- Não é mais triste do que ficar no quarto de hospital dele – Rose disse.
Avery queria que o lugar se conectasse a ela, queria sentir algo por ele para depois tentar decidir o que deveria fazer em seguida.
Quando eles entraram, O’Malley estava no telefone, discutindo detalhes de vigilância para os apartamentos de Ramirez e Avery. Eles haviam sido cuidadosos para não serem seguidos no caminho, mas nem por isso queriam dar brecha ao azar.
Quando Avery colocou sua mala no chão da sala de Ramirez, O’Malley encerrou a ligação. Ele esperou um momento, respirou fundo, e olhou pela janela. Lá embaixo, as ruas estavam um pouco menos cheias do que quando Avery e Rose haviam curtido o vinho e uma boa conversa. Além disso, depois de ter um gato morto entrado por sua janela, a rua parecia mais sinistra também.
- Então é o seguinte – O’Malley disse. – Nos próximos três dias, você vai ter constantemente alguém aqui vigiando, estacionado na rua. Vão ser carros à paisana, mas sempre membros do A1.
- Não é necessário – Avery disse. Ela estava começando a achar que as coisas estavam saindo do controle.
- Acho que é sim – ele respondeu. – Você viveu uma espécie de solidão nessa situação toda nos últimos dias. E as coisas pioraram. Temos certos vigilantes na rua procurando Randall. As pessoas estão começando a ir fundo nessa história e estão te encontrando nela.
Vá logo e acabe com isso, ela pensou. Eles vão me encontrar na história como a advogada que conseguiu liberta-lo—liberdade essa que ele usou para matar mais uma pessoa. É isso o que você está querendo dizer.
Mas ele não disse. Ao invés disso, continuou a olhar pela porta.
- Os dois primeiros vão ser Sawyer e Dennison. Eles vão chegar em cerca de meia hora. Até lá... Parece que seremos eu e Finley.
Rose olhou para os dois policiais e depois para sua mãe.
- Isso.. é tão perigoso assim? Precisamos de proteção?
- Não – Avery respondeu. – É um pouco de exagero.
- É para a proteção de sua mãe. E a sua também. Dependendo de quem esteja por trás do assassinato com a pistola de pregos e o arremesso do tijolo e do gato, você pode estar em perigo também. Depende do tamanho do desejo de vingança que essa pessoa tem contra sua mãe.
- Vamos baixar um pouco o tom dramático – Avery disse, com raiva na voz. – Eu gostaria muito que você não assustasse minha filha.
Qualquer esperança de uma noite de garotas tranquila fora por água abaixo. Quando O’Malley e Finley saíram, o apartamento ficou em silêncio. Rose havia se jogado no sofá de Ramirez. Ela estava viajando em linhas do tempo de redes sociais e mandando e recebendo mensagens de suas amigas.
- Acho que você sabe que não é para contar para ninguém o que aconteceu – Avery disse.
- Eu sei – Rose respondeu, um pouco ressentida. – Ei, e o pai? Devemos contar para ele?
Avery pensou naquilo por um momento, colocando as opções na balança. Se fosse só por ela, não haveria dúvida. Não havia necessidade de Jack saber. Mas com Rose envolvida, as coisas mudavam. Ainda assim... era arriscado.
- Não – Avery respondeu. – Ainda não.
Rose apenas assentiu timidamente em resposta.
- Rose, não sei o que te dizer. Isso é chato. Sim. Eu concordo. Uma droga. E sinto por você ter que lidar com isso. Também não é como se fosse um piquenique para mim.
- Eu sei – Rose disse, deixando o telefone de lado e olhando sua mãe nos olhos. – Não estou nem triste com o inconveniente. Não é isso. Mãe... Eu não tinha ideia de que as coisas estavam perigosas assim para você. É sempre assim?
Avery soltou uma risada sufocada.
- Não, nem sempre. É só porque essa coisa com Howard Randall faz todo mundo ficar alerta. Uma cidade inteira está com medo e eles precisam culpar alguém enquanto buscam respostas e um jeito de se sentirem seguros.
- Me responda diretamente, mãe: nós vamos ficar bem?
- Sim, acho que sim.
- Sério? Então quem jogou aquele tijolo? Foi Howard Randall?
- Não sei. Mas pessoalmente, eu duvido.
- Mas tem algo... estranho entre vocês dois, certo?
- Rose...
- Não, eu quero saber. Como você pode ter tanta certeza?
Avery não via razão para mentir para a filha ou deixa-la sem informações—especialmente agora que ela era aparentemente parte da história.
- Porque um gato morto pela janela é muito óbvio. É muito chamativo. E apesar do que dizem os métodos dos assassinatos dele, Howard Randall não faria isso. Um gato morto... é quase cômico. E falando com ele como advogada e como detetive... não é algo que ele faria. Você tem que acreditar em mim nessa, Rose.
Avery olhou pela janela para o Ford Focus preto que viu três andares abaixo, estacionado no fim da rua. Ela podia ver a forma básica do ombro esquerdo de Dennison no banco do motorista. Sawyer estaria ao lado dele, provavelmente comendo sementes de girassol, algo pelo qual ele era conhecido.
Pensando no tijolo e no gato, Avery começou a viajar por seu passado. Entre sua carreira como advogada e os poucos anos que passara como detetive, a lista de nomes e rostos em sua mente era longa. Ela tentou pensar em quem mais poderia ter um motivo para arremessar o tijolo e o gato em sua janela, mas havia muitos rostos, muitas histórias.
Deus, poderia ter sido qualquer um...
Ela virou-se para o aparamento e tentou imaginar a última vez em que Ramirez estivera ali. Caminhou devagar pela sala e pela cozinha, já tendo estado lá antes, mas vendo tudo como novo. Era um lugar pequeno, mas bem decorado. Tudo era limpo e organizado, com cada item tendo um lugar designado. A geladeira era decorada com muitas fotos e postais, a maioria de familiares. Avery nunca os conhecera, mas ouvia falar sobre eles às vezes.
Quantos deles sabem do que aconteceu? Ela imaginou. Durante seu tempo no hospital, apenas dois familiares haviam a visitado. Ela sabia que a família de Ramirez não era muito próxima, mas o fato da família dele não ter vindo visita-lo lhe parecia triste—mesmo sabendo que o mesmo aconteceria com ela.
Avery virou as costas para a geladeira, de repente não querendo mais ver as imagens coladas ali. Na sala, havia fotos da vida de Ramirez espalhadas: uma dele e de Finley em um passeio, jogando; uma foto de Ramirez ultrapassando a linha final de uma maratona; uma foto dele com sua irmã quando eram bem mais jovens, pescando.
- Não consigo – ela disse, em voz baixa.
Virou-se para Rose, esperando que a filha não tivesse escutado.
O que Avery viu foi Rose dormindo no sofá. Aparentemente, ela havia adormecido enquanto Avery olhava as fotografias. Avery olhou sua filha por um momento, sentindo os primeiros sintomas da culpa. Rose não tinha porque estar ali, envolvida em toda a história.
Talvez ela estivesse melhor longe disso tudo se eu não tivesse tentado ajeitar as coisas com ela, Avery pensou.
Não era só um pensamento de mea-culpa. Ela acreditava mesmo naquilo às vezes. E agora, com as duas sendo vigiadas e pessoas a ameaçando por pecados do passado, tudo estava pior.
Talvez eu não esteja sendo ameaçado por pecados do meu passado, ela pensou. Talvez seja mesmo Howard. Talvez ele enlouqueceu de um jeito que eu não pude prever.
Avery imaginou que, se estivesse fazendo seu trabalho corretamente, não poderia simplesmente eliminar a possibilidade de Howard Randall ter matado a pobre garota com a pistola e, na noite seguinte, arremessado um gato morto com uma mensagem ameaçadora em sua janela. Ela não tinha evidências para provar que ele não havia feito isso, portanto, logicamente, ele era um suspeito.
Sou muito próxima dele, Avery pensou. Conheço ele de um jeito que me faz coloca-lo em um pedestal estranho. Ele fez isso intencionalmente?
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