— Entam, au revoir, sr. Olivarras — disse Fleur, beijando-o nas faces. -E serra que o senhorr poderria me fazerr o favorr de entrregarr esse embrrulho à tia de Gui, Murriel? Nunca lhe devolvi a tiarra.
— Será uma honra — disse Olivaras, com uma pequena reverência —, é o mínimo que posso fazer para retribuir sua generosa hospitalidade.
Fleur apanhou um estojo de veludo puído, que abriu para mostrar ao fabricante de varinhas. A tiara brilhava e cintilava à luz do candeeiro suspenso.
— Pedras da lua e diamante — disse Grampo, que entrara na sala sem que Harry percebesse. — Acho que feito por duendes, não?
— E pago por bruxos — disse Gui calmamente, e o duende lhe lançou um olhar ao mesmo tempo furtivo e desafiador.
Um vento forte fustigava as janelas do chalé quando Gui e Olivaras saíram noite afora. Os demais se espremeram em torno da mesa; cotovelo contra cotovelo, quase sem espaço para se mexer, começaram a jantar. O fogo estalava e saltava na grade da lareira ao lado deles. Fleur, Harry reparou, apenas ciscava a comida no prato; olhava para a janela a todo instante; contudo, Gui regressou antes de terminarem o primeiro prato, os cabelos embaraçados pelo vento.
— Correu tudo bem — disse a Fleur. — Olivaras está acomodado, mamãe e papai mandaram lembranças. Gina enviou carinhos a todos. Fred e Jorge estão fazendo Muriel subir pelas paredes, continuam operando um reembolso-coruja de um quarto nos fundos da casa. Ela ficou contente com a devolução da tiara. Disse que pensou que a tivéssemos roubado.
— Ah, ela é charmante, a sue tie — comentou Fleur indignada, acenando com a varinha e fazendo os pratos servidos se erguerem da mesa e formarem uma pilha no ar. Depois recolheu-os e saiu da sala.
— Papai fez uma tiara para mim — falou Luna. — Na realidade, foi mais uma coroa.
Rony surpreendeu o olhar de Harry e sorriu; Harry sabia que o amigo estava se lembrando daquele ridículo toucado que tinham visto na visita a Xenofílio.
— É, ele está tentando recriar o diadema perdido de Ravenclaw. Acha que já identificou a maioria dos elementos principais. Acrescentar as asas do gira-gira realmente fez diferença...
Ouviram, então, uma batida na porta da frente. Todas as cabeças se voltaram para o ruído. Fleur veio correndo da cozinha com ar assustado; Gui levantou-se de um salto, a varinha apontando para a porta. Harry, Rony e Hermione o imitaram. Silenciosamente, Grampo escorregou para baixo da mesa, se escondendo.
— Quem é? — perguntou Gui.
— Sou eu, Remo João Lupin! — respondeu uma voz sobrepondo-se ao uivo do vento. Harry sentiu um tremor de medo; que acontecera? — Sou um lobisomem, casado com Ninfadora Tonks, e você, o fiel do segredo do Chalé das Conchas, me informou o endereço e me pediu para vir se houvesse uma emergência!
— Lupin — murmurou Gui e, correndo à porta, abriu-a.
Lupin desabou na soleira. Estava muito pálido, envolto em uma capa de viagem, seus cabelos grisalhos despenteados pela ventania. Ele se ergueu, correu o olhar pela sala, verificando quem estava presente, então gritou:
— É um menino! Demos a ele o nome de Ted, em homenagem ao pai de Dora!
Hermione deu um gritinho.
— Qu... Tonks... Tonks teve o bebê?
— Teve, teve, teve o bebê! — gritou Lupin. Em volta da mesa ouviram-se gritos de alegria, suspiros de alívio. Hermione e Fleur guincharam:
— Parabéns! — E Rony exclamou:
— Caramba, um menino! — Como se nunca tivesse ouvido falar em tal coisa antes.
— É... é... um menino — repetiu Lupin, que parecia atordoado com a própria felicidade. E, contornando a mesa, abraçou Harry; a cena no porão do largo Grimmauld parecia jamais ter acontecido.
— Você será o padrinho? — perguntou, ao soltar o garoto.
— E-eu? — gaguejou Harry.
— Você, é claro... Dora está de acordo, ninguém melhor...
— Eu... é... caramba...
Harry se sentiu orgulhoso, espantado, encantado: agora Gui corria a buscar vinho e Fleur convencia Lupin a tomar uma taça com eles.
— Não posso me demorar, preciso voltar — disse Lupin, sorrindo para todos: parecia mais jovem do que Harry jamais o vira. — Obrigado, obrigado, Gui.
Logo Gui enchera as taças; todos se levantaram e as ergueram num brinde.
— A Teddy Remo Lupin — disse o pai —, um futuro grande bruxo!
— Com quam ele parrece? — indagou Fleur.
— Acho que parece com Dora, mas ela acha que é como eu. Pouco cabelo. Parecia preto quando nasceu, mas juro que virou ruivo desde então. Provavelmente estará louro quando eu voltar. Andrômeda diz que os cabelos de Tonks começaram a mudar de cor no dia em que ela nasceu. — Ele esvaziou a taça. — Ah, aceito, só mais uma — acrescentou, sorridente, quando Gui fez menção de tornar a servi-lo.
O vento açoitava o pequeno chalé, e o fogo saltava e estalava, e logo Gui estava abrindo uma segunda garrafa de vinho. As notícias de Lupin pareciam ter feito todos se descontraírem, tirou-os por uns momentos do seu estado de sítio: notícias de uma vida nova eram animadoras. Somente o duende parecia insensível ao clima subitamente festivo, e, após algum tempo, voltou discretamente para o quarto, que, agora, ocupava sozinho. Harry pensou que tivesse sido o único a notar, até ver o olhar de Gui acompanhando o duende subir a escada.
— Não... não... eu realmente preciso voltar — disse Lupin, por fim, agradecendo mais uma taça de vinho. Levantou-se, vestiu a capa de viagem. — Tchau, tchau... vou tentar trazer umas fotos dentro de alguns dias... todos ficarão muito contentes quando souberem que estive com vocês...
Ele abotoou a capa e se despediu, abraçando as mulheres e apertando as mãos dos homens, então, ainda sorrindo, voltou para a noite tempestuosa.
— Padrinho, Harry! — exclamou Gui, quando voltavam juntos para a cozinha, ajudando a tirar a mesa. — Uma verdadeira honra! Parabéns!
Quando Harry pousou as taças vazias que trazia, Gui fechou a porta ao passar, isolando as vozes ainda loquazes que continuavam a comemoração, mesmo na ausência de Lupin.
— Eu queria mesmo dar uma palavrinha com você em particular, Harry. Não tem sido fácil arranjar uma oportunidade com o chalé tão cheio de gente.
Gui hesitou.
— Harry, você está planejando alguma coisa com Grampo.
Era uma afirmação, não uma pergunta, e Harry não se deu o trabalho de negar. Apenas olhou para Gui, e aguardou.
— Eu conheço duendes. Trabalhei no Gringotes desde que terminei Hogwarts. Até onde possa haver amizade entre bruxos e duendes, tenho amigos duendes, ou pelo menos, duendes que conheço bem e de quem gosto. — Mais uma vez, ele hesitou. — Harry, que está querendo do Grampo e o que lhe prometeu em pagamento?
— Não posso lhe dizer. Desculpe, Gui.
A porta da cozinha abriu-se às costas deles. Fleur vinha trazendo mais taças vazias.
— Espere — disse-lhe Gui. — Um instante. Ela retrocedeu e tornou a fechar a porta.
— Então, preciso lhe dizer o seguinte: se você fez algum negócio com Grampo, e, muito particularmente, se esse negócio envolver tesouros, você precisa ter excepcional cautela. As idéias que duendes têm de posse, pagamento e retribuição não são as mesmas que as dos humanos.
Harry sentiu um leve mal-estar, como se uma cobrinha tivesse despertado em seu íntimo.
— Que está querendo dizer?
— Estamos lidando com uma raça diferente. Os negócios entre bruxos e duendes há séculos têm sido desgastantes: mas você aprendeu isso em História da Magia. Tem havido erros de ambas as partes. Eu jamais diria que os bruxos foram inocentes. Entretanto, há uma crença entre os duendes, e os de Gringotes são mais influenciados por ela, de que não se pode confiar nos bruxos em questões de ouro e tesouros, de que eles não respeitam o direito de propriedade dos duendes.
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