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George Martin: A Fúria dos Reis

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George Martin A Fúria dos Reis

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O céu apresentava-se cinza-claro, e fumaça redemoinhava por todo lado. Estavam à sombra da Primeira Fortaleza, ou do que dela restava. Um dos lados do edifício tinha se desligado do resto e ruíra. Pedras e gárgulas estilhaçadas estavam espalhadas pelo pátio. Caíram bem onde eu caí , Bran pensou quando as viu. Algumas das gárgulas tinham se quebrado em tantos pedaços que perguntou a si mesmo como teria sobrevivido. Ali perto, um punhado de corvos bicava um cadáver esmagado sob as pedras caídas, mas o homem jazia de barriga para baixo, e Bran não conseguiu identificá-lo.

A Primeira Fortaleza não era usada havia muitas centenas de anos, mas agora era uma casca mais vazia do que nunca. Os pisos tinham ardido no interior, bem como todas as vigas. Onde a parede caíra, era possível ver o interior de todos os quartos, e até a latrina. Mas, por trás, a torre quebrada ainda se erguia, tão queimada como antes. Jojen Reed tossiu por causa da fumaça.

– Leve-me para casa! – Rickon insistiu. – Eu quero ir para casa ! – Hodor descreveu um círculo, batendo com os pés no chão.

– Hodor – lamuriou-se em voz baixa. Os seis juntavam-se uns aos outros, com ruína e morte por toda volta.

– Fizemos barulho suficiente para acordar um dragão – Osha disse –, mas ninguém veio. O castelo está morto e queimado, bem como Bran sonhou, mas era melhor… – interrompeu-se de súbito ao ouvir um som atrás deles, e girou sobre si mesma, com a lança preparada.

Duas esguias formas escuras emergiram por detrás da torre quebrada, caminhando lentamente através dos detritos. Rickon soltou um grito feliz de “ Felpudo! ”, e o gigante lobo negro aproximou-se dele aos saltos. Verão avançou mais devagar, esfregou a cabeça no braço de Bran, e lambeu-lhe o rosto.

– Devíamos partir – Jojen os interrompeu. – Tanta morte atrairá outros lobos, além de Verão e Cão Felpudo, e nem todos terão quatro patas.

– Sim, e depressa – Osha concordou. – Mas precisamos de comida, e alguém pode ter sobrevivido a isto. Fiquem juntos. Meera, continue com o escudo levantado e guarde nossas costas.

Levaram o resto da manhã fazendo um lento circuito pelo castelo. As grandes muralhas de granito resistiam, enegrecidas aqui e ali pelo fogo, mas, fora isso, intocadas. Dentro delas tudo era morte e destruição. As portas do Grande Salão estavam carbonizadas e em brasa, e, lá dentro, as traves tinham cedido e o teto inteiro despedaçara-se no chão. As vidraças verdes e amarelas dos jardins de vidro estavam em cacos, com árvores, frutos e flores arrancados ou deixados expostos para morrer. Dos estábulos, feitos de madeira e sapé, nada restava além de cinzas, brasas e cavalos mortos. Bran pensou em sua Dançarina e teve vontade de chorar. Havia um lago fumegante e raso sob a Torre da Biblioteca, e água quente jorrava de uma rachadura numa das paredes. A ponte entre a Torre Sineira e a colônia de corvos tinha ruído sobre o pátio, embaixo, e o torreão do Meistre Luwin desaparecera. Viram um clarão vermelho brilhar através das estreitas janelas do porão sob a Grande Fortaleza, e um segundo incêndio ainda ardendo num dos armazéns.

À medida que avançavam, Osha foi chamando em voz baixa através da fumaça que era soprada pelo vento, mas ninguém respondeu. Viram um cão atacando um cadáver, mas o animal fugiu quando sentiu o cheiro dos lobos gigantes; os outros cães tinham sido mortos nos canis. Os corvos do meistre mostravam-se atenciosos para com alguns dos cadáveres, enquanto os da torre quebrada tratavam de outros. Bran reconheceu Poxy Tym, apesar de alguém ter cortado seu rosto com uma machadada. Um cadáver carbonizado, caído à porta do esqueleto em cinzas do septo da mãe, estava sentado com os braços erguidos e as mãos cerradas em punhos duros e negros, como se pretendesse esmurrar quem quer que se atrevesse a se aproximar dele.

– Se os deuses forem bons – disse Osha numa voz baixa e zangada –, os Outros vão levar quem fez este trabalho.

– Foi Theon – Bran falou num tom escuro.

– Não. Veja – a selvagem apontou com a lança para o outro lado do pátio. – Aquele é um de seus homens de ferro. E ali está outro. E aquele é o cavalo de guerra do Greyjoy, está vendo? O preto com as flechas espetadas nele – avançou por entre os mortos, franzindo o cenho. – E ali está Lorren Negro – tinha sido golpeado de tal maneira que a barba parecia agora ter uma cor marrom-avermelhada. – Levou uns tantos com ele – Com o pé, Osha virou um dos outros cadáveres. – Aqui está um símbolo. Um homenzinho, todo encarnado.

– O homem esfolado do Forte do Pavor – Bran confirmou.

Verão uivou e afastou-se correndo.

– O bosque sagrado – Meera Reed correu atrás do lobo gigante, com o escudo e o tridente na mão. Os outros seguiram-na, abrindo caminho por entre fumaça e pedras caídas. O ar estava mais limpo sob as árvores. Alguns pinheiros nos limites do bosque tinham ficado chamuscados, mas, mais para o interior, o solo úmido e a madeira verde tinham derrotado as chamas.

– Há poder num bosque vivo – Jojen Reed disse, quase como se soubesse o que Bran estava pensando –, um poder tão forte quanto o fogo.

Na margem da lagoa negra, sob o abrigo da árvore-coração, Meistre Luwin jazia de bruços na terra. Um rastro de sangue serpenteava pelas folhas úmidas sobre as quais se arrastara. Verão encontrava-se a seu lado, e, a princípio, Bran pensou que o meistre estava morto, mas quando Meera lhe tocou na garganta, ele gemeu.

– Hodor? – disse Hodor em tom fúnebre. – Hodor?

Com delicadeza, viraram Luwin de costas. Tinha olhos e cabelos cinzentos, e um dia suas vestes também tinham sido cinzentas, mas agora estavam mais escuras onde o sangue as ensopara.

– Bran – ele disse em voz baixa quando o viu sentado bem alto nas costas de Hodor. – E Rickon também – sorriu. – Os deuses são bons. Eu sabia…

– Sabia? – Bran perguntou, com voz incerta.

– As pernas, conseguia-se ver… a roupa servia-lhe, mas os músculos nas pernas… pobre moço… – tossiu, e sangue veio de seu interior. – Desapareceram… na floresta… mas como?

– Não chegamos a ir – Bran respondeu. – Bem, fomos só até o limite da floresta, e depois voltamos. Mandei os lobos em frente para deixar um rastro, mas nos escondemos na sepultura do meu pai.

– As criptas – Luwin soltou um risinho, com uma espuma ensanguentada nos lábios. Quando o meistre tentou se mover, soltou um vivo arquejo de dor.

Lágrimas encheram os olhos de Bran. Quando um homem estava ferido, era levado a um meistre, mas o que se podia fazer quando era o meistre quem estava ferido?

– Vamos ter de fazer uma liteira para levá-lo – Osha disse.

– Não vale a pena – Luwin respondeu. – Estou morrendo, mulher.

– Não pode – Rickon quase gritou, zangado. – Não, não pode – ao seu lado, Cão Felpudo mostrou os dentes e rosnou.

O meistre sorriu.

– Caladinho, filho, eu sou muito mais velho do que você. Posso… morrer se quiser.

– Hodor, para baixo – Bran pediu. Hodor se ajoelhou ao lado do meistre.

– Escute – Luwin se dirigiu a Osha –, os príncipes… herdeiros de Robb. Não… juntos, não… está ouvindo?

A selvagem apoiou-se na lança.

– Sim. É mais seguro separados. Mas levá-los para onde? Tinha pensado que talvez aqueles Cerwyn…

Meistre Luwin balançou a cabeça, embora fosse fácil ver que o esforço lhe era penoso.

– O rapaz Cerwyn está morto. Sor Rodrik, Leobald Tallhart, a Senhora Hornwood… todos mortos. Bosque Profundo caiu, Fosso Cailin, em breve a Praça de Torrhen. Homens de ferro na Costa Pedregosa. E a leste o Bastardo de Bolton.

– Então, para onde? – Osha perguntou.

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