrido, até hoje, a menor falta de respeito

do rebanho humano de que é soberana pastora. Foi neste momento que

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a morte teve o funesto pressentimento de que o acidente poderia ter

sido ainda mais grave do que primeiramente lhe havia parecido.

sentou-se à mesa e começou a consultar de diante para trás as listas

mortuárias dos últimos oito dias. Logo na primeira relação de nomes, a

de ontem, e ao contrário do que esperava, viu que não constava o do

violoncelista. Continuou a folhear, uma, outra, outra, mais outra, mais

outra ainda, e só na oitava lista, enfim, o foi encontrar. Erradamente

havia pensado que o nome deveria estar na lista de ontem, e agora via-

se perante o escândalo inaudito de que alguém que já deveria estar

morto há dois dias continuava vivo. E isso não era o principal. o diabo

do violoncelista, que desde que tinha nascido estava assinalado para

morrer novo, com apenas quarenta e nove primaveras, acabara de

perfazer descaradamente os cinquenta, desacreditando assim o destino,

a fatalidade, a sorte, o horóscopo, o fado e todas as demais potências

que se dedicam a contrariar por todos os meios dignos e indignos a

nossa humaníssima vontade de viver. Era realmente um descrédito

total. E agora como vou eu rectificar um desvio que não podia ter

sucedido, se um caso assim não tem precedentes, se nada de semelhante

está previsto nos regulamentos, perguntava-se a morte, sobretudo

porque era com quarenta e nove anos que ele deveria ter morrido e não

com os cinquenta que já tem. Via-se que a pobre morte estava perplexa,

desconcertada, que pouco lhe faltava para começar a dar com a cabeça

nas paredes de pura aflição. Em tantos milhares de séculos de contínua

actividade nunca havia tido uma falha operacional, e agora, precisa-

mente quando tinha introduzido algo de novo na relação clássica dos

mortais com a sua autêntica e única causa mortis, eis que a sua

reputação, tão trabalhosamente conquistada, acabava de sofrer o mais

duro dos golpes. Que fazer, perguntou, imaginemos que o facto de ele

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não ter morrido quando devia o colocou fora da minha alçada, como

vou eu descalçar esta bota. olhou a gadanha, companheira de tantas

aventuras e massacres, mas ela fez-se desentendida, nunca respondia, e

agora, de todo ausente, como se se tivesse enjoado do mundo, descan-

sava a lâmina desgastada e ferrugenta contra a parede branca. Foi então

que a morte deu à luz a sua grande ideia, Costuma-se dizer que não há

uma sem duas, nem duas sem três, e que às três é de vez porque foi a

conta que deus fez, vejamos se realmente é como dizem. Fez o gesto de

despedida com a mão direita e a carta duas vezes devolvida tornou a

desaparecer. Nem dois minutos andou por fora. Ali estava, no mesmo

lugar que antes. o carteiro não a metera debaixo da porta, não tocara a

campainha, mas ela ali estava.

Evidentemente não há que ter pena da morte. Inúmeras e justificadas

têm sido as nossas queixas para que nos deixemos cair agora em

sentimentos de piedade que em nenhum momento do passado ela teve

a delicadeza de nos manifestar, não obstante saber melhor que ninguém

quanto nos contrariava a obstinação com que sempre, custasse o que

custasse, levou a sua avante. No entanto, ao menos por um breve

momento, o que temos diante dos olhos mais se assemelha à estátua da

desolação do que à figura sinistra que, segundo deixaram dito alguns

moribundos de vista penetrante, se apresenta aos pés das nossas camas

na hora derradeira para nos fazer um sinal semelhante ao que envia as

cartas, mas ao contrário, isto é, o sinal não diz vai para lá, diz vem para

cá. Por qualquer estranho fenómeno óptico, real ou virtual, a morte

parece agora muito mais pequena, como se a ossatura se lhe tivesse

encolhido, ou então foi sempre assim e são os nossos olhos, arregalados

de medo, que fazem dela uma giganta. Coitada da morte. Dá-nos

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vontade de lhe ir pôr uma mão no seu duro ombro, dizer-lhe ao ouvido,

ou melhor, ao sítio onde o tinha, por baixo do parietal, algumas

palavras de simpatia, Não se rale, senhora morte, são cousas que estão

sempre a suceder, nós aqui, os seres humanos, por exemplo, temos

grande experiência em desânimos, malogros e frustrações, e olhe que

nem por isso baixámos os braços, lembre-se dos tempos antigos quando

a senhora nos arrebatava sem dó nem piedade na flor da juventude,

pense neste tempo de agora em que, com idêntica dureza de coração,

continua a fazer o mesmo à gente mais carecida de tudo quanto é

necessário à vida, provavelmente temos andado a ver quem se cansava

primeiro, se a senhora ou nós, compreendo o seu desgosto, a primeira

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