“Não precisas de saber tudo, apenas precisas de ter o número de telefone de quem sabe.” – dissera-lhe o pai um dia.
Quem o poderia ajudar, a quem podería ligar?
O Economato
Foi pesquisar sobre Compras e Economato e passou a tarde nisso. Chegou à conclusão de que a informação específica sobre a área Logística no ramo hoteleiro não era muita. Quanto mais lia mais confuso se sentia, era complicado organizar toda a informação mentalmente sem nunca ter estado a trabalhar num armazém.
Decidiu ligar a três colegas da Universidade: António Esteves, Venâncio e João Pimenta.
António era um dos seus colegas dos trabalhos de grupo. Actualmente, trabalhava na recepção de um Hostel onde fazia tudo desde receber os clientes a preparar pequenos-almoços e receber os fornecedores. Não sabia muito sobre o assunto, recebia os produtos conferindo com a factura do fornecedor para ter a certeza que a quantidade entregue era idêntica à indicada na factura. Por vezes os artigos entregues, vinha mais tarde a saber, não eram os que tinham sido pedidos. O dono do Hostel, o seu “chefe”, era quem tratava dessa parte e como só aparecia perto da hora de almoço no local depois reclamava que os fornecedores estavam sempre a trocar tudo.
– Não há-de ser difícil. Se souberes o que pediste é fácil controlar o que os fornecedores entregam. Vais ser capaz, sempre foste o melhor da turma – finalizou António.
João Pimenta, Jota como era tratado no meio Universitário, era outro colega com quem Luís normalmente fazia os trabalhos de grupo. Sem o ter previsto, tinha estagiado 2 meses no Economato de um Hotel de 5 estrelas:
– Uma vez, pedimos assistência para a Câmara Frigorífica do Economato. Passadas duas semanas, e depois de vários telefonemas, lá chegou o técnico. Perguntei-lhe o porquê da demora ao que ele respondeu: “Eu não dava com o Hotel, perguntei à empresa para onde era a assistência e responderam-me ‘No Economato’, mas coloquei no GPS e não me aparecia nenhum Hotel chamado ‘Economato’ aqui na zona.”
Parecia anedota esta história, no entanto, era verídica. Luís incrédulo com o que acabara de ouvir pensava aliviado: “Bem, não sou só eu que desconheço o termo Economato“.
O Jota tinha sido chamado ao Economato porque o Fiel de Armazém, ou Despenseiro, tinha partido a perna numa partida de futebol entre secções e no seu infortúnio resolveram desviar um estagiário do restaurante para suprir a sua ausência. João fazia um trabalho físico; arrumava tudo o que chegava nas respectivas prateleiras e separava as requisições. Contou que tudo o que se encomendava era feito no computador e pela manhã imprimiam as listas de Requisição, para haver um documento escrito que servisse de prova e com o qual se poderia separar e conferir as mercadorias a entregar.
O Ecónomo, o Sr. António Barroso, conhecido por ‘Sr. Toni’, era rígido e todos os dias havia devoluções: Não tolerava latas amolgadas, embalagens abertas, era super desconfiado e pensava que todos os fornecedores o queriam iludir para tirarem vantagem do Hotel. Com os próprios colegas a sua atitude não era mais aberta, não era muito sociável e era parco a ‘desenrascar’ as outras secções. Todas as saídas de material do armazém tinham dias e horas programadas e, muitas vezes, o director era chamado a intervir para o Sr. Toni libertar material urgente para o serviço ao cliente: “Sem Requisição, não” – repetia constantemente. Quando era desautorizado acabava por entregar os bens, mas ficava resmungão porque, segundo ele, aquela permissividade do Director só desresponsabilizava os prevaricadores.
Jota sentindo o nervosismo do seu amigo confortou-o:
– Tem calma Luís, não é nenhum monstro, é tudo uma questão de rotina, só custa no início.
Venâncio, esse, apesar de ter terminado o curso antes de Luís, continuava a enviar currículos enquanto ajudava os seus pais no restaurante da família. Não tinha respostas e sentia-se preso no negócio da família gerido à maneira antiga: vinha o tio e tirava dois bifes para levar para casa para o jantar; o pai chegava ao final do dia e contava o dinheiro na caixa e depois conforme o volume de facturação assim era o seu humor no dia seguinte. Venâncio não gostava da forma como tudo era gerido, mas apesar de licenciado em Hotelaria, ninguém o levava a sério e nunca aceitavam as suas sugestões. O que tinha a certeza é que a mãe era uma excelente cozinheira e a comida era realmente apelativa. Isto reflectia-se em casa cheia ao fim de semana, pois o local era afamado pela qualidade e pelas doses generosas.
Uma refeição ali era realmente barata para o bem que se comia e Venâncio pensava se ganhavam realmente dinheiro. Fichas técnicas era algo que não entrava no léxico daquele espaço, assim como Food Cost era algo que para a mãe de Venâncio soava a nome de um filme estrangeiro. Eram tudo conceitos teóricos que Venâncio bem aprendera no curso, as suas disciplinas favoritas eram todas as relacionadas com gestão de custos de F&B (Food & Beverage – Comidas e Bebidas) e ansiava por colocar esse conhecimento em prática. Quanto a Economato, no restaurante dos pais tudo era rudimentar ao que o Luís percebeu que funcionavam de forma semelhante ao Hostel onde trabalhava o António.
Depois destes telefonemas Luís ficou mais esclarecido quanto ao que era o Economato. Sozinho no seu quarto tentava visualizar o que o esperava.
A Entrevista
Luís Alberto escolheu o seu melhor fato e preparou-se para a entrevista:
“Onde se vê daqui a 10 anos?”
“Quem é o seu ídolo?”
“O que conhece sobre o hotel?”
“O que sabe sobre o Economato?”
“O que pode oferecer ao Hotel?”
No dia anterior falou com as irmãs e pediu alguns conselhos. Com persistência, ambas tinham arranjado emprego nas suas áreas de formação; Rita designer gráfica e Sílvia na área contabilística. Elas sempre lhe haviam dito para não desistir e não ir trabalhar para fora da sua área de formação de forma a não dispersar e dificultar as suas possibilidades de fazer carreira.
Deitou-se cedo e colocou o despertador para as 7h para chegar a tempo. Não sabia onde era o hotel e queria precaver todos os imprevistos:
“Não há segundas oportunidades para primeiras impressões” – pensou.
No dia seguinte, chegou antes da hora marcada e não anunciou de imediato a sua presença preferindo ir dar uma volta para conhecer um pouco melhor a envolvente do hotel. Contornou o edifício algo antigo e reparou num camião parado nas traseiras; várias mercadorias estavam colocadas no chão junto a uma portinhola preta, não muito larga, e a seu lado o motorista olhava para o relógio de pulso com ar impaciente enquanto abanava a cabeça.
– Bom dia – disse Luís.
– Bom dia... – hesitou o motorista. – Era um bom dia se não tivesse de estar aqui à espera mas, neste cliente, desde que foi embora o rapaz que estava no armazém, tem sido sempre assim. Nunca há ninguém para nos atender e o tempo a passar, e eu com o camião carregado e tanto trabalho – resmungou.
– Pois, acredito que é complicado. Um bom serviço – despediu-se Luís.
“Bem, deve ser isto que me espera” – pensou Luís.
Cinco minutos antes da hora marcada apresentou-se na Recepção e identificou-se. Pediram-lhe que aguardasse nos sofás do hall de entrada, um espaço de decoração simples, mas de cores claras e aspecto agradável. Tinha o bar ao fundo e algumas plantas em elegantes vasos junto à porta e à janela que dava para a Avenida. Observava o movimento de clientes a descer por uma escada ou pelo elevador ao lado da Recepção e a entrar por uma porta que lhe pareceu ser do restaurante:
“Belo Repasto” – lia-se.
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