— Nestes últimos tempos tenho andado a pensar em fazer um filme. É assim, a ideia nem é nova e eu até já tenho uns guiões pequenos. Também tive de escrever, mas sei lá, é diferente. Até os cheguei a mostrar a um perito que mora na vila ao lado. Ele já fez filmes e ainda trabalha nesses meios. Bem, fez documentários, que normalmente não são muito interessantes, mas pronto, são filmes à mesma, acho eu.
— Diz que são.
— Mas o tal gajo disse que o meu trabalho não era grande coisa, portanto eu pus de lado a hipótese. Mas ultimamente ando a pensar muito. Ando a magicar ideias. E vamos lá ser sinceros, o que é que os grandes fazedores de filmes e produtores gostam mesmo?
Óscar coçou o nariz.
— Snifar coca?
— Remakes! — Exclamou Ivo. — Eles querem é remakes. E é por isso que eu estou a pensar numa nova versão do Titanic. Titanic 2097. Uma ópera espacial. A história seria parecida. O tipo pobre, a tipa rica. Mas seria no espaço e o Titanic era uma nave espacial e não um barco. Alerta spoiler: no fim, a nave acertava num cometa ou qualquer coisa e, tipo, a cena que protegia os passageiros é destruída e depois não ia haver oxigénio e era tudo dramático para caralho. E lá para o meio estou a planear mencionar nanotecnologia, mas não sei bem onde.
— O que é nanotecnologia? — Perguntou Óscar.
— Não sei, mas os filmes dos super-heróis estão cheios disso e o povo adora! — Óscar fez novo encolher de ombros e bebeu um gole de cerveja.
— Talvez.
— Mas e agora tu, Óscar. Os teus sonhos. Ainda estás a pensar?
— Ainda.
— É difícil — disse Ivo. — Saber-se o que se quer fazer. E às vezes sabe-se, mas as pessoas à nossa volta não nos respeitam por isso. Tipo os meus pais. Acham que eu estou só a perder tempo. Dizem que ando só na brincadeira com o meu rap e os meus guiões. Dizem que eu devia ter ido para a faculdade, estudar, arranjar um emprego bom. A minha mãe então está sempre a dizer que devia ir estudar medicina. Eu, saído de letras. Enfim.
— Os meus pais são parecidos — disse Óscar. — Mas para mim faculdade nunca foi uma opção.
— Digo o mesmo, não é para mim. É verdade, e os teus pais? Continuam lá para a terrinha da tua mãe?
Óscar disse que sim.
— Eles já estão reformados, por isso agora estão só a tomar conta dos meus avós.
— Já sei, já sei — respondeu Ivo. Depois, olhou para o céu azul, praticamente limpo de nuvens e tirou o gorro da cabeça. — Não está lá muito frio hoje. E ainda vai ficar mais quente, segundo vi na televisão. Foda- se… Nem sequer é verão, puta do aquecimento global. — Beberricou a cerveja. — Olha para mim. Um cidadão preocupado com o mundo. Se a nossa stôra de formação cívica me estivesse a ver agora até aplaudia.
— Ela era um bocadinho má.
— Mas era boa, que é o que interessa. Óscar continuou a beber a sua cerveja.
— Se tu o dizes.
Ivo esvaziou a sua garrafa e depois, ao terminá-la, deu um leve safanão no braço de Óscar.
— Então, mas e o que estavas a dizer?
— O quê?
— Estávamos a falar da Caetana. Perguntaste-me se eu me lembrava dela. Isso veio a que propósito?
— Não foi por nada de especial. Vi-a hoje depois de ir comprar os headphones.
— Continua magra?
— Já não me lembro muito bem, foi uma coisa de segundos, mas acho que sim.
— E que mais? Mamas, cresceram? O que é que mudou?
— Sei lá. Está um pouco mais velha do que era quando estava na escola, como nós.
— Foda-se, ficar mais velho é fodido — disse Ivo.
— Pois é — disse Óscar. — A ver se não fico.
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