Harry não esperou para ver Slughorn tartamudeando; ele e Luna correram atrás da professora McGonagall, que tomara posição de varinha erguida no meio do corredor.
— Piertotum ... ah, pelo amor de Deus, Filch, agora não.
O zelador idoso acabara de surgir, mancando e aos gritos:
— Os alunos se levantaram! Os alunos estão nos corredores!
— É onde deveriam estar, seu rematado idiota! — gritou McGonagall. — Agora vá se ocupar com alguma coisa construtiva! Procure o Pirraça!
— P-Pirraça? — gaguejou Filch, como se nunca tivesse ouvido esse nome.
— Pirraça , sim, seu parvo, Pirraça ! Você não se queixa dele há um quarto de século? Vá buscá-lo, imediatamente!
Filch evidentemente achou que a professora McGonagall tivesse perdido o juízo, mas afastou-se mancando, os ombros curvados, resmungando com seus botões.
— E agora: Piertotum locomotor ! — exclamou ela.
E por todo o corredor, as estátuas e armaduras saltaram dos seus pedestais, e, pelo eco fragoroso nos andares abaixo e acima, Harry percebeu que as suas companheiras em todo o castelo tinham feito o mesmo.
— Hogwarts está ameaçada! — bradou a professora McGonagall. -Guarneçam os muros, nos protejam, cumpram o seu dever para com a nossa escola!
Com estrépitos e berros, a horda de estátuas em movimento passou por Harry como um estouro de boiada; algumas pequenas, outras enormes. Havia animais também, e as armaduras chocalhando brandiam espadas e manguais.
— Agora, Potter — disse McGonagall —, é melhor você e a srta. Lovegood voltarem para os seus amigos e trazê-los para o Salão Principal; vou acordar os outros alunos da Grifinória.
Eles se separaram no alto da escada seguinte: Harry e Luna correram de volta à entrada oculta da Sala Precisa. No trajeto, encontraram grandes grupos de alunos, a maioria usando capas de viagem por cima dos pijamas, escoltados por professores e monitores para o Salão Principal.
— Aquele era o Potter!
— Harry Potter!
— Era ele, juro, acabei de ver o Harry!
Harry, porém, não olhou para trás e, por fim, chegaram à entrada da Sala Precisa. O garoto se encostou na parede encantada que se abriu para admiti-los, e ele e Luna desceram correndo a escada íngreme.
— Qu...?
Quando avistaram a sala, Harry escorregou alguns degraus, assustado. Estava cheia, muito mais cheia de gente do que da última vez que tinha estado ali. Kingsley e Lupin olhavam para ele, e igualmente Olívio Wood, Cátia Bell, Angelina Johnson e Alicia Spinnet, Gui e Fleur, e o sr. e a sra. Weasley.
— Harry, que está acontecendo? — perguntou Lupin, indo ao seu encontro no pé da escada.
— Voldemort está a caminho, estão barricando a escola... Snape fugiu... que estão fazendo aqui? Como souberam?
— Enviamos mensagens a todo o resto da Armada de Dumbledore — explicou Fred. — Você não esperava que o pessoal fosse perder a festa, Harry, e a Armada de Dumbledore avisou a Ordem da Fênix, e a coisa virou uma bola de neve.
— Que vai ser primeiro, Harry? — perguntou Jorge. — Que está acontecendo?
— Estão evacuando os alunos menores, e todos vão se encontrar no Salão Principal para nos organizarmos — disse Harry. — Vamos lutar.
Ergueu-se um forte brado e uma onda de pessoas avançou para a escada; Harry foi empurrado contra a parede quando elas passaram apressadas, uma mistura de membros da Ordem da Fênix, da Armada de Dumbledore e da antiga equipe de quadribol de Harry, todas empunhando varinhas, em direção ao interior do castelo.
— Vamos, Luna — chamou Dino ao passar, estendendo-lhe a mão livre; ela segurou-a e acompanhou o amigo escada acima.
A multidão foi rareando: apenas um grupinho de pessoas permaneceu na Sala Precisa, e Harry se reuniu a elas. A sra. Weasley debatia-se com Gina. Em torno das duas, Lupin, Fred e Jorge, Gui e Fleur.
— Você é menor de idade! — gritava a sra. Weasley para a filha quando Harry se aproximou. — Não vou permitir! Os rapazes, sim, mas você tem que voltar para casa.
— Não vou voltar.
Os cabelos de Gina esvoaçavam enquanto ela tentava soltar o braço do aperto da mãe.
— Estou na Armada de Dumbledore...
— ...um bando de adolescentes!
— Um bando de adolescentes que está disposto a enfrentar ele, o que mais ninguém se atreveu a fazer! — replicou Fred.
— Ela tem dezesseis anos! — gritou a sra. Weasley. — Não tem idade suficiente! Que é que vocês dois tinham na cabeça quando a trouxeram junto...
Fred e Jorge pareceram um pouco envergonhados.
— Mamãe tem razão, Gina — disse Gui, delicadamente. — Você não pode lutar. Todos os menores de idade terão de se retirar, é o certo.
— Não posso ir para casa! — gritou Gina, lágrimas de raiva brilhando em seus olhos. — Toda a minha família está aqui, eu não suportaria ficar lá sozinha, esperando sem saber e...
Seus olhos encontraram os de Harry pela primeira vez. Ela o olhou suplicante, mas ele sacudiu a cabeça e a garota lhe deu as costas amargurada.
— Ótimo — disse, com os olhos na entrada do túnel para o Cabeça de Javali. — Vou dizer adeus então e...
Ouviram alguma coisa raspando e um forte baque: alguém mais saíra do túnel, desequilibrara-se um pouco e caíra. O homem se guindou para a cadeira mais próxima, olhou ao redor através dos óculos tortos e perguntou:
— Cheguei tarde demais? Já começou? Acabei de saber, então eu... eu...
Percy embatucou e se calou. Evidentemente, não tinha esperado topar com quase toda a família. Houve um longo momento de espanto, rompido por Fleur que se virou para Lupin e falou, em uma tentativa muito transparente de quebrar a tensão:
— Entam... come vai o pequene Tedí?
Lupin piscou os olhos, espantado. O silêncio entre os Weasley pareceu se solidificar, como gelo.
— Eu... ah, sim... está ótimo! — respondeu Lupin em voz alta. — É, a Tonks está com ele... na casa da mãe.
Percy e os outros Weasley continuavam a se encarar, paralisados.
— Olhe, tenho uma foto! — gritou Lupin, puxando uma foto do bolso interno do blusão e mostrando-a a Fleur e Harry, um bebezinho com um tufo de cabelos turquesa-berrante, acenando os punhos gorduchos para a máquina fotográfica.
— Fui um tolo! — bradou Percy, tão alto que Lupin quase deixou cair a foto. — Fui um idiota, um covarde pomposo, fui um... um...
— Cego pelo Ministério, um renegador da família, um debilóide sedento de poder — concluiu Fred.
Percy engoliu em seco.
— Fui tudo isso!
— Bem, você não poderia falar com maior justeza — disse Fred, estendendo a mão ao irmão.
A sra. Weasley caiu no choro. Avançou correndo, empurrou Fred para o lado e puxou Percy para um abraço de sufocar, enquanto ele retribuía com palmadinhas em suas costas, com os olhos no pai.
— Desculpe, papai — pediu Percy.
O sr. Weasley piscou rapidamente, então, ele também apressou-se a abraçar o filho.
— Que o fez tomar juízo, Perce? — perguntou Jorge.
— Eu já vinha tomando há algum tempo — respondeu ele, enxugando os olhos por baixo dos óculos com uma ponta da capa de viagem. — Mas precisava encontrar um modo de sair e não é fácil, no Ministério não param de prender traidores. Consegui fazer contato com Aberforth e ele me avisou faz dez minutos que Hogwarts ia resistir, então vim.
— Bem, esperamos que os nossos monitores assumam a liderança em momentos como esses — disse Jorge, em uma boa imitação do tom mais pomposo de Percy. — Agora vamos subir e lutar, ou não sobrará bons Comensais da Morte para nós.
— Então, você agora é minha cunhada? — perguntou Percy, apertando a mão de Fleur enquanto se apressavam a subir as escadas com Gui, Fred e Jorge.
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