Passaram-se vários minutos até Monstro calar seus soluços. Sentou então, esfregando os olhos com os nós dos dedos, como uma criancinha.
— Monstro, vou lhe pedir para fazer uma coisa — disse-lhe Harry. E olhou para Hermione pedindo ajuda: queria dar uma ordem gentilmente, mas ao mesmo tempo não poderia fingir que não era uma ordem. Contudo, a mudança no seu tom de voz parecia ter recebido a aprovação da amiga: ela sorriu encorajando-o.
“Monstro, eu quero que você, por favor, encontre Mundungo Fletcher. Precisamos descobrir onde o medalhão, o medalhão do seu senhor Régulo, está. É realmente importante. Queremos terminar a tarefa que o seu senhor Régulo começou, queremos... ãh... garantir que ele não tenha morrido em vão.”
Monstro baixou os punhos e ergueu os olhos para Harry Potter.
— Encontrar Mundungo Fletcher? — repetiu rouco.
— E trazê-lo aqui, ao largo Grimmauld — acrescentou Harry. -Você acha que poderia fazer isso para nós?
Ao ver Monstro assentir e ficar em pé, o garoto teve uma súbita inspiração. Apanhou a bolsa que Hagrid lhe dera e tirou a falsa Horcrux, o medalhão substituto em que Régulo colocara o bilhete para Voldemort.
— Monstro, eu... ãh... gostaria que você ficasse com isso — disse, colocando o medalhão nas mãos do elfo. — Isto pertenceu a Régulo, e tenho certeza que ele gostaria de lhe dar como prova de gratidão pelo que você...
— Destruiu, colega — disse Rony, quando o elfo, dando uma olhada no medalhão, deixou escapar um uivo de choque e desespero e tornou a se atirar ao chão.
Levaram quase meia hora para acalmar Monstro, que ficou tão comovido em receber de presente uma herança da família Black que sentiu os joelhos fracos demais para se manter em pé. Quando finalmente pôde dar alguns passos, os garotos o acompanharam ao seu armário, viram-no guardar o medalhão nas cobertas sujas, e tranqüilizaram o elfo de que a proteção do objeto seria sua maior prioridade enquanto ele estivesse ausente. Então Monstro fez duas reverências profundas para Rony e Harry, e até uma leve contração gaiata em direção a Hermione que talvez fosse uma tentativa de saudá-la respeitosamente, antes de desaparatar com o costumeiro estalo.
Se monstro podia escapar de um lago cheio de Inferi, Harry confiava que a captura de Mundungo levaria no máximo algumas horas, e ele andou pela casa a manhã inteira em estado de grande expectativa. Contudo, Monstro não voltou aquela manhã nem à tarde. Quando anoiteceu, Harry se sentiu desanimado e ansioso, e o jantar composto principalmente de pão bolorento, no qual Hermione tentara uma variedade de malsucedidas transfigurações, não ajudou em nada.
Monstro não retornou no dia seguinte, nem no próximo. Apareceram, no entanto, dois homens de capa no largo em frente ao número doze, e ali permaneceram noite adentro, olhando em direção à casa que não podiam ver.
— Na certa, Comensais da Morte — disse Rony, enquanto ele, Harry e Hermione observavam das janelas da sala de visitas. -Acham que eles sabem que estamos aqui?
— Acho que não — respondeu Hermione, embora parecesse amedrontada —, ou teriam mandado Snape atrás de nós, não?
— Vocês acham que ele esteve aqui e o feitiço de Moody prendeu a língua dele? — sugeriu Rony.
— Acho — respondeu Hermione —, do contrário, teria podido contar àquele bando como entrar, não? Mas eles provavelmente estão vigiando para ver se aparecemos. Sabem que a casa é do Harry.
— Como puderam...? — começou Harry.
— Os testamentos bruxos são examinados pelo Ministério, lembram? Saberão que Sirius deixou a casa para você.
A presença de Comensais da Morte ali fora intensificou a atmosfera agourenta no número doze. Os garotos não tinham ouvido nada de pessoa alguma fora do largo Grimmauld desde o Patrono do sr. Weasley, e a tensão estava começando a se manifestar. Inquieto e irritável, Rony tinha desenvolvido o incômodo hábito de brincar com o desiluminador dentro do bolso: isto enfurecia particularmente Hermione, que passava o tempo em que aguardavam Monstro estudando Os contos de Beedle, o bardo e não estava gostando que as luzes piscassem.
— Quer parar com isso! — exclamou, na terceira noite da ausência de Monstro, quando a luz da sala de visita foi apagada mais uma vez.
— Desculpe, desculpe! — disse Rony, acionando o desiluminador e acendendo as luzes. — Não estou fazendo isso conscientemente!
— Bem, não pode procurar alguma coisa útil para se ocupar?
— O quê, ler histórias escritas para criancinhas?
— Dumbledore me deixou o livro, Rony...
— ... e me deixou o desiluminador, quem sabe esperava que eu o usasse!
Incapaz de suportar essas briguinhas, Harry saiu da sala sem os dois perceberem. Desceu à cozinha, que ele não parava de visitar, porque tinha certeza de que era ali que Monstro provavelmente reapareceria. No meio da escada para a entrada, no entanto, ele ouviu uma batida na porta da frente, e em seguida cliques metálicos e a corrente.
Sentiu cada nervo do seu corpo se retesar: sacou a varinha e se ocultou nas sombras ao lado das cabeças dos elfos decapitados, onde ficou aguardando. A porta abriu: ele entreviu o largo iluminado e um vulto de capa entrou sorrateiro na casa e fechou a porta. O intruso deu um passo à frente e a voz de Moody perguntou:
— Severo Snape ?
Então, o vulto de pó se ergueu no final do corredor e avançou para ele, a mão cadavérica erguida.
— Não fui eu que o matei, Alvo — respondeu a voz baixa.
O feitiço se desfez, o vulto de pó explodiu e foi impossível ver o recém-chegado através da densa nuvem cinzenta que o espectro deixou ao desaparecer.
Harry apontou a varinha para o meio da nuvem.
— Não se mexa!
Ele esquecera, porém, o retrato da sra. Black: ao som de sua ordem, as cortinas que a ocultavam se abriram repentinamente e a bruxa começou a gritar:
— Sangues-ruins e escória desonrando minha casa ...
Rony e Hermione desceram atrás de Harry reboando pela escada, as varinhas apontadas para o estranho no corredor, as mãos para o alto.
— Guardem as varinhas, sou eu, Remo!
— Ah, graças aos céus — exclamou Hermione em voz baixa, dirigindo a varinha para a sra. Black; com um estampido, as cortinas tornaram a fechar e fez-se silêncio. Rony também baixou a varinha, mas Harry não.
— Apareça! — falou.
Lupin deu um passo para a luz, as mãos ainda no alto em um gesto de rendição.
— Sou Remo João Lupin, lobisomem, também conhecido como Aluado, um dos quatro criadores do mapa do maroto, casado com Ninfadora, mais conhecida como Tonks, e o ensinei a produzir um Patrono, Harry, que assume a forma de um veado.
— Ah, tudo bem — disse Harry, baixando a varinha —, mas eu tinha que verificar, não?
— Na qualidade de seu antigo professor de Defesa contra as Artes das Trevas, concordo plenamente que precisasse verificar. Rony, Hermione, vocês não deviam ter baixado a guarda tão rapidamente.
Os garotos desceram o resto da escada e correram para o recém-chegado. Protegido por uma grossa capa de viagem preta, ele parecia exausto, mas satisfeito em revê-los.
— Então, nem sinal de Severo? — perguntou.
— Não — respondeu Harry. — Que está acontecendo? Estão todos bem?
— Estão — confirmou Lupin —, mas vigiados. Há uns dois Comensais da Morte no largo aí em frente...
— ... sabemos...
— ... precisei aparatar exatamente no último degrau à frente da porta para garantir que não me vissem. Não sabem que vocês estão aqui, ou tenho certeza que postariam mais gente lá fora; estão tocaiando todos os lugares que têm alguma ligação com você, Harry. Vamos descer, tenho muito que lhes contar e quero saber o que aconteceu depois que saíram d’A Toca.
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