— Boa menina! — berrou um vulto que corria pela poeira ao encontro delas, e Harry viu passar Aberforth, seus cabelos grisalhos esvoaçando, liderando um pequeno grupo de estudantes. — Parece que eles estão rompendo as ameias do norte do castelo, trouxeram gigantes aliados!
— Você viu Remo? — gritou Tonks para ele.
— Estava duelando com Dolohov — gritou Aberforth —, depois não o vi mais!
— Tonks — disse Gina —, Tonks, tenho certeza de que ele está o.k... Tonks, porém, saíra correndo pela poeira no rastro de Aberforth. Gina se virou, desamparada, para Harry, Rony e Hermione.
— Eles vão ficar bem — disse Harry, embora soubesse que eram palavras vazias. — Gina, voltamos em um instante, fique fora do caminho, não se arrisque... vamos! — ele chamou Rony e Hermione, e os três correram para o trecho de parede atrás do qual a Sala Precisa aguardava para satisfazer o desejo do seu próximo ocupante.
Preciso do lugar onde se esconde tudo , pediu Harry mentalmente e, em sua terceira passagem, a porta se materializou.
O furor da batalha morreu no instante em que cruzaram o portal e fecharam a porta às suas costas: tudo era silêncio. Estavam em um lugar do tamanho de uma catedral, com o aspecto de uma cidade, suas altas paredes formadas por objetos escondidos por milhares de estudantes que há muito haviam partido.
— E ele nunca imaginou que qualquer um poderia entrar? — perguntou Rony, sua voz ecoando no silêncio.
— Ele pensou que fosse o único — disse Harry. — Azar o dele que precisei esconder uma coisa no meu tempo de Hogwarts... por aqui — acrescentou —, acho que é ali embaixo.
Ele passou pelo trasgo estufado e o Armário Sumidouro que Draco Malfoy consertara no ano anterior com desastrosas conseqüências, depois hesitou, olhando para cima e para baixo das alas de quinquilharias; não se lembrava para que lado deveria virar...
— Accio diadema! — exclamou Hermione em desespero, mas nada voou pelo ar ao seu encontro. Parecia que, a exemplo do cofre em Gringotes, a sala não entregava os objetos com essa facilidade.
— Vamos nos separar — sugeriu Harry aos amigos. — Procurem o busto de pedra de um velho usando uma peruca e uma tiara! Está em um armário e, sem a menor dúvida, aqui por perto...
Eles saíram depressa pelas alas adjacentes; Harry ouviu os passos dos amigos ecoarem nas enormes pilhas de quinquilharias, garrafas, chapéus, caixotes, cadeiras, livros, armas, vassouras, morcegos...
— Em algum lugar por aqui — murmurou Harry com os seus botões. — Em algum lugar... algum lugar...
Ele foi se embrenhando no labirinto, procurando objetos que pudesse reconhecer de sua visita anterior à sala. Sua respiração soava alta aos seus ouvidos e, então, a sua própria alma pareceu se arrepiar: ali estava, bem à frente, o velho armário com a superfície coberta de bolhas no qual escondera o velho livro de Poções, e em cima, o bruxo de pedra bexiguenta usando uma velha peruca empoeirada e algo parecido com uma antiga tiara descolorida.
Ele já estendera a mão, embora a três metros de distância, quando ouviu uma voz às suas costas:
— Pare, Potter.
Ele parou derrapando e se virou. Crabbe e Goyle estavam postados ali, ombro a ombro, as varinhas apontadas para ele. Pelo estreito vão entre seus rostos zombeteiros, ele viu Draco Malfoy.
— É a minha varinha que você está segurando, Potter — disse Malfoy, apontando a que segurava pelo espaço entre Crabbe e Goyle.
— Não é mais — ofegou Harry, apertando com força a varinha de pilriteiro. — Ganhou, guardou, Malfoy. Quem lhe emprestou essa?
— Minha mãe — respondeu Draco.
Harry riu, embora não houvesse a menor graça na situação. Não estava mais ouvindo Rony e Hermione. Pareciam ter saído do seu campo de audição, procurando o diadema.
— Então por que não estão com Voldemort? — perguntou Harry.
— Vamos receber uma recompensa — respondeu Crabbe: sua voz era surpreendentemente suave para uma pessoa com tal corpanzil; Harry quase nunca o ouvira falar. Crabbe sorria como um garotinho a quem tivessem prometido um grande saco de balas. — Ficamos na escola, Potter. Decidimos não sair. Decidimos levar você para ele.
— Ótimo plano — exclamou Harry, fingindo admiração. Não conseguia acreditar que, estando tão perto, fosse atrapalhado por Malfoy, Crabbe e Goyle. Ele começou a se deslocar lentamente, de costas para o lugar em que a Horcrux jazia enviesada na cabeça do busto. Se ao menos conseguisse pegá-la antes de começarem a lutar... -Como foi que entraram aqui? — perguntou, tentando distraí-los.
— Vivi praticamente nesta sala de objetos escondidos o ano passado — explicou Malfoy, a voz quebrando. — Sei como entrar.
— Estávamos escondidos lá fora, no corredor — resmungou Goyle. — Já sabemos lançar Feitiços da Desilusão! Então — seu rosto se abriu em um sorriso abobado —, você apareceu bem na nossa frente e disse que estava procurando um dia-D! Que é um dia-D?
— Harry? — A voz de Rony ecoou repentinamente atrás da parede à direita de Harry. — Você está falando com alguém?
Com um movimento de chicote, Crabbe apontou a varinha para a montanha de quase vinte metros de móveis velhos, malões desmantelados, vestes e livros e lixaria indiscriminada, e gritou:
— Descendo!
A parede começou a balançar, então desmoronou sobre a ala ao lado daquela em que Rony se encontrava.
— Rony! — berrou Harry, ao mesmo tempo que, em algum lugar, Hermione gritou e Harry ouviu um estrondo de objetos batendo no chão do outro lado da parede desestabilizada: ele apontou a varinha para o alto e gritou: — Finite ! — E a parede se firmou.
— Não! — gritou Malfoy, segurando o braço de Crabbe quando ele fez menção de repetir o feitiço. — Se você desmontar a sala, talvez enterre o tal diadema!
— E daí? — retrucou Crabbe, se desvencilhando. — É o Potter que o Lorde das Trevas quer, quem se importa com um dia-D?
— Potter entrou aqui para apanhá-lo — replicou Malfoy, mal disfarçando a impaciência com o retardamento dos colegas —, então deve significar...
— Deve significar? — Crabbe se voltou para Malfoy, com visível ferocidade. — Quem se importa com o que você pensa? Não recebo mais ordens suas, Draco . Você e seu pai já eram.
— Harry? — tornou Rony a chamar do outro lado da parede de quinquilharias. — Que está acontecendo?
— Harry? — arremedou-o Crabbe. — Que está... não , Potter! Crucio! Harry mergulhara para pegar a tiara; o feitiço de Crabbe não o acertou, mas bateu no busto de pedra, que foi projetado no ar; o diadema pairou no alto e caiu, desaparecendo na massa de objetos em que o busto estivera apoiado.
— PARE! — gritou Malfoy para Crabbe, sua voz ecoando pela enorme sala. — O Lorde das Trevas quer ele vivo...
— Então? Eu não estou matando ele, estou? — berrou Crabbe, empurrando o braço de Malfoy que o tolhia —, mas, se eu puder, é o que farei, o Lorde das Trevas quer ele morto mesmo, qual é a dif... ?
Um jato de luz vermelha passou a centímetros de Harry: Hermione tinha contornado o canto por trás dele e lançado um Feitiço Estuporante direto na cabeça de Crabbe. Errou apenas porque Malfoy tirou o colega do caminho.
— É aquela sangue-ruim! Avada Kedavra !
Harry viu Hermione mergulhar para um lado, e sua fúria ao ver que Crabbe quisera matá-la apagou todo o resto de sua mente. Ele lançou um Feitiço Estuporante em Crabbe, que se arremessou para longe derrubando a varinha da mão de Malfoy; o objeto desapareceu sob uma montanha de caixas e móveis quebrados.
— Não o mate! NÃO O MATE! — urrou Malfoy para Crabbe e Goyle, que miravam em Harry: a fração de segundo de hesitação foi só o que Harry precisou.
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