Kyou meio que concordou. Tinha criado Toya desde o dia que ele nascera. Sabia quando seu irmão estava próximo no preciso instante em que Toya tinha aspirado pela primeira vez neste mundo e que ele o sequestrara de pais que não o teriam compreendido. Tinha acontecido o mesmo com seus outros irmãos, embora por algum tempo, Kyou tivesse optado por tomar conta deles à distância.
Tinha tido a esperança de moldar a personalidade de Toya diferente de alguma maneira, mas parecia que ela o tinha seguido nesta vida, malgrado todos os esforços que Kyou fizera para mudá-la. No final das contas, Toya ainda era Toya, não importa que vida tivesse. Pensou que o encontro com Kyoko seria capaz de provocar memórias do passado, mas o irmão não tinha dado sinais até então, apenas mostrado interesse. Os olhos de Kyou entrecerraram-se com o pensamento.
“Não sente nada por ela?”, perguntou num tom que fez Toya recuar.
“Era esperado que sentisse?” Toya contestou, ciente que realmente ele sentia algo por ela, mas não estava a fim de admiti-lo. Cruzando os braços defronte dele, aparentava estar aborrecido como sempre, desapercebido do prateado que bailava nos seus olhos dourados.
“Sim”, veio a fria resposta.
“Droga!” O que a faz tão especial para nós?” Toya levantou as mãos em desespero.
O olhar de Kyou desafiava o seu, “Ela é a tal que esperávamos”.
Toya arregalou os olhos. No passado, o mais distante que ele podia se lembrar, Kyou havia lhe contado que eles tinham que se preparar para alguém que carregava o Cristal do Coração Guardião dentro de si. Não é possível que ele estivesse se referindo a isto, como um cristal tão poderoso poderia estar dentro de uma garota tão frágil? Ele tinha esperado um guerreiro de algum tipo, nunca uma simples garota.
“Ela é a razão que o fez reunir todos?” Arqueou as sobrancelhas na pergunta.
Kyou tinha sempre evitado contar seu passado para Toya, mas ele tinha o prevenido sobre seu futuro. “Você deve protegê-la a todo o custo”.
A sala estava silenciosa enquanto a mente de Toya girava num torvelinho de pensamentos. Ultimamente, ele tinha começado a sentir o aumento de vibrações demoníacas na área, como se mais estivessem nascendo, e o lado do mal estivesse ficando mais forte.
“Então, ela era a esperada. O que mais eu preciso saber?”. Ele quase se sentiu aliviado ao saber que foi por isso que seu irmão demonstrou tal interesse por Kyoko, mas no momento ele não ia se aprofundar nesses sentimentos que beiravam o ciúme.
Kyou havia escondido a verdade por tanto tempo que não tinha certeza se queria compartilhar suas lembranças. O pensamento da proximidade entre Toya e Kyoko não ajudava nem um pouco. Talvez fosse melhor esquecer algumas coisas. Os dois tinham estado inseparáveis algumas vezes. “Você renasceu para protegê-la e viveu mais de mil anos esperado por ela. Por enquanto, isso é tudo que você precisa saber”.
Toya expirou o ar mansamente e depois riu de um jeito meio sinistro. “Isso é tudo o que eu preciso saber, é?”. Ele passou os dedos pelo seu longo cabelo sentindo uma necessidade esmagadora de desabafar o que lhe parecia uma raiva oculta, ainda que não estivesse consciente disso. “É por isso que você olhou para ela de modo ardente? Você diz que estávamos perto. Você está mesmo com ciúme de alguma coisa que parece ter acontecido há muito tempo com uma garota que provavelmente não lhe daria atenção? Toya encarou-o, agora com olhos de prata derretida.
Kyou quase rosnou com o palpite de Toya. Às vezes, a percepção do rapaz era inquietante.
“Não cruze o limite de minha paciência Toya. Com ou sem cristal, não vou tolerar suas acusações ou delírios de grandeza no que se refere à sacerdotisa. Você foi designado para protegê-la e eu não importo se você está gostando. Vou controlar seu temperamento e você não vai tentar conquistar essa pessoa. Está claro?” Com um olhar mortífero ele mirava agora seu irmão mais novo.
Pingentes poderiam estar pendurados nas palavras de Kyou, e Toya soube que a conversa estava terminada, pelo menos por enquanto. Ele se levantou e deixou a sala sem olhar para trás. Uma vez fora do apartamento do seu irmão, ele parou e ficou olhando a porta de Kyoko. Podia senti-la dentro dos limites dos quartos defronte dele.
Ele ergueu a mão para bater, querendo estar com ela embora sabendo que não tinha nenhuma razão para isso. Ele enfiou as mãos nos bolsos com força e continuou a andar pelo corredor.
Se alguém mais estivesse no corredor, teria visto um contorno brilhante de asas prateadas aparecerem nas costas de Toya, antes que desaparecessem despercebidas pelo guardião, agora de olhos prateados.
Capítulo 5 ─ Um aviso gutural
Kyoko apanhou um elástico de cabelo da penteadeira e puxou um pouco de seu cabelo castanho-avermelhado de volta para um rabo de cavalo, deixando nas costas uma curta camada saltitante e uma longa camada livre pelas costas. Inclinou-se para aplicar um ligeiro toque de blush e levantando-se, caminhou até o espelho de corpo inteiro para se admirar. Suki a tinha convencido usar algumas de suas roupas e Kyoko estava se sentindo diferente.
A minissaia preta inflou-se quando ela virou o corpo, e as pernas bem torneadas graças à malhação apareceram. A camisa rosa apertada tinha renda preta até a parte de trás, e na frente uma forma de renda preta em 'V' que ia quase até aos seios Ela balançou a cabeça ao se mirar no espelho.
Pensou se Suki não estaria correndo atrás de Shinbe tanto quanto ele a perseguia. Pegando seus brincos de cruz, ela se perguntou por que tinha concordado em parecer uma criança selvagem. Parou surpresa suas reflexões quando alguém bateu na porta timidamente.
Abrindo a porta enquanto ainda prendia seu brinco, Kyoko sorriu, sentindo-se melhor vendo que Suki vestia-se com mais ousadia do que ela. “Oh Suki, você vai deixá-los alucinados hoje a noite!”, disse enquanto olhava a amiga dos pés à cabeça.
Suki estava usando calças de couro apertadas e um top transparente azul com mangas longas e esvoaçantes que realçava seu corpo. Kyoko balançou a cabeça em aprovação, pensando quantas vezes Shinbe seria esbofeteado logo mais à noite.
“Você está só pedindo que Shinbe entre em ação, certo?” Ela arqueou uma sobrancelha para a amiga com o riso brilhando em seus olhos esmeraldas.
Suki olhava Kyoko aprovando satisfeita. “Sim, acho que hoje será a última noite divertida que teremos por algum tempo”. Shinbe pensa que a partir de segunda-feira vamos começar um treinamento mais difícil que nunca”. Seus olhos se iluminaram, "Mas para hoje a noite, vamos nos soltar por ai! Você vai amar esse lugar aonde estamos indo. É imenso e a banda essa noite vai tocar rock”.
Suki olhou em volta inspecionando os cômodos de Kyoko e arregalou os olhos. “Puxa! Nunca estive aqui antes”, falou olhando para Kyoko de novo. “Nunca ninguém foi admitido aqui, exceto Toya. Você se deu conta que apenas ele, você e Kyou estão aqui neste andar?” Ela estava com tanto receio de subir até a aquele piso que havia pedido permissão a Toya antes de vir ao quarto de Kyoto.
Kyoko sabia que Kyou tinha desejado tê-la onde ele e Toya pudessem vigiá-la melhor. Lembrando-se de tudo que ele dissera, sabia que ele estava certo sobre sua amizade com Suki no passado, pois, por alguma razão, sentia que a conhecia há muito tempo.
Subitamente, sentiu um nó na garganta, “Talvez os outros quartos também esteja, ocupados, eu não sei”. E disse já na porta, ”Mas sei que quero me divertir esta noite porque você está certa, provavelmente vai ser a última diversão por algum tempo”.
Sua mão parou na maçaneta e ela franziu o sobrolho, ´ alguém esteve aqui ´. Ela sentiu um calafrio percorrendo sua espinha ao se conscientizar disso.
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