Alessandra Grosso
Escada e Cristal
ESCADA E CRISTAL
Alessandra Grosso
Título original: Scala e Cristallo
Tradução de: Adérito Francisco Huo
Este livro é uma obra de ficção. Todos os nomes das pessoas, personagens, lugares e organizações mencionados nesta obra são puramente fictícios. Qualquer semelhança com factos reais ou pessoas vivas ou falecidas, é mera coincidência.
Escada e Cristal
Copyright © 2020 Tektime
1ª edição: Março de 2019
Edição em português: Agosto de 2020
Tradutor: Adérito Francisco Huo
Publicação: Tektime – www.traduzionelibri.it
Todos os direitos reservados. É proibida a publicação e a reprodução desta obra por qualquer meio seja manual ou electronico sem o consentimento escrito da editora, excepto breves passagens extraidas de propósito para a revisão.
Bem-vindos. Esta é uma simples colecção de pesadelos, não tem grandes pretensões se não vos deixar entrar nas partes íntimas da minha mente. Creio que todos nós tivemos alguns pesadelos, seja de olhos abertos como de olhos fechados; pois bem, eu sou uma super especialista de pesadelos a olhos fechados.
Os pesadelos a olhos fechados são a minha maldição pessoal: os tenho desde sempre, desde criança e nunca percebi o motivo. A minha infância esteve sempre ligada ao medo que alguma coisa catastrófica estivesse para acontecer, a mim ou a pessoas que amava. Tinha muitas vezes sensações tipo aquele ar frio que te provoca um calafrio atrás do pescoço, aquela mão viscosa e gélida que te toca no ombro e te deixa estremecer, assombrado; muitas vezes via tudo negro e em seguida devia ir dormir. Mal entrava no quartinho ficava com medo daquilo que seria fechando os olhos.
Durante a adolescência as coisas não melhoraram: sonhava e despertava trémula e suada. Depois duma noite assim devia como todos enfrentar a vida, mas estava cheia de dúvidas sobre o futuro, todas as vezes que tinha uma escolha por fazer os pesadelos pioravam. A minha vida tornava-se um inferno, fechava-me em mim e questionava-me sempre em que ponto estivesse, onde estivesse e onde quisesse ir.
Com o tempo aprendi a escrever os meus sonhos para procurar percebê-los, enquanto numa outra folha escrevo os meus desejos para ver se realizavam-se. Esta última ideia ajudou-me mais de uma ocasião a trazer a luz, mas agora voltemos aos pesadelos. Pensei que contar-vos todos os meus pesadelos romanceando-os e ligando-os um atrás do outro para presentear-vos com a colecção de todos os arrepios que congelam e que experimentei.
Desculpem pelo gélido presente, mas a minha mente é um lugar frio e desorganizado. É a mente de uma mulher, de uma combatente que enfrentou o mal a peito descoberto e que decidiu falar. As minhas palavras podem de vez em quando ferir as almas mais susceptíveis, mas não sou nem me sinto de forma alguma melhor que ninguém de vocês. Vocês vêem o mundo através dos vossos filtros e a vossa sensibilidade; eu pelo contrário uso a minha. Procuro usar o terceiro olho para criar uma visão dum futuro mais fértil e profícuo, depois de todas as aventuras que passei na vida. Procuro ver um futuro repleto de sonhos, de estudos e de viagens… lembro-vos que os sonhos são desejos; agora voltemos aos pesadelos. Pois que os pesadelos a olhos fechados são a minha especialidade desde sempre, os motivos deste fenómeno são múltiplos… e talvez o mais importante é isto: tenho paciência mas também sou uma pessoa emotiva e sensível; no decurso da vida tive tantos estilhaços nos pés e os meus períodos obscuros.
Contudo, procurei sempre a luz para ilustrar esta parte da minha vida, e agora hei-de vos pôr a par da minha poesia preferida: A escada de cristal.
Filhote, vou dizer-te uma coisa:
A vida para mim não foi uma longa escada de cristal.
Tive pregos,
E estilhaços,
E pranchas desconexas,
E troços sem tapete:
Nus.
Mas sempre
Continuava a subir,
Alcançando um patamar,
Virava numa esquina,
E algumas vezes entrava no escuro
Onde não havia luz.
Por isso, filho, não voltas para trás.
Não te detenhas nos degraus
Porque é cansativo para ti andar.
Não caias, agora:
Porque eu ainda continuo, amor,
Ainda trepo,
A vida para mim não foi uma escada de cristal.
A missão da nossa heroína é de preservar a sua vida e de encontrar o seu equilíbrio a sua liberdade e independência depois de ter enfrentado todos os seus monstros, que são tantos.
Tantos são os obstáculos internos e externos que tive que enfrentar, que se materializaram e se desmaterializaram nos meus pesadelos, mas sempre procurei a luz, como podem ver na poesia A escada de cristal.
A escada de cristal representa o período de confusão que estou a atravessando e a vontade de realizar-me.
No livro será notável antes uma heroína muito tímida que foge continuamente perante aos próprios monstros; depois começa a combater, se bem que, às vezes, quando a situação é mais perigosa, fuja. No fim dum complicado processo interior, será notável uma prevalência de luta relativamente à fuga.
Nestas passagens falo de uma evolução pessoal de fuga ao ataque, mas tudo isto acontece para preservar-me ou para salvaguardar aquilo que julgo justo.
No livro serei ajudada por alguns e obstruída por outros, mas agora vos deixo ler.
Boa leitura.
Sonhadores…
«Só quem sonha pode afastar as montanhas…» citação do filme Fitzcarraldo
«Aponte sempre a lua, mal que vá, terás deambulado entre as estrelas» (Les Brown)
«A vida é uma longa lição de humildade» (James Matthew Barrie)
Estava a correr nas escadas para buscar a chave que nos teria finalmente libertado. Sabia instintivamente que eram cinquenta e cinco degraus para subir e outros cinquenta e cinco para descer. Atrás de mim fechavam-se as portas, os portões e grades antiquíssimos; tudo era escuro e desespero.
Medo e ansiedade os sentimentos, respiração curta e ofegante, paredes que desde o amarelo até ao branco creme transformam-se cada vez mais matizados… estava entrando no inferno mas não podia abrandar. Na minha corrida a chave de saída daquele lugar era tudo: era a salvação!
Chegado ao último degrau saltei lá para a sala onde estava a chave. Ela era o símbolo de libertação, era o nosso Livramento das trevas… mas sabia que o monstro com as garras o teria defendido: não teria sido simples.
Enfrentar o monstro requeria força. Tinha sido um homem na vida precedente, um homem forte, pedófilo e de poder.
Podia apenas saltar para direita e atacar com a única cadeira de madeira que tinha encontrado, uma cadeira contra um monstro que tinha sido um mito em vida… uma vida feita de excessos, bebidas até a madrugada, cocaína, mulheres, milhões de mulheres, pedofilia, até que não foi tremendamente queimado vivo.
Tinha sido sempre sensível em vida e tinha percebido, notado às fraquezas do monstro, e de repente ataque: com uma finta de lado lhe despedacei a cadeira na cabeça. A cadeira partiu-se e na mão fiquei com dois cotos. Agitada, espetei-os com raiva no tórax e no pescoço do monstro.
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